Woody Allen lança, ao menos, de um a dois filmes por ano e isso acontece desde os anos setenta. De lá para cá o realizador lançou diversos altos e baixos, assim como também enfrentou uma série de polêmicas de sua vida pessoal que quase enterraram a sua carreira. Polémicas à parte, os filmes do realizador sempre me atraíram pelo fato dele usar praticamente o mesmo tipo de personagem, mas que se vê envolvido em tramas diferentes.
Nos anos noventa, por exemplo, foram doze filmes ao todo, sendo que o último foi "Trapaceiros" (2000) e do qual foi uma espécie de encerramento de círculo, pois o realizador somente fazia a maioria dos seus filmes na cidade de Nova York. A partir de 2001 Allen começou uma encruzilhada pelo mundo e lançando títulos incomuns como "Meia Noite em Paris" (2011) e do qual se tornou o seu maior sucesso na carreira. O motivo pelo qual ele tenha decidido filmar pelo mundo talvez se encontre exatamente em "Trapaceiros".
Na trama, Allen é um lavador de pratos que tem um grande plano: alugar uma loja ao lado do banco e utilizá-la como fachada para construir um túnel subterrâneo para assaltá-lo. Para tanto Ray logo consegue a ajuda de seus companheiros Danny (Michael Rapaport) e Tommy (Tony Darrow), que aceitam dividir os gastos com o aluguel da loja, mas enfrenta a resistência de Frenchy (Tracey Ullman), sua esposa, que se recusa a ajudá-lo em mais um plano. Porém, ela aceita a proposta e começa a vender bolinhos e biscoitos na loja, mas o que era para ser uma fachada acaba se tornando um grande sucesso.
Para aqueles habituados à filmografia do diretor se percebe que há aqui os mesmos ingredientes de sempre, como o protagonista quase esquizofrênico e que sempre anseia em colocar o seu ponto de vista acima de tudo. Aqui no caso Allen usa o velho pensamento de que "dinheiro não é tudo" para se criar uma trama em que sintetiza o fato que a felicidade se encontra nas pequenas coisas do dia a dia, desde em apreciar o pôr do sol, como também na possibilidade de se arriscar e cometer certos delitos. Uma vez que a riqueza vem para o casal central se percebe que as coisas não melhoram, onde ambos acabam percebendo que possuem vidas vazias a partir do momento que possuem recursos para obter tudo, mas ao mesmo tempo nada.
Vale destacar a participação de Hugh Grant como um empresário interesseiro, sendo que esse tipo de personagem ele retornaria no grande sucesso "O Diário de Bridget Jones" (2001) e largando por um tempo os papéis de bom moço. Lembrando que nesta época Allen já estava ensaiando a possibilidade de abandonar o protagonismo dos seus filmes e se focar somente por trás das câmeras, sendo que isso já estava acontecendo a partir de "Celebridades" (1998). Outro fator interessante é que, olhando para trás, "Trapaceiros" foi um dos últimos filmes realizados pelo diretor antes do 11 de Setembro, sendo que aquele dia que marcou o mundo talvez tenha mudado o foco do diretor a partir daquele momento.
Curiosamente, o seu personagem deste filme é sempre persuadido pela sua esposa na possibilidade de viajar para outros lugares pelo mundo. Tudo indica que o próprio Allen talvez tenha sido convencido a mudar de novos ares e o ataque terrorista contra a sua cidade favorita tenha o convencido em abraçar de vez essa ideia. Ao ver esse filme percebo uma espécie de encerramento de Woody Allen mais inocente e experimentando novos cenários um tanto que mais sérios ao redor do mundo como foi visto em "Ponto Final - Match Point" (2005).
Enfim, "Trapaceiros" não está entre os melhores filmes de Woody Allen, mas que revendo hoje serve como uma espécie de prelúdio com relação ao que ele iria experimentar no novo século que estava chegando.
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