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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 2 de maio de 2019

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre: ‘3 Faces’ - Entre a Opressão e a Sensatez

Nota: obra será exibida para associados no próximo dia 05/05/19 na Casa de Cultura Mario Quintana.   
Sinopse: Cineasta e famosa atriz iraniana recebe um vídeo perturbador de uma garota implorando por ajuda para escapar de sua família conservadora.  

Devido a uma insana perseguição política, Jafar Panahi passou nos últimos anos a viver em prisão domiciliar e proibido de filmar durante vinte anos no Irã. Contudo, isso não o impediu de trabalhar, pois graças a sua genialidade, ele obteve o feito de lançar para o exterior “Isso Não é Um Filme” (2011) e posteriormente “Taxi de Teerã” (2015), onde ambos os casos são obras que transitam entre o “cinema verdade” e ficção e obtendo o feito de falar sobre o próprio Irã atual. É aí que chegamos ao seu último filme, “3 Faces”, do qual as amarras judiciais não o impedem de falar novamente sobre aquele país e do papel das pessoas que lutam pelos seus objetivos em meio a opressão.  
Dirigido e atuado pelo próprio Jafar Panahi, o filme começa com uma jovem atriz filmando a si própria e implorando ajuda, mas que acaba (aparentemente) cometendo suicídio. O vídeo foi enviado para o cineasta que, por sua vez, atendeu o pedido da jovem que era pedir ajuda para atriz famosa do Irã Behnaz Jafari. Ambos, então, partem para o possível vilarejo onde a jovem pode estar, mas se deparam com uma realidade totalmente diferente do que eles poderiam imaginar.   
Se no seu último filme, “Taxi de Teerã”, o cineasta já dava sinais de dar um espaço maior para a elaboração de uma história mais fictícia, aqui o lado documental fica em segundo plano, pois percebesse que estamos diante de uma ficção. Contudo, o “cinema verdade” sempre retorna no seu devido tempo, principalmente quando a dupla principal começa adentrar os vilarejos onde a garota possa estar e revelando a real face atual daquela região. Uma vez que a dupla central da trama dá de encontro com essa realidade, nos damos conta que há ali uma sociedade dividida, da qual tentam manter as velhas tradições conservadoras, mas das quais não são exatamente fortes o suficiente para mudar o desejo de uma nova geração em querer obter a sua cruzada pessoal pela vida.   
Além de criar uma narrativa que remete as suas obras anteriores, Jafar Panahi  também presta uma homenagem a outros clássicos do país, em especial aos que foram criados pelo seu mentor, o cineasta Abbas Kiarostami e que fez filmes reconhecidos mundialmente como, por exemplo, "Closep Up" (1990). Se por um lado Panahi elaborou tramas onde se passava na cidade grande, aqui, ele opta em adentrar os vilarejos do país e fazendo com que a gente se lembrasse dos primeiros grandes clássicos de Kiarostami como, por exemplo, "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" (1987). Se alguém ainda tem dúvidas que Jafar Panahi está prestando uma homenagem ao Kiarostami, basta testemunharmos a curiosa cena de uma senhora dentro de uma cova e nos fazer lembrar rapidamente do filme "O Gosto de Cereja" (1997). 
Mas, independentemente das homenagens, estamos diante de um filme em que toca nas questões já abordadas na filmografia de Jafar Panahi, como no caso sobre a veracidade de uma determinada cena e sobre até que ponto ela pode ser verídica. No seu clássico "O Espelho" (1997), por exemplo, testemunhamos a jovem protagonista abandonando o seu papel, revelando somente atriz na frente das câmeras e desejando voltar para casa. Embora o primeiro ato de "3 Faces" nos deixe claro que estamos diante de uma ficção, não deixa de ser curioso sobre a maneira de como o cineasta gosta de mexer sobre a veracidade ou não de sua própria obra autoral e fazendo a gente realmente questionar sobre o que está acontecendo na tela. 
Do segundo ato em diante, as revelações vêm à tona, porém, não significa também que haja uma solução rápida, mas sim fazendo a dupla principal da trama se perguntar sobre quais são os seus reais papeis perante uma situação, por vezes, absurda. Atriz Behnaz Jafari (sendo ela mesma), transita entre a tristeza e fúria perante uma situação em que, talvez, ela não quisesse realmente se envolver. Porém, uma vez que ela começa se interagir com aquela realidade, da qual fazia tempo em que ela não participava, faz com que ela abrace uma possibilidade em que ela pode sim fazer a diferença.  
Aliás, é notório que Jafar Panahi faça um discurso nas entrelinhas, não somente com relação a política autoritária do Irã, como também com relação a uma sociedade dividida entre o saber e as velhas tradições.  Entre a opressão e o diálogo, há sempre a persuasão de outros para que os próprios protagonistas venham de desistir. Porém, a cena de um boi adoentado no meio da estrada, simboliza uma sociedade que requer ajuda sempre do próximo, mesmo quando outros lhe dizem ao contrário.  
"3 Faces", não é só um dos melhores filmes de Jafar Panahi, como também simboliza o cinema da resistência do Irã dos últimos trinta anos e do qual retratou o melhor e pior daquele povo.   


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