Sinopse: Dione (Dione Ávila
de Oliveira) é um jovem com hábitos estranhos, que vive isolado com sua família
em uma região rural e remota. Mas toda a tranquilidade do local é abalada
quando um rico proprietário tenta comprar a pequena propriedade onde ele e sua
família vivem. O jovem então começa a carregar sempre um rifle, de forma a
defender seu território.
Conheço pessoas que trabalhavam
no interior e que até mesmo poderiam se
tornar donos de suas próprias terras futuramente. Porém, a ideia de enriquecer na cidade
grande sempre atrai aqueles que querem mudar de vida, mas que nem sempre isso
acontece como num passe de mágica. Sem nenhuma expectativa, a pessoa retorna então
para o interior, pois os poderosos da cidade grande não lhe aceitam, mas esses
últimos decidem então invadir o interior para conquistar determinados pontos de
terra.
Tem-se então um quadro
indefinido para o indivíduo, do qual não é aceito na cidade grande, mas corre o
sério risco de ser expulso de suas próprias raízes. A escolha é defender o que
é seu, nem que para isso sofra sérias consequências e das quais tornam o seu
futuro como indefinido. Em Rifle, observamos um reflexo de uma realidade nua e
crua e da qual esta muito mais próxima do que a gente imagina.
Dirigido por Davi Pretto (Castanha),
acompanhamos a história de Dione (Dione Ávila de Oliveira), rapaz sem muita expectativa
e que vive com a sua família numa região rural do interior do RS. O comodismo
de todos da região começa a mudar no momento que certo rico dá sinais que tem
interesse por aquelas terras e fazer com que Dione e sua família partam de lá.
O protagonista então usa o seu velho rifle para afugentar aqueles que se aproximam
sempre do seu território.
Existe aqui elementos que
lembram alguns títulos do nosso cinema recente como, por exemplo, Aquarius, do
qual retrata o desejo de posse de alguns, mas não se importando com a história
e com o futuro de outros. Contudo, Davi Pretto incrementa sua visão particular com
relação a esse assunto, incrementando até mesmo velhos elementos do gênero faroeste,
mas que não se desprende da realidade do interior do estado do RS. Ao mesmo
tempo, a mesma sensação de falta de uma boa perspectiva com relação ao presente e
ao futuro visto em Castanha, é usado aqui no mesmo peso e medida, mesmo se
passando em cenários distintos se comparados um ao outro.
Seguindo a tendência do
movimento “ficção/documentário” visto nos melhores títulos do cinema independente
brasileiro recente, como Branco sai, Preto fica, assim como também o próprio Castanha,
Davi Pretto usa não atores para a realização desse filme e resultando numa
atmosfera realística e até mesmo da qual nos identifiquemos facilmente com ela: a
cena em que vemos, por exemplo, a família de Dione revisitando o passado através
de fotografias, vemos então o cruzamento entre ficção e realidade, como se não
houvesse roteiro, tudo criado no improviso, mas tendo resultado verdadeiramente
positivo.
Embora atuando pela primeira
vez, Dione Ávila de Oliveira se sai bem em cena, pois o seu modo na criação do
seu respectivo personagem acaba se casando com proposta principal do cineasta e
nascendo então um personagem trágico e de múltiplas camadas. A meu ver, Dione
seria uma representação da resistência contra os poderosos do capitalismo atual,
do qual deseja posses, mas que destrói vidas e histórias das quais poderiam ser
contadas. Se num primeiro momento as suas ações contra aqueles que vêm de fora
possa soar como inconsequente, por outro lado, compreendemos que ele chegou num
estagio em que não anda nem pra frente e nem para traz, pois ele acredita que o
seu modo de agir seja uma defesa e uma espécie de válvula de escape para sair toda a
sua revolta.
Como em Castanha, Davi
Pretto usa todos os elementos acima citados, para se criar então um drama sobre
o vácuo existencial contemporâneo de hoje. Se ele existe, talvez ele seja
formado pelas engrenagens políticas atuais, mesmo quando na trama não se mostre
elas de uma forma explicita. Porém, quando vemos, por exemplo, o protagonista
adentrar um casarão cheio de utensílios, mas sem ninguém no local, a cena tornasse
então simbólica, pois ela representa o poder da posse, mas sem nada para acrescentar
a história.
Curto, mas profundo, Rifle é uma pequena experiência sensorial sobre a realidade contemporânea, da qual cada vez mais se encontra indefinida e movida pela incerteza sobre o nosso real papel no mundo atual.
Curto, mas profundo, Rifle é uma pequena experiência sensorial sobre a realidade contemporânea, da qual cada vez mais se encontra indefinida e movida pela incerteza sobre o nosso real papel no mundo atual.
Abaixo momentos da exibição especial do filme que aconteceu no último sábado na Cinemateca Capitólio e com a participação do cineasta Davi Pretto.
Leia também: Castanha.
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