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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 13 de junho de 2022

Cine Especial: Próximo Cine Debate - 'Zorba: O Grego'

Sinopse: Viajando para inspecionar uma mina abandonada em Creta que pertence ao seu pai, o autor inglês Basil encontra Zorba, um camponês exuberante que alega ter experiência em mineração.   

Anthony Quinn criou uma carreira de respeito e que impressiona até hoje, principalmente por ter adquirido fama em território hollywoodiano e cujo o mesmo não escondia preconceito com relação aos atores não americanos. De origem mexicana, mas criado nos EUA, Quinn começou a carreira como ator nos anos quarenta, porém, em qualidade que vistas hoje soam duvidosas, atuando em filmes que, absurdamente, fazia um índio ou mexicano de acordo com a visão estereotipada que os americanos sempre tinham.  A coisas melhoraram a partir do início dos anos cinquenta, onde interpretou o irmão de Zapata, interpretado por Marlon Brando no filme "Viva Zapata! (1952) e que lhe rendeu o seu primeiro Oscar de ator coadjuvante.

Surpreendentemente, o ator repetiria o feito na premiação, ao levar o Oscar novamente de ator coadjuvante no filme "Sede de Viver" (1956), produção que conta um pouco sobre a vida de pintor Vincent Van Gogh e onde o interprete atuou em apenas oito minutos de cena, mas bastou para ser um dos grandes papeis de sua carreira. Antes disso, ele havia atuado no filme italiano "A Estrada da Vida" (1954) de Federico Fellini, onde provou a sua versatilidade e independente de qual era a origem da nacionalidade de seus personagens. Embora seja um personagem grego, Anthony Quinn, enfim, abraçou o melhor personagem de sua carreira em "Zorba: O Grego" (1964), onde o interprete e filme se fundem em um só para se revelar algo único.

Dirigido por Michael Cacoyannis, o filme conta a história de um escritor inglês chamado Basil (Alan Bates) que chega a Grécia e pega um navio, pois vai até Creta para trabalhar em uma mina que herdou do pai, um grego de nascença. Logo ele conhece Alexis Zorba (Anthony Quinn), um determinado camponês grego que também quer trabalhar na mina. Os dois acabam indo se hospedar em um pequeno hotel administrado por uma velha prostituta francesa (Lila Kedrova) que é cortejada por Zorba, que encoraja seu amigo escritor para dar atenção a uma bela viúva, que é muito desejada pelos homens do local. A mina necessita de alguns reparos, mas Zorba convence um grupo de monges que permita remover um pouco da madeira de uma floresta deles, que fica em uma montanha próxima e inventa um meio de transportá-la para a mina.

Baseado no romance homônimo de Nikos Kazantzakis, eu fui conhecer esse filme somente após o falecimento de Anthony Quinn em 3 de junho de 2001, sendo que no outro dia a Rede Globo exibiu esse clássico no Corujão em homenagem ao ator. Naquela época eu ainda não tinha exatamente um conhecimento do cinema mundial, sendo que eu era ainda um jovem e tinha somente como base o cinemão norte americano. Mesmo sendo uma co-produção entre EUA e Grécia, é notório que o diretor Michael Cacoyannis bebeu muito da fonte do Neorrealismo italiano e fazendo com que isso tivesse um maior impacto perante os meus olhos.

Com uma belíssima fotografia em preto e branco, o cineasta nos conduz até os personagens principais que, embora diferentes entre si, se tornam grandes amigos devido as suas personalidades distintas e da maneira como enxergam o mundo de acordo com as suas perspectivas. Enquanto o escritor Basil enxerga o mundo de acordo com o que lê nos seus livros, Zorba, por sua vez, enxerga a realidade de acordo com o que viveu em suas jornadas, das quais conviveu com altos e baixos, mas mantendo o bom humor através da dança que o reanima perante os obstáculos. Gradualmente vamos conhecendo as origens de Zorba, mas isso é o que menos importa, já que cada marca do seu expressivo rosto nos diz que já há muita história a ser contada.

Sabendo do tesouro que tinha em mãos, Nikos Kazantzakis filma Anthony Quinn de uma forma com que cada cena fosse uma grande aparição, fazendo com que sua presença enchesse a tela e fazendo com que o seu olhar falasse mais do que meras palavras. A melhor atuação de toda a sua carreira sem dúvida, onde carrega o filme nas costas durante boa parte do tempo, mas não significa que ele esteja sozinho. Se Alan Bates constrói mudanças genuínas na personalidade do escritor inglês de forma gradual, por outro lado, Lila Kedrova explode desde a sua primeira cena, ao interpretar um personagem que transita entre ser uma sonhadora solitária, por vezes quase insana, mas que desejamos que ela consiga a sua redenção nos braços de Zorba. Infelizmente as coisas não acontecem conforme o planejado para os personagens centrais, principalmente pelo fato de a cidade de Greta ser moldada pelo conservadorismo religioso e pelos velhos costumes que se tornam até mesmo assustadores perante os nossos olhos.

Neste último caso, há quase uma sensação de pequeno governo totalitário fundamentalista na vida daqueles habitantes, sendo que uma viúva, interpretada pela atriz grega Irène Papas, se torna o principal alvo daquele local e protagonizando um dos momentos mais sombrios da obra como um todo. Após isso, nem o aventureiro como Zorba, ou um conhecedor através dos livros como o escritor inglês, tem uma resposta sobre onde vem os atos animalescos do ser humano e o que resta é seguirem em frente com os seus objetivos com relação a mina.

Neste último caso, quando tudo parece que dá somente errado, não resta mais nada para os personagens centrais, a não ser se entregarem a dança para se sentirem vivos. Aliás, a cena se tornou emblematicamente clássica, sendo que até alguns se perguntam como ela havia sido feita, já que Quinn havia quebrado o pé durante as filmagens, mas felizmente conseguiu protagonizar um dos ápices da história do cinema. Ao meu ver, o personagem e interprete se tornaram uma só criatura e levando consigo muitas histórias a serem contadas.

Vencedor de três Oscar,  "Zorba: O Grego" é um grande clássico que nos diz para dançar após um grande tropeço, pois nada melhor na vida do que termos a grande chance de nos levantarmos. 


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5 comentários:

Emília disse...

Marcelo, adoro este filme e amanhã será uma grande noite para dialogar sobre ele.

Marcelo Castro Moraes disse...

Valeu Emília. Até a noite.

Anônimo disse...

Brilhante resenha! Parabéns!

Anônimo disse...

Seu comentário sobre "Zorba, o Grego" me deixou ao tanto. Ela é dessas obras com aquela fama que as precedem. Em outras palavras -
obrigado, fiquei sabendo

Marcelo Castro Moraes disse...

Valeu. Continue acompanhando