Nos dias 25 e 26 de março eu estarei participando do curso Literatura
Policial no Cinema, criado pelo Cine Um e ministrado pelo crítico de cinema
César Almeida. Enquanto atividade não chega, por aqui eu irei fazer uma pequena
investigação sobre os principais clássicos envolvidos nesse gênero
cinematográfico.
Bonnie e Clyde: Uma rajada de balas (1967)
Sinopse: Durante a Grande Depressão, Bonnie Parker (Faye Dunaway) conhece
Clyde Barrow (Warren Beatty), um ex-presidiário que foi solto por bom
comportamento, quando este tenta roubar o carro de sua mãe. Atraída pelo rapaz,
ela o acompanha. Ambos iniciam uma carreira de crimes, assaltando bancos e
roubando automóveis. Conhecem o mecânico C.W. Moss (Michael J. Pollard), que
passa a ser o novo companheiro da dupla, mas durante um assalto matam uma
pessoa e são caçados daí em diante como assassinos. Ao grupo une-se Buck (Gene
Hackman), o irmão de Clyde recém-saído da cadeia, e Blanche (Estelle Parsons),
sua mulher. Sucedem-se os assaltos e logo o quinteto ganha fama em todo o sul
do país. Uma noite, são cercados por vários policiais e, obrigados a matar para
fugir, são perseguidos em vários estados.
Filme clássico que resgata os dias de crime e de aventura desse famoso
casal. Um violento e fiel conto, baseado
em fatos verídicos que, deu origem a vários filmes sobre gangues da época,
sendo uma analise de costumes e tudo apresentado de uma maneira altamente
profissional. Fazendo um retrato crítico, de um dos piores períodos dos EUA,
onde em meio a uma crise sem precedentes, surgia criminosos, com um único
intuito em sobreviver num país arruinado, mas que precisava enfrentar uma
policia tão traiçoeira quanto eles.
O filme também se tornaria o primeiro sucesso da carreira de Gene
Hackman, que no filme interpretaria o irmão de Clayde, e seu desempenho foi tão
convincente que, o futuro astro ganharia já inicio de carreira, sua primeira
indicação ao Oscar como ator coadjuvante. A produção também é muito bem
lembrada, pela Trilha sonora eficiente e fotografia requintada. Além de
Hachman, ocorreu a estreia do cinema (em sequência muito engraçada), de Gene
Wilder. O filme levaria os Oscar de atriz coadjuvante (Estelle Parsons) e
fotografia, mas é muito pouco para um clássico como esse, que inauguraria o
período conhecido como “a nova Hollywood,” e por possuir um dos finais mais
corajosos e impactantes da historia do cinema.
Operação França (1970)
Sinopse: Os detetives de Nova Iorque, "Popeye" Doyle (Gene
Hackman) e Buddy Russo (Roy Scheider) tentam desmantelar uma rede de tráfego de
narcóticos e acabam por descobrir a Operação França. Mas, quando um dos
criminosos tenta matar Doyle, ele inicia uma perseguição mortal que o leva
muito além dos limites da cidade.
Um dos grandes filmes de ação dos anos 70, notável por sua celebre
sequência de perseguição de automóveis. Baseado no livro de Robin Moore
(inspirado em fatos reais), a trama realista retira todo o glamour da atividade
policial. Teve uma continuação e deu origem a um telefilme Popeye Doyle (86),
com Ed O Nell substituindo Hackman no papel titulo. Oscar de filme, diretor,
ator (Hackman), roteiro adaptado e montagem.
Curiosidade: Gene Hackman e Roy Scheider fizeram patrulha com os
policiais Eddie Egan e Sonny Grosso durante um mês, antes do início das
filmagens, para pegar melhor o espírito de seus personagens. Posteriormente
Egan e Grosso fizeram pequenas pontas como supervisores da polícia.
Os Implacáveis (1972)
Sinopse: Detento, preso há quatro anos, planeja sua fuga com a ajuda de
sua mulher. Os dois propõem assaltar um banco e dividirem o lucro com um político
corrupto, em troca da liberdade dele. Mas, durante o assalto, as coisas não
saem como planejado.
Com roteiro de Walter Hill, baseado no livro de Jim Thompson, Os
Implacáveis conta ainda uma dupla de atores em ascensão. Steve McQueen ainda
desfrutava de grande popularidade por conta de Bullitt. Ali MacGraw vinha do
estrondoso sucesso de Love Story. Originalmente, o filme seria dirigido por
Peter Bogdanovich e estrelado por Cybill Shephard. Quando os produtores
contrataram MacGraw, ele, que era casado com Shephard, abandonou o projeto.
Peckinpah assumiu o posto e imprimiu sua marca. A trama gira em torno de Doc
McCoy (McQueen), que está preso há quatro anos. Com muita ousadia, com a ajuda
da sua mulher Carol (MacGraw), ele elabora um plano de fuga aparentemente
simples: McCoy pede que sua mulher faça um acordo com Jack Beynon (Ben
Johnson), um político corrupto. O acordo consiste na libertação de McCoy. Em
troca, ele assaltará um banco e dividirá o dinheiro com Beynon. Claro que as
coisas não acontecem como estavam planejadas e isso torna Os Implacáveis o que
ele verdadeiramente é: um grande filme de ação. Tudo conspirou a favor: um
roteiro bem escrito, uma direção inspirada, uma montagem ágil, uma trilha
sonora perfeita e os atores certos. Duas curiosidades: 1) McQueen e MacGraw se
apaixonaram durante as filmagens; 2) Esta mesma história foi refilmada em 1994,
com o título de A Fuga, tendo Alec Baldwin e Kim Basinger.
Cães de Aluguel (1990)
Sinopse: Joe Cabot (Lawrence Tierney), um experiente criminoso, reuniu
seis bandidos para um grande roubo de diamantes, mas estes seis homens não
sabem nada um sobre os outros e cada um utiliza uma cor como codinome. Porém
durante o assalto algo ao saiu , pois diversos policiais esperavam no local.
Mr. White (Harvey Keitel) levou Mr. Orange (Tim Roth), que na fuga levou um
tiro na barriga e morrerá se não tiver logo atendimento médico, para o armazém
onde tinha sido combinado que todos se encontrassem. Logo depois chegou Mr.
Pink (Steve Buscemi), que está certo que um deles é um policial disfarçado e
eles precisam descobrir quem os traiu.
Vigorosa estréia na direção do também ator e roteirista Tarantino,
inspirada em uma trama do Rashomon de Akira Kurosawa em que o fato é contado em
diversos pontos de vista. Embora lembre o inicio da carreira de Scorsese, a
narrativa seca e violenta tem um frescor irresistível e uma segurança
invejável. Já no primeiro filme, Tarantino estabeleceria diversas
características, que viriam se espalhar em todos os seus filmes, como diálogos
espertos e afiados, que referenciam a cultura pop (como cinema, séries e HQ),
violência estilizada, trilha sonora (com sucessos de ontem e hoje), a estética
que se filmava nos anos 70, piadas inteligentes e personagens um mais
carismático do que o outro.
A simples trama de um grupo de assaltantes poderia render um filme
dispensável nas mãos de outro diretor, mas com Tarantino, ele faz com alma, e
ao mesmo tempo, é uma forma do próprio cineasta se expressar nas palavras dos
próprios personagens, seja quando faz uma critica com humor negro sobre as
gorjetas, ou quando faz referencias ao mundo pop que ele curtia quando jovem. O
elenco liderado por conhecidos como Harvey Keitel (Taxi Drive) ajuda para
colocar mais lenha na fogueira, ao começar por Steve Buscemi, no papel de sua
vida, onde no inicio do filme (onde todo o elenco principal esta reunido
almoçando) levanta uma teoria sobre as gorjetas. Mas o mundo não estava
preparado para o desempenho assombroso de Michael Madsen, onde faz o verdadeiro
psicopata do grupo, e que não dispensa em se divertir em torturar um pobre
policial. É nesta seqüência, que ocorre a tão famosa cena do corte da orelha,
que embora Tarantino use seus truques de câmera, a cena ainda continua
chocante. É neste momento que o cineasta mostra porque veio, pois além de
tornar a cena chocante (mesmo não mostrando explicitamente), surpreende em
momentos originais e inesperados, como quando Madsen vai pegar um galão de
gasolina na rua. Tarantino com sua câmera acompanha Madsen durante esse
percurso, da saída do personagem do local, até a ida no carro para pegar a
gasolina, para então retornar ao local dos acontecimentos, e isso tudo, numa
seqüência sem cortes. O porquê de ele ter criado dessa forma, nesse momento é o
que menos importa, porque num filme convencional, toda a forma de se filmar uma
cena similar como essa, seria esquecível, porque outro diretor faria o
convencional de sempre naquele tempo (1991).
Com um final chocante e que sela o destino de todos os protagonistas,
Cães de Aluguel foi um marco no inicio de carreira de Tarantino, e ao mesmo
tempo, uma espécie de ensaio, para a consagração do cinema independente dos
anos 90. Mas mal o público tinha uma vaga idéia do melhor que estaria por vir
em 94.
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