Sinopse: Um dono de
livraria se encanta por uma mulher que visita sua loja e volta dia após dia
para cometer furtos. Inicialmente ele não reage, mas em uma das vezes, mais
interessado em puxar conversa do que recuperar o prejuízo, ele a encurrala. Ela
passa então a pegar livros em outros estabelecimentos, porém ele não está
disposto a se libertar da misteriosa obsessão.
Por mais tentador que
seja, roubar livros ainda é errado, mesmo quando as paginas nos dão a
oportunidade de fugirmos um pouco do mundo real e adentrarmos num mundo cheio
de possibilidades. Numa velha livraria, por exemplo, dá para sentir o desejo em
querer segurar velhas relíquias, mas despertando reações controversas.
Finalidade cultural que, por si só, quase desculpa o ato, ainda mais se for
praticado por jovem culta e bonita. Quem sabe um tanto cleptômana.
Numa realidade atual,
onde a pratica de leitura é ameaçada por tablets e celulares, é interessante
elaborar uma história de amor que acontece justamente numa livraria. Bom, um
livro desses, destinado a não ser lido, foi escrito pelo jovem escritor
guatemalteco, Rodrigo Rey Rosa. Porém, Severina (o título do livro), não só foi
lido como transformado em filme por outro visionário, o diretor de teatro e cineasta
Felipe Hirsch.
É verdade que
histórias de livros costumam gerar tanto bons (O Exorcista) como também filmes
ruins (O Código de Vinci), Contudo, é raro um filme ter livros como seus
principais figurantes e uma livraria como local dos principais acontecimentos
que vão surgindo na obra. Severina se passa numa cidade conhecida da América
latina, mas que poderia ter acontecido em qualquer parte do mundo, já que, por
mais absurda que a trama seja, nos identificamos devido a paixão que temos pela literatura.
Outro fator
determinante do qual nos identificamos com a trama é pelo fato da livraria nos
lembrar uma de muitas que ainda existem por ai e que resistem bravamente em
pleno século 21. É comum, por exemplo, irmos nesses lugares e ficarmos minutos
lendo diversas pagina de um determinado volume, mesmo quando não temos
interesse de comprarmos ele. Situação que podemos enxergar nesse filme, onde a
trama se passa em Realejo, em Santos.
Do nada, surge Ana
Severina que, bem discreta, rouba alguns livros, mas ao mesmo tempo,
transmitindo charme para o jovem livreiro protagonista da trama. Essa história
nos faz lembrar da Librairie Maspero, no Quartier Latin parisiense, onde os
jovens esquerdistas franceses e inclusive exilados brasileiros (era a época da
ditadura militar) roubavam livros para completar sua formação literária, social
e política.
O jovem livreiro
protagonista percebe os roubos, mas ao mesmo tempo, decide esperar uma nova
visita para um flagrante mais explicito, mas acaba caindo ao charme da
misteriosa colecionadora de livros roubados. Descobre que ela vive numa pensão
com o pai que, indeniza os livreiros por onde passa sua filha cleptômana. Na
verdade, parece que vivem da venda de livros raros. Cria-se uma cumplicidade,
um caso de amor, até Ana Severina desaparecer, sem ao menos deixar algum
vestígio e restando um livreiro desiludido, talvez com um bom tema para
escrever seu primeiro romance. E talvez com tempo para ler também Gabriel
Garcia Marquez, Jorge Amado e Manuel Scorza.
Um filme que começa
com uma espécie de comédia romântica familiar, mas que se envereda para
momentos de suspense e até mesmo para um clima noir. Severina é um filme que
começa nos dando gostinho pelo universo literário e nos prendendo até o fim
pelas suas palavras poéticas reflexivas.
Onde Assistir: Cinebancários de Porto Alegre. Rua General da Câmara, nº 424. Horário: 17h,
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