Sinopse: O filme, por meio
de uma abordagem documental, mostra o reencontro, depois de vinte e sete anos,
entre uma sobrinha, que é a própria diretora, e a sua tia, com quem não manteve
nenhum contato desde a sua infância. Sua tia se chama Luma, é travesti,
trabalha como cabeleireira e vive em São Paulo.
O documentário brasileiro
vem ganhando força cada vez maior nos últimos anos seja por questões sociais ou
políticas. Ao mesmo tempo, a transição entre ficção e realidade de determinados
projetos acabam se tornando mero detalhe, pois alguns títulos como, por
exemplo, Castanha e Branco Sai Preto Fica, obtém o feito de ter a nossa atenção
a cada minuto de projeção. Mais do que uma obra que levanta questões sobre a temática
LGBT, Quarto Camarim fala um pouco sobre o nosso Brasil atual, onde se encontra cada vez mais
sugado por um conservadorismo irracional, mas não conseguindo esconder a diversidade
que a tradicional família brasileira tem e que eles tentam esconder.
Dirigido pela dupla de
cineastas baianos Fabrício Ramos e Camele Queiroz (“Cruzes e Credos”; “Muros”),
acompanhamos a cruzada dessa última na tentativa de reencontrar a sua tia Luma
que, aos seis anos, ela havia conhecido como tio Roniel. Decidida a reencontrá-la,
Camele decide fazer um documentário a partir sobre o que conhece e querendo
entrevistar Luma. No principio Luma se recusa, porém, ela muda de ideia e
Camele parte para um projeto pessoal, familiar e que logo vai mudando conforme
o tempo vai passando.
Totalmente fora do convencional,
Camele não tem um roteiro pronto, mas somente a ideia de se reencontrar com a
sua tia que vai então crescendo. Portanto, não há aqui nenhuma encenação, ou tão
pouco um preparo para determinadas cenas, mas sim tudo é utilizado com que está
em mãos, assim como ação e reação da cineasta e sua tia que surge
posteriormente ao longo da projeção. Além disso, a obra nos pega desprevenidos
quando a tela fica preta, onde somente ouvimos a conversa pelo telefone entre tia
e sobrinha e tendo somente na tela letreiros sobre como a última se encontrava
quando estava conversando com ela.
O segundo e terceiro ato da
obra explora o reencontro dessas duas figuras distintas, mas que possuem uma
ligação forte, não somente pelo sangue, mas por terem personalidades fortes.
Curiosamente, Fabrício Ramos e Camele Queiroz fazem questão da câmera se
destacar em duas formas, tanto quando ela se encontra em movimento, como também
em cenas paradas em que somente foca a tia e sobrinha e tornando o cenário ao
redor como algo simbólico, como se cada peça do lar de Luma fizessem parte de
sua própria história. Gradualmente, se tem uma desconstrução entre ambas, onde
se é revelado suas dores, paixões, desejos e anseios com relação ao futuro e
sobre reencontros de pessoas as quais Luma, por exemplo, não as vê já faz um bom
tempo.
Mesmo com todas as suas limitações,
o documentário é hábil em falar sobre o próprio Brasil atual, mesmo somente com
apenas duas pessoas em cenas. Ambas demonstram possuir a cada momento um enorme
talento, mas que poderiam ir ainda muito mais longe se, por exemplo, não houvesse
tamanha burocracia, preconceito, mas sim um maior investimento cultural e
melhor reconhecimento para pequenos grandes talentos. Facilmente é um filme do
qual nos identificamos, graças a sua humanidade que molda a obra e pela
sinceridade de ambas as protagonistas em cena.
Quarto Camarim é
sobre a pequena história de um reencontro, mas tendo um enorme significado,
além de ser uma representação de grandes talentos de nosso país escondidos e
muito mais próximos de nós do que imaginamos.
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