Nota: Filme exibido
para os sócios do Clube de Cinema de Porto Alegre no último dia 14/04/18.
Sinopse: Narumi Kase
(Masami Nagasawa) está com uma desconfiança enorme e não faz ideia do que
fazer. Isso porque seu marido, Shinji Kase (Ryuhei Matsuda), voltou para casa
depois de dias desaparecido e, misteriosamente, parece ser outra pessoal, mais
gentil e amável. O que ela nem imagina é que, na verdade, o corpo de Shinji foi
assumido por um alienígena que veio anunciar uma invasão à Terra.
Somente fui conhecer
o trabalho de Kiyoshi Kurosawa no final de 2016, onde eu tive o privilegio de
assistir no cinema o seu filme policial CREEPY. O filme, aliás, se difere de
outros filmes dentro do gênero policial, já que Kurosawa surpreendia ao inserir
situações imprevisíveis, das quais se enveredava até mesmo para um filme de
terror psicológico fora do convencional. Em Antes Que Tudo Desapareça, Kurosawa
explora o terreno da ficção científica, mas assim como o seu filme anterior,
não estamos preparados para as suas invenções que foge dos padrões
convencionais do gênero.
Em duas linhas
narrativas, acompanhamos pessoas que se dizem serem alienígenas e que estão
usando corpos humanos para conhecer melhor os habitantes da terra. Na
realidade, a missão deles é também chamar os demais de sua raça, para então
exterminar a humanidade e se criar um novo mundo na terra. Porém, nem tudo é
como se espera, já que muito do que é ser humano ainda é um mistério para eles
e fazendo com que um deles tome um caminho diferente.
Kiyoshi Kurosawa
novamente brinca com perspectiva do cinéfilo ao assistirmos a obra. Se num
primeiro momento presenciamos um verdadeiro massacre de um típico filme de
terror já nos minutos iniciais da obra, por outro lado, aos poucos o filme se
envereda para uma ficção científica que nos soa algo semelhante do que era
visto no cinema americano dos anos 50, mais precisamente, na época da Guerra Fria.
Mas isso somente fica pela superfície, já que Kurosawa não está interessado em
fazer algo convencional e tão pouco cair na vala comum com alguma solução fácil
na reta final da história.
Tecnicamente, mesmo
fazendo parte do gênero fantástico, o filme quase não usa efeitos visuais
descomunais, pois quando eles surgem, eles não são nada gratuitos, mas sim
correspondendo com a proposta principal da trama. O filme se sustenta mais na
interpretação dos atores, principalmente daqueles que interpretam os alienígenas,
cujo os personagens oscilam entre a inocência e uma aura sarcástica de acordo
com o tempo em que eles têm contato com os humanos. Na medida em que o tempo
passa, o alienígena que possui o corpo do personagem Shinji Kase (Ryuhei
Matsuda), por exemplo, se torna o personagem mais interessante, pois ele se
divide com o desejo em cumprir a missão, mas aos poucos começa até mesmo gostar
do seu lado humano.
Narumi Kase (Masami
Nagasawa) é a sua guia, da qual não compreende as atitudes estranhas do seu
marido, mas que, aos poucos, vai comprando a ideia de que tudo que ele diz é
realmente real. Não é preciso ser gênio que nessa linha narrativa irá se
enveredar para uma história de amor e que, por mais piegas que seja, é o
suficiente para que aja um conflito emocional entre os personagens principais.
Mas se por um lado essa linha narrativa soe óbvia, a outra em que vemos um
jornalista acompanhar uma dupla de alienígenas impetuosos, acaba nos reservando
momentos imprevisíveis, principalmente na reta final do filme em que os efeitos
visuais mais complexos dão um verdadeiro show de som e imagem.
O ato final nos
reserva momentos em que nos faz pensar, principalmente em tempos de incerteza
em que ocorrem no nosso mundo real. Se os filmes de ficção americanos dos anos
50 remetiam um período de temor com relação a uma possível guerra nuclear, aqui
a situação não é muito diferente, mas feito com doses de muito mais reflexão do
que diversão. Kiyoshi Kurosawa deixa o seu filme em aberto para, então,
debatermos sobre o que realmente nos faz humano.
Antes Que Tudo
Desapareça é um filme de ficção em que as emoções verdadeiramente humanas, por
mais piegas que seja, são a principal arma contra o nosso derradeiro final.
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