Nos dias 14 e 15 de outubro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto
Alegre, participando do curso Fritz Lang: O Arquiteto das Sombras, criado pelo
Cine Um e ministrado pela Mestra e Doutoranda em Comunicação Social Janaina Gamba.
Enquanto os dias da atividade não chegam, eu estarei por aqui relembrando dos
principais clássicos desse pai do expressionismo cinematográfico.
A Morte Cansada (1921)
Sinopse:Recém-chegada a um vilarejo perdido no tempo, A Morte compra um
terreno ao lado do cemitério local, onde constrói um gigantesco muro ao redor.
Segue um casal em lua-de-mel e leva o marido, assim fazendo com que sua esposa
o procure... ou melhor, cometa o suicídio para encontrá-lo.
A primeira vista esse filme mais parece do Murnau do que de Fritz Lang,
principalmente para aqueles que assistiram aos filmes do primeiro, como
Nosferatu e Fausto que eram em volta de um visual gótico e deslumbrante. Embora
todo muito saiba que Lang foi um diretor não preso a um único gênero, ao contar uma fábula sobre o significado da
vida e da morte, ele mostra que, como cineasta, possuía certa versatilidade que, há quem diga,
vinha muito da ajuda da sua esposa da época,
Thea von Harbou e que trabalhava como roteirista para ele.
A trama em si, é uma bela fabula sombria, em que mostra até aonde a
protagonista irá para conseguir o seu amado de volta. Neste ponto, Lang nos
brinda com uma história imaginativa, em
que cada vela apresentada no lar da morte seria então outras vidas. É nos
apresentado então três histórias sem interligação, mas que serve de desafio
para a protagonista vencer a morte. Esse ponto, para mim é interessante, sendo
que me lembrou muito a forma de contar histórias de como o estúdio inglês
Amicus apresentava em seus filmes. Sendo assim, não me surpreenda, se o rival
da Hammer na época tenha se inspirado neste clássico para a realização de seus
projetos.
Visto atualmente, é uma trama que faz a gente sentir que já tenhamos
testemunhado uma história parecida em outras mídias, mas que neste filme, ela é
muito bem orquestrada pelo cineasta austríaco.
Dr. Mabuse – O Jogador (1922)
Sinopse: Dr. Mabuse é um psicanalista que faz uso do seu poder de
sugestão e hipnose para cometer crimes. Inicialmente como apostador, o
protagonista e os seus cúmplices passam a arriscar cada vez mais, com golpes à
bolsa de valores e assassinatos. Mabuse nos seus planos disfarça-se sempre, o
que dificulta a investigação do seu perseguidor, o oficial von Wenck.
Dr. Mabuse – O Jogador é um filme
policial, precursor do chamado cinema noir, que o próprio Lang ajudou a
desenvolver na sua fase hollywoodiana. O filme insere-se no contexto de uma
Alemanha decaída após I Guerra Mundial. A humilhação perante o mundo, a
conseqüente crise financeira, a instabilidade política, a impopularidade do
conflito, geraram obras que se caracterizam pelo horror, pelo fantástico e pelo
crime em um mundo de pesadelo em que os recursos visuais contribuem para uma
narrativa expressionista e refletindo a visão do mundo do autor. O filme
destaca-se pela assombrosa interpretação de Rudolf Klein-Rogge, no papel do Dr.
Mabuse, que nos convence com os seus diversos disfarces; pela fotografia, que
sugere a escuridão e o caráter sombrio do personagem, além da cena apoteótica
de hipnotismo coletivo num teatro, ( durante a segunda parte), em que Mabuse
surge no seu disfarce mais expressivo.
Com uma montagem bastante criativa e uma banda-sonora moderna (na versão
do DVD), a obra figura como uma das mais significativas da escola
expressionista alemã. Dr. Mabuse aparece ainda em mais dois filmes de Fritz
Lang: O Testamento do Dr. Mabuse (1933) e Die 1000 Augen des Dr. Mabuse (1960),
último filme do realizador no seu regresso à Alemanha.
Os Nibelungos Parte 1 a morte de Siegfried (1923)
Sinopse: Siegfrid, filho do rei Sigmund, ouve falar da linda irmã de
Gunter, rei de Worms, Kiemhild. Na ida para Worms, ele mata um dragão e
encontra um tesouro, o Hort. Ele ajuda Gunter para ganhar a mão de sua irmã.
