Sinopse: Deusimar é a dona do Inferninho, bar que é um refúgio de sonhos e fantasias. Ela quer deixar tudo para trás e ir embora, para um lugar distante. Jarbas, o marinheiro que acaba de chegar, sonha em ancorar e fincar raízes. O amor que nasce entre os dois vai transformar por completo o cotidiano do bar.
No recente "Paraíso Perdido" (2018) acompanhamos uma família desajustada, porém, unida e que vive trabalhando em uma casa noturna. Embora com um certo verniz técnico, além da participação do Cantor Erasmo Carlos, o filme escancara um grupo de pessoas excluídas da sociedade, mas que lutam sempre por um lugar ao sol. Já “Inferninho” deixa ainda mais explicito esse grupo de pessoas esquecidas por Deus e alinhado a uma produção simplória, porém, feita com amor.
Dirigido por Guto Parente e Pedro Diógenes, do filme "Monstros" (2011), o filme acompanha a história de Deusimar (Yuri Yamamoto), dona de um bar noturno intitulado "Inferninho" e que serve de refúgio para as pessoas esquecerem um pouco do mundo. Certa noite surge Arbas (Démick Lopes), um marinheiro que parece fugir de algo e se envolve romanticamente com Deusimar. Porém, a sua chegada traz consigo sérios problemas e que pode desencadear mudanças irreversíveis naquele lugar.
Visualmente, o filme possui um clima claustrofóbico, pois a trama se passa quase sempre em um único ambiente sujo, desolador e nenhum pouco reconfortador. Porém, o local ganha vida através de personagens excêntricos, porém, carismáticos e dos quais simpatizamos com eles ao longo do tempo. Curiosamente, são personagens caracterizados com fantasias que nos soam familiares, dando a entender que são pessoas que se venderam a uma propaganda de sonhos, mas cuja a realidade se tornou bem ao contrário do que eles imaginavam.
Deusimar, por exemplo, vive com o sonho de sair daquele ambiente e com a chegada Arbas ela acaba se jogando por um desejo, por vezes, inverossímil. É nesses momentos, aliás, que os realizadores usam a sua criatividade e jogam os personagens em cenários imaginários e que sintetizam um desejo nunca alcançável. São momentos simplórios, vindos de uma produção de baixo custo, mas ricos em sua proposta principal e que engloba a obra como um todo.
Na medida que o filme avança, aqueles estranhos personagens se defrontam com a realidade vinda de fora e fazendo com que cada um deles revele uma nova faceta de sua pessoa. Não há como não se emocionar, por exemplo, com um discurso vindo do Coelho (Rafael Martins), cujo o momento surge em meio a uma situação crítica e que testa o limite de todos, inclusive de Deusimar. Curiosamente, os minutos finais nos trazem mais perguntas do que respostas sobre aquele microuniverso escondido em uma cidade qualquer, mas fazendo a gente desejar que a gente continuasse por lá para saber o que virá.
"Inferninho" é sobre os excluídos do Brasil atual, mas que sobrevivem em meio aos destroços de sonhos quase inalcançáveis.
Em Cartaz: Cinebancários. Rua Gêneral Câmara, nº 424, Centro Histórico de Porto Alegre. Sessões: 15hs e 19h.
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