Sinopse:Construindo Pontes percorre caminhos entrelaçados: o do pessoal e o do político, retrata uma família e um país através da relação entre um pai e sua filha, um debate cinematográfico, poético e amorosamente bélico.
No recente filme Aquarius,
testemunhamos fotos antigas lançadas na tela, sendo que as imagens são de
tempos mais dourados e de recordações que nunca dormem. Em contrapartida, o
filme se encerra com um plano em que foca cupins destruindo determinada história
e sintetizando tempos indefinidos, não somente da protagonista do filme, como
também de todo o cidadão brasileiro. Construindo Pontes segue uma proposta
similar, onde tempos dourados é estraçalhado em nome de progresso e sem ao
menos se preocupar com o futuro de muitos.
O documentário é conduzido
pela cineasta Heloísa Passos (diretora de fotografia de filmes como Lixo
Extraordinário), onde no passado ela havia ganhado de presente um rolo em Super-8
com imagens sobre as “Sete Quedas”, um paraíso natural. Infelizmente, em pleno
regime militar, as “Sete Quedas” foram destruídas, para dar lugar à usina hidrelétrica,
uma das maiores do mundo. Decidida em enfrentar esse passado, a cineasta, não
somente decide retornar ao cenário dos acontecimentos, como também tenta
convencer o seu pai, engenheiro que trabalhou construindo pontes durante a Ditadura
Militar, para mostrar a ele o quão está errado com relação sua visão daquele
tempo.
Usando cenas de arquivos, Heloísa cria um paralelo entre o passado e o presente, do qual eventos dos
tempos do golpe de 1964 se tornem ondas gigantes na água que ainda avançam em
nosso tempo. Em contrapartida, é surpreendente testemunharmos o embate entre
ela e seu pai, que não aceita os eventos de 1964 como um golpe, mas sim com uma
revolução a serviço do progresso no Brasil. Se por um momento ficamos chateados
pelo posicionamento do seu pai, ao mesmo tempo, ficamos tensos com Heloísa, em
momentos em que ela reage com certa ira, não somente com o que aconteceu ao
passado, mas também com eventos da crise atual do Brasil e sem previsão de
encerramento.
Em momentos de calmaria, o documentário
se rende as cenas de arquivos, onde conhecemos mais sobre o passado de Heloísa,
além de sua família em momentos descontraídos e sem nenhuma preocupação
aparente. Ao mesmo tempo, Heloísa cria em sua montagem momentos criativos, onde
mesmo com poucos recursos, torna sequências ricas em conteúdo: a cena onde num
plano sequência mostra o interior da usina hidrelétrica, cujo cenário se
mistura com cenas de arquivos, sintetiza muito bem isso.
Outro detalhe importante a
ser destacado são os momentos de improviso vistos na tela, onde determinadas situações
que surgem fora do previsto, acabam se tornando os melhores momentos. Quando
pai e filha tentam fazer funcionar um super-8, por exemplo, temos uma pequena rixa
em andamento, mas fazendo com que ambas as partes concluam o obstáculo com êxito.
Um momento singelo, onde mesmo se destacando o atrito entre ambos, dá entender
que, às vezes, as diferenças precisam ficar um pouco de lado para se chegar a
um consenso.
O ato final, onde pai e
filha se dirigem ao cenário que antes era um paraíso a ser visitado, irá
desencadear novas reflexões e dando um novo passo na relação de ambos. Porém, assim
como aconteceu no decorrer do projeto, as situações que surgem em cena vão contra
a pretensão inicial da cineasta, mas ao mesmo tempo, surgindo um “bem vindo”
final do qual nem mesmo ela previa. É um desses casos em que o improviso, além
de um imprevisível surgimento do acaso, faz com que os minutos finais do
documentário se tornar primorosos, dando continuidade com a proposta
apresentada nas cenas iniciais da obra, elevando o relacionamento de pai e
filha a um novo patamar e que, somente juntos, terão que descobrir.
Construindo Pontes,
não é somente sobre a nossa democracia atual em risco, como também um convite
para conhecermos uma relação familiar humana e da qual nos identificamos
facilmente com ela.
NOTA: O filme entrará
em cartaz a partir da próxima quinta, as 17horas, no Cinebancários de Porto
Alegre. Rua General da Câmara nº 424, centro de Porto Alegre.
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