Nos dias 22 e 23 de
outubro eu estarei participando do curso Cinema Explícito: Êxtase, censura e
transgressão, criado pelo Cine Um e ministrado pelo escritor e crítico de
cinema Rodrigo Gerace. Enquanto os dias da atividade não chegam, por aqui eu
irei relembrar um pouco dos principais filmes do cinema explicito, dos quais
não só nos excita como também nos provoca e nos faz pensar.
O LADO CRÍTICO, POLÊMICO E EXPLICITO DE LARS VON TRIER
Os Idiotas (1998)
O segundo filme do
movimento Dogma 95 criado por Von Trier e Thomas Vinterberg, que preza um
cinema menos comercial, mais simples, sem tecnologia em nenhum durante qualquer
processo do filme, diferente do padrão hollywoodiano que tanto estamos
acostumados. E aqui vemos um filme completamente simples e caseiro, quase
documental com câmeras tremidas, microfones aparecendo a toda hora, sombras dos
produtores e assim por diante, e assim o Dogma diz que pode-se fazer um bom
filme sem o equipamento milionário que vemos na américa. E por isso não é um
filme para qualquer pessoa, e sua historia e personagens também não são muito
digeríveis.
Aqui vemos um grupo
de pessoas que se fingem de doentes mentais para fazer um protesto ante a
sociedade hipócrita que existe, uma sociedade que não se importa mais com o
próximo que pensa somente em como vai ter mais poder e como ficar mais rico,
mas que em momento nenhum se importa com a felicidade?
Mas isso é colocado
em prova. Será que fingir ser um idiota é de fato uma ideologia para atacar a
sociedade, ou apenas uma forma de fugir da realidade?
Cada um do grupo está
ali por algum motivo, mas principalmente porque quer ser feliz, liberar esse
idiota que existe dentro de você, esse que não se importa com o que esta
acontecendo ao redor e sente com mais força os sentimentos que o mundo lhe
oferece.
E isso também é um
meio de enfrentar a sociedade, a mesma que diz que não vê problema nenhum em
conhecer um deficiente até o momento que esse deficiente começa a babar em seu
ombro. E assim começa a inventar desculpas para não viver com isso como uma
"separação de bairros", ou aquele cumprimento de longe sem emoção,
pois quanto mais longe melhor, porque assim não se tem contato.
O elenco está ótimo a toda
hora, em nenhum momento você vê algum ator faltar muito menos menos capazes, e
isso alavanca ainda mais a força que o filme tem. Von Trier como diretor de
elenco também está fenomenal que consegue extrair o máximo de seus atores, a
ponto de ter cenas de sexo explicito (sim, onde você vê a penetração) e que
chega perto do pornográfico, mas se ajusta onde quer chegar.
ANTICRISTO (2009)
Neste filme Lars Von
Trier vai totalmente contra maré, ou seja, contra tudo que o público em geral espera de um filme, do
qual cria uma trama que choca desde a primeira cena, até seu momento final.
Dividido em três partes, junto com um prólogo e um epílogo, o filme carrega
inúmeras belas imagens nunca antes vistas no cinema, mas ao mesmo tempo com
imagens que faz o espectador se contorcer na cadeira e ficar se perguntando, “o
que esta acontecendo?”
O prólogo, por
exemplo, apresenta o casal protagonista do filme num momento de grande
intimidade, (acredite, aparece tudo) ao mesmo tempo o filho único deles sai do
quarto, se aproxima da janela, caindo para morte, numa sequência em preto e
branco e câmera lenta nunca vista antes na historia do cinema. Além disso, essa sequência é embalada com a trilha sonora clássica do Hande que fica ecoando em
nossas mentes por um bom tempo. Só por essa sequência já vale todo o filme, mas
não satisfeito, o diretor nos força a assistir a cenas de pura tensão, terror
psicológico, sexo explicito e mutilação das mais terríveis.
Tudo isso para contar
uma historia que levanta questões como: “da onde vem o mau do homem?”; “onde
fica o céu e o inferno?”. Talvez a resposta esteja no subconsciente da pessoa, onde
ela pode tanto criar a mais pura paz para si, como também o verdadeiro inferno
na terra. Cada um cria o seu mundo conforme você administra a sua vida no dia a
dia. Essa foi a conclusão que eu tive após assistir a esse filme, mas cada um
irá tirar suas próprias conclusões e portanto o que eu disse seja apenas a
ponta do iceberg.
Charlotte Gainsbourg
(A Noiva Perfeita, 21 Gramas) e Willem Dafoe (Homem-Aranha 2, Manderlay),
interpretam seus papeis como se fossem os último de suas vidas. Se Dafoe entrega
novamente uma bela interpretação, Charlotte entrega uma das melhores e mais polêmicas
interpretações dos últimos tempos, pois ela é responsável por umas das sequências mais perturbadoras do longa metragem. Não me surpreenderia se a
pessoa mais dura do planeta recuasse o rosto nesse determinado momento.
Reerguido das cinzas,
após problemas profissionais e pessoais na época, Lars Von Trier cria aqui um filme inquietante,
forte, explicito e cheio de conteúdo.Saído da sua mente no tempo que estava
passando por uma terrível depressão. Isso talvez explique o filme ser como ele
é, pois Lars retirou tudo que tinha em sua mente depressiva e colocou na tela.
Porém, ao em vez de a gente assistir um filme vazio, testemunhamos uma trama
que será lembrada ao longo das décadas.
Ninfomaníaca (2014)
Volume 1
Considerado “persona
non grata” em Cannes depois de declarações bombásticas durante o lançamento do filme
Melancolia, Von Trier retorna com esse projeto digno novamente de nota, que
vinha sendo divulgado de uma forma maciça de propagandas, tanto pela internet,
como TV e revistas de cinema. Mas para a
surpresa de todo mundo, resultado final foi uma produção de mais de cinco horas
de projeção, o que forçou a tomar decisão de lançar o filme em duas partes,
sendo que a segunda será lançada no próximo mês de março.
Nessas primeiras duas
horas de trama, conhecemos Joe (Charlotte Gainsbourg), uma enigmática mulher
que é encontrada desmaiada em um beco sujo. É levada para a casa do Seligman
(Stellan Skarsgård) para que possa se recuperar. Ela então começa a contar a
sua história e o que a levou a se tornar uma ninfomaníaca, desde que era
criança, até os seus vinte e poucos anos (interpretada pela jovem e ótima atriz
Stacy Martin).
Através de cinco
capítulos, acompanhamos a perda da virgindade, a primeira paixão(?), a
descoberta da libido, a relação estranha
com o pai (Christian Slater) e o número estrondoso de parceiros sexuais
crescendo cada vez mais. Quanto às tão polêmicas cenas de sexo, é importante
salientar que foi lançado uma versão por
aqui com cortes (a estendida será exibida em Festival de Veneza), mas creio que
a alteração esteja apenas no tempo de duração desses momentos que, já são
suficientemente chocantes, muito embora não seja nada fora do comum que já nos
acostumamos a ver em muitos outros filmes e sinceramente passa longe do que é
visto num filme pornô.
Ninfomaníaca, pelo
menos nessa primeira parte, conquistou a minha simpatia por saber prender a
nossa atenção do começo ao fim(?) e tentar saber do porquê ela ter se tornado
assim. Além disso, a fusão das cenas com conhecimentos culturais que vai da
musica clássica, para a melhor forma de pescar peixe (ou homem) tornