Nota: Filme exibido
para o Clube d Cinema de Porto Alegre no último dia 07/04/18.
Sinopse: Em uma fábrica de
alumínio em Ouro Preto, Minas Gerais, jovem encontra o diário de um trabalhador
que sofreu um acidente.
Em tempos em tempos o cinema
brasileiro serve como uma espécie de termômetro para se colocar na tela a
situação atual do país. Aquarius, por exemplo, sintetiza a desconstrução de um
passado mais dourado e dando lugar a metros de concreto sem brilho. E se A
Vizinhança do Tigre, dirigido por Affonso Uchoa, retrata uma nova geração
de esquecidos pela sociedade, Arábia, dirigido pelo mesmo, escancara a cruzada
do trabalhador brasileiro sem muitas expectativas, mas que segue em frente para
se manter vivo no dia a dia.
Nos primeiros minutos
de projeção acompanhamos André (Murilo Caliari) que fica andando com a sua bicicleta
por uma rodovia. Em um longo plano sequência, envolvido pela da música country
norte-americana, ela termina ao chegar na Vila Operária, bairro de Ouro Preto,
em Minas Gerais, onde se encontra uma siderúrgica e que da qual transforma o
ambiente do lugar. Curiosamente, embora estejamos envolvidos em querer saber
mais sobre o personagem André, logo ele dá lugar à figura de Cristiano
(Aristides de Sousa), trabalhador do local que, inexplicavelmente, cai num sono
profundo e André começa a conhecer sobre a sua vida a partir de um diário que
ele havia deixado.
Em narração off, começamos a
conhecer Cristiano através de um grande flashback, onde descobrimos que ele
havia cumprido pena na prisão e partido pelo Brasil a dentro para trabalhar. Num
tom quase documental, conhecemos através do olhar de Cristiano diversos
lugares, mas que dos quais, não tem muito a oferecer a ele, a não somente
trabalho e uns trocados para sobreviver. Ambições para um futuro melhor se
tornam então desejos frágeis e que são sucumbidos a uma realidade crua e que
testa a força de vontade do protagonista.
Os cineastas Affonso
Uchôa e João Dumans se prezam então a moldurar com perfeição diversas situações,
sendo elas até mesmo que banais, mas que enchem a tela ao trazer um pouco de
vida para o protagonista. Ele faz amigos em sua jornada, onde em uma conversa e
outra, nos brinda com o lado mais humano dessas pessoas humildes, mas que possuem
inúmeras histórias para contar: a cena onde ele e um colega discutem sobre os
diversos pesos de sacos é um momento simples, porém, eficaz e um dos melhores.
Os prazeres são poucos, mas
singelos e humanos. Quando o protagonista encontra um amor, por exemplo, os
cineastas moldam a situação para parecer algo mais esperançoso, mesmo quando o
mundo real bate a porta na vida de Cristiano. Quando isso acontece, não tem
como o cinéfilo de carteirinha deixar de se lembrar do inesquecível Viajo
porque Preciso, Volto porque Te amo e se isso foi algo criado de uma forma
proposital de ambos os cineastas é algo então muito bem vindo.
O ato final reserva momentos
em que se oscilam e nos lembram até mesmo da proposta inicial apresentada em A
Vizinhança do Tigre. Se naquele filme há uma representação de uma geração
perdida e esquecida até mesmo pelos seus progenitores, aqui há uma continuidade,
onde o jovem então acaba se tornando uma engrenagem do lado de baixo, para que capitalismo
do lado de cima continue pulsando e alienando cada vez mais a sociedade. A realidade
acaba se tornando então um pesadelo e fazendo com que um sono profundo se torne
um único meio de paz a partir do momento quando tudo não faz mais nenhum
sentido, seja para o Cristiano, ou para muitos Cristianos que se encontra em situações
semelhantes.
Arábia talvez venha a
ser o melhor filme em que representa a situação atual do país, onde os trabalhadores
são cada vez mais usados como meras engrenagens, enquanto a elite evita de se
lembrarem que eles existem.
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