Sinopse: No século 17, o
padre Ferreira (Liam Neeson) vive no Japão e caiu em desgraça ao renunciar a
sua fé. Preocupados com a situação, os padres jesuítas Rodrigues (Andrew
Garfield) e Garupe (Adam Driver) viajam ao país para procurar o mentor Ferreira
e propagar o cristianismo entre os japoneses.
Quando Martin Scorsese lançou
no final dos anos 80 o filme A última Tentação de Cristo, o público o
recepcionou com paus e pedras, pois jamais aceitaram na época um Jesus mais
humano e que tenha tido uma relação com Maria Madalena. Vários anos se passaram
e acredito que hoje aja espaço para ser debatidos no cinema inúmeros tabus com
relação à religião, mesmo quando se vê em telejornais, por exemplo, a violência
vinda de intolerância religiosa. No épico Silêncio, Scorsese nos convida para debater
sobre essas questões e muitas outras, através de uma cruzada de dor e redenção
do qual os protagonistas passam a sentir da pior maneira possível.
No século 17, dois padres
jesuítas, Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) vão ao Japão para
saber do paradeiro do seu professor e padre Ferreira (Liam Neeson) que não
havia mais dado noticias após o envio de uma reveladora carta. Ao chegarem à
terra do sol nascente, Rodrigues e Garupe dão de encontro com uma sociedade
dividida, onde japoneses a serviço do governo capturam e torturam outros japoneses
que aderiram ao cristianismo. Aos poucos, ambos os padres irão adentrar em situações
das quais irão testar a sua própria fé e no que acreditam.
Silêncio, já é um projeto
bastante antigo do cineasta, mas que somente ganhou a luz a pouco tempo, graças
ao fato de Scorsese ter já um bom tempo carta branca vinda de inúmeros estúdios,
pois não é fácil de levar para ao cinema uma trama que toca num imenso vespeiro.
Para começar, não espere ver os padres como os verdadeiros heróis da trama, mas
tão pouco os japoneses que não aceitam a fé cristã, pois o debate aqui vai
muito mais a fundo. Afinal, quem está realmente certo na vida com relação ao
que acredita?
Religiões foram criadas pelo
homem, das quais todas foram modificadas através do tempo, mesmo quando o seu
teor principal até hoje se continua intacto. Infelizmente o homem se apegou a
imagem e regras criadas pela igreja de uma forma tão forte, que parece até impossível
a pessoa se reprogramar desde o princípio e começar a ter um pensamento mais
aberto com relação ao mundo do qual vive. Scorsese então mostra de uma forma
nua e crua que, o embate de pensamentos distintos sempre irá causar dor e
morte, pois jamais será fácil mudar o que se pregou ao longo dos séculos.
Os jovens padres Rodrigues e
Garupe vão ao oriente e tendo a certeza com relação no que sempre acreditaram,
mas os horrores que presenciam fazem com que se perguntem se estão no caminho
certo, pois ambos não escutam nada vindo do próprio Deus. O título silêncio, por exemplo, vem
do fato da possibilidade de não haver nada além do que nós mesmos dizemos ao rezarmos
pedindo ajuda a Deus, pois o que resta fica sendo somente a nossa força de
vontade e a crença que, por vezes, nos cega fortemente. Não significa que o
filme queira nos dizer para sermos descrentes, mas sim nos fazer perguntar a nós mesmos quem
está certo ou errado nessa história?
O Japão é um país que possui
inúmeras raízes, costumes e crenças das mais antigas da história da humanidade e
bem diferente do cristianismo que, por sua vez, tem pouco mais de dois mil
anos. Então imagine colocar esses dois mundos distintos se colidindo e pedindo
para que um ou outro abandonassem o que acredita e se convertesse uma nova forma
de vida para ver as coisas? O resultado sempre será deveras desastroso!
Posso ser católico e
acreditar em Deus, por exemplo, mas reconheço que houve milhares de mortes ao
longo dos séculos em nome do Senhor. Podemos nos horrorizar pela forma brutal
que os japoneses usam para esmagar o cristianismo no decorrer do filme, mas ao
mesmo tempo, nos faz a gente se dar conta que isso é um caso de inúmeros provocados
pela persistência da igreja em querer doutrinar pessoas de povos tão distintos
um do outro. Uma coisa é crer e pregar a paz, mas outra é radicalizar e provocar
uma onda de mortes, destruição em massa e das quais, infelizmente, se prolonga
até hoje.
Com esse pensamento, eu
creio que Silêncio talvez venha a ser um filme que irá gerar inúmeros debates
no decorrer do tempo, mas que, infelizmente, não será todos os crentes desse
mundo que irão conseguir apreciá-lo como um todo.
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