Nos dias 16 e 17 de
setembro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre, participando do
curso Cinema e Sonhos, criado pelo Cine Um e ministrado pelo Psicanalista
Leonardo Della Pasqua. Enquanto os dias da atividade não chegam, estejam por
aqui comigo, para mergulhar nos melhores exemplos cinematográficos e que tentam
retratar um pouco esse nosso universo do sonhar.
O Mundo do Sonhar de Salvador Dali
Salvador Dalí (11 de
maio de 1904 — 23 de janeiro de 1989) foi um importante pintor catalão,
conhecido pelo seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção
pela incrível combinação de imagens bizarras, oníricas, com excelente qualidade
plástica. Dalí foi influenciado pelos mestres do classicismo. O seu trabalho
mais conhecido, A Persistência da Memória, foi concluído em 1931. Salvador Dalí
teve também trabalhos artísticos no cinema, escultura, e fotografia. Colaborou com Luis Bunuel no filme Cão Andaluz 1929,
com a Walt Disney no curta de animação Destino, que foi Lançado postumamente em
2003 e, ao lado de Alfred Hitchcock, no filme Quando Fala o Coração (1945). Também
foi autor de poemas dentro da mesma linha surrealista.
Gabinete do Dr Caligari (1919)
Sinopse: Hipnotizado
pelo maléfico Dr Caligari, sonâmbulo vai assassinando diversas pessoas, até se rebelar
quando lhe é exigido que mate bela jovem.
Em certa ocasião Tim Burton disse uma vez que
se inspirava e muito no diretor Ed Wood nas suas criações, mas pelo visto, a
filmografia de Wood não foi sua única inspiração. Assistindo recentemente o
Gabinete do Dr. Caligari (dirigido por Robert Wiene), percebo vários elementos
visuais que sempre estiveram nos filmes de Burton. Pegue o filme Batman: O
Retorno (92) como maior exemplo: o Pinguim (Dany Devito) na visão de Burton era
idêntico a Caligari. Marco do expressionismo alemão fascina até hoje pelos
criativos cenários e pela brilhante iluminação, que remetem o filme a um
belíssimo clima surrealista que não deve nada ao Salvador Dali. Trazendo ainda
um desfecho fabuloso e surreal, O Gabinete do Dr. Caligari talvez tenha sido
uma das obras mais influentes de todos os tempos: é fácil assistir o filme e
pensar o quanto dele é tomado como referência, não só em obras feitas na época
depois dele, como até hoje (o desfecho deve ter sido assistido inúmeras vezes
por David Lynch, por exemplo). Merece ser revisto, relembrado, ou, descoberto
pelos novos cinéfilos de hoje.
Um Cão Andaluz (1929)
Sinopse: Um Cão
Andaluz"Uma sucessão de imagens sem significado lógico aparente. Em uma
seqüência, um jovem deseja uma mulher mas carrega o peso de seu passado. Em
outra, uma mulher insatisfeita reencontra seu amante numa praia. Ambos são
devorados por insetos.
Em Cão Andaluz, o
filme começa com o típico letreiro de “era uma vez”, para então vermos um homem
(o próprio Luis Buñuel) afiando uma lamina. Imediatamente o homem vai para uma
sacada, observar uma nuvem cortando a lua cheia, cuja cena se casa com o homem
cortando um olho de uma mulher. A cena chocante, imediatamente deixa a pessoa,
tão acostumada com começo, meio e fim de uma trama, ficar se perguntado o que
exatamente viu anteriormente. A Trama se segue, em cenas que aparentemente
confusas, que a única coisa que se pode tirar dali e compreender, é de uma
relação complicada de um casal, envolvido em momentos, em que homem vê sua mão se
encher de formigas, para então depois a mesma mão, aparecer cortada no meio da
rua.
Com a ajuda do
Salvador Dali, um dos grandes representantes do surrealismo da época, Buñuel
quis fazer uma espécie de conto vindo de um sonho, ou simplesmente expressar os
seus sentimos que tinha em sua consciência em celuloide, mas por mais que tente
explicar os significados das imagens, sempre haverá novas interpretações para
serem levantadas, pois Cão Andaluz é o típico filme que possui tantas camadas
de interpretação, que pode muito bem se escrever um livro sobre o assunto.
Imagine então se o filme fosse um longa metragem, mas em pouco mais de 15
minutos, foram o suficientes para entrar para historia, sendo que para alguns,
é o melhor que expressa a consciência
interior do cineasta. Falando em consciência, não me surpreenderia se ele
tivesse a capacidade de nos hipnotizar e enganar nossa perspectiva, pois é fato
que ele aprendeu muito sobre hipnotismo quando era jovem.
Quando Fala o Coração (1945)
Sinopse: A dra.
Constance Petersen (Ingrid Bergman) trabalha como psicóloga em uma clínica para
doentes mentais. O local está prestes a mudar de direção, com a substituição do
dr. Alexander Brulov (Michael Chekhov) pelo dr. Edward (Gregory Peck). Ao
chegar o dr. Edwards surpreende os médicos locais pela sua jovialidade e também
por seu estranho comportamento. Logo Constance descobre que ele é na verdade um
impostor, que perdeu a memória e não sabe quem é nem o que aconteceu com o
verdadeiro dr. Edwards.
Delirante alegoria
que teve a preciosa colaboração de Salvador Dalí nas cenas de sonho. Há uma
arrepiante cena de violência contra um garoto durante uma cena de flashibak.
Trilha sonora envolvente de Miklos Roza, premiado com um Oscar.
Curiosidades: O
diretor Alfred Hitchcock aparece em cena aos 40 minutos, ao sair do elevador do
Empire Hotel. Ele está carregando um violino e fumando um cigarro. A sequência
do sonho foi criada por Salvador Dali, que foi convidado a participar do filme
por Alfred Hitchcock. O diretor, que era admirador de seu trabalho, acreditava
que Dali seria o único que poderia criar uma imagem de sonho que inicialmente
seria incompreensível ao público, para depois ser explicada através da
psicanálise.
O encontro de Disney e Dalí! no Curta Destino
Em 1946, o mundo
ainda tinha o privilégio de ter em vida dois grandes artistas de áreas
diferentes mas com similaridades inegáveis: Salvador Dalí e Walt Disney.O que
pouca gente sabe é que ambos já trabalharam juntos em um projeto que acabou não
vingando. O projeto se chamava "Destino" e acabou abandonado por
ambos antes mesmo de ter 20 segundos de animação, mas Dalí já tinha trabalhado
em todo o storyboard que ficou arquivado nos arquivos da Disney.
Eis que, durante uma
mudança de 'arquivamento' (o vulgo 'porão') um feliz funcionário achou os
storyboards e resolveu terminar a animação, com o apoio de Jack Dunham, que na
década de 40 havia auxiliado Dalí na produção dos storyboards e era um dos
'homens de confiança' de Walt Disney.O resultado é uma bela animação ao estilo
Disney, mas com a alma de Dalí. O documentário que explica
perfeitamente TUDO sobre a união desses dois gênios surrealistas, chamado
"Dalí & Disney: um encontro com o Destino" está disponível na
versão em BD lançada este ano do filme FANTASIA 2000.
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