O filme é o primeiro dos dois dirigidos por Fritz a partir do épico
criado pelo músico Richard Wagner, que já trabalhava em cima da lenda da
mitologia nórdica. Os Nibelungos narra à aventura do jovem Siegfried, filho do
rei Sigmund, que enfrenta dragões, conquista a invulnerabilidade, realiza
grandes feitos heroicos e encontra o grande amor numa princesa. Tudo em clima
de grandiosidade e misticismo, que muita gente acredita que inspirou J.R.R.
Tolkien na saga de O Senhor dos Anéis. Fritz caprichou no melhor que a UFA, o
mega estúdio alemão, disponibilizou para ele. Cenários suntuosos, tecnologia
assustadora (o dragão é perfeito para um filme que completou mais de 80 anos) e
mais uma vez uma fotografia arrebatadora cheia de truques e pequenas mágicas.
Nesse filme, Fritz Lang se imbui do espírito heroico e assume a lenda e
a fantasia para realizar uma obra encantadora.
Metrópolis (1927)
Sinopse: Metrópolis, ano 2026. Os poderosos ficam na superfície e lá há
o Jardim dos Prazeres, para os filhos dos mestres, enquanto os operários, em
regime de escravidão, trabalham bem abaixo da superfície, na Cidade dos
Operários. Esta poderosa cidade é governada por Joh Fredersen (Alfred Abel), um
insensível capitalista cujo único filho, Freder (Gustav Fröhlich), leva uma
vida idílica, desfrutando dos maravilhosos jardins. Mas um dia Freder conhece
Maria (Brigitte Helm), a líder espiritual dos operários, que cuida dos filhos
dos escravos. O clássico de Fritz Lang, é um dos filmes mais influentes da
história do cinema.
O grande charme desse filme sombrio e aterrador é o cenário futurista
fotografado por dois mestres - Karl Freund e Gunther Rittau. O roteiro foi
escrito pelo próprio Lang e por sua mulher, Thea Von Harbou também autora da história original e
simpatizante do nazismo. O próprio diretor não gostou da solução conciliatória
para a luta das classes, por isso chegou a dizer que o final era falso. O filme
passou pela história como representante legitimo do expressionismo alemão e um
clássico de cinema fantástico.
Curiosidades: A primeira versão de Metrópoles tinha mais de três horas
de duração, mas se perdeu. A primeira versão americana tinha 159 minutos e a alemã
153 minutos. Há uma versão restaurada pelo Filmmuseum Munich, que editou cenas
perdidas e tem 150 minutos. Em 2008, em Buenos Aires, Argentina, foi encontrada
a versão original do filme. A versão original foi restaurada e será exibida na
edição de 2010 do Festival de Berlim, data em que o festival comemora 60 anos.
M, O Vampiro De Dusseldorf (1931)
Sinopse: Dusseldorf passa por um momento crítico. Assassinatos em série
assustam os moradores da cidade. Meninas são abordadas, seviciadas e mortas por
um homem que desafia a polícia. À busca de pistas, qualquer pessoa pode ser o
procurado e, por vezes, inocentes são acusados.A polícia vasculha a cidade
enquanto os mafiosos, tendo como chefe o poderoso Schränker, montam uma
"tropa" composta por mendigos e trapaceiros. O propósito é encontrar
o assassino, antes da polícia. Assim, estariam livres para promover seus
"negócios"
O primeiro filme falado do diretor austríaco Fritz Lang (Metrópoles) e
foi baseado em fatos verídicos. A trama é baseada sobre um assassino de
crianças, Peter Kürten, que por volta de 1925 cometeu 10 crimes na cidade de
Düsseldorf. O filme é um verdadeiro retrato do clima de terror que se alastrava
na Alemanha, na época da ascensão do nazismo e para piorar o cinema alemão
estava vivendo seus piores anos, contudo, Anjo Azul e M.,o vampiro de
Dusseldorf são exceções honrosas.
Rodado do começo ao fim em estúdio, M revela o então ator de teatro Peter Lorre
(1904-1968) que, apesar de ter atuado em outros filmes posteriores, ficou
marcado para sempre como o homem de olhos esbugalhados e se tornou um dos
maiores vilões do cinema.
Não faltam momentos que se tornaram clássicos esse filme, como a parte
do cego, o vendedor de balões e que tem
contato com o assassino. Ele o reconhece através da melodia que o homem
assobia. Alertado, um dos componentes da "tropa" escreve com giz um M
(Mörder= assassino) na palma da mão, marcando o facínora nas costas. Após uma
grande perseguição, os mafiosos capturam o assassino e o submetem a julgamento.
Num monólogo, considerado um dos mais expressivos e inesperados da história do
cinema.
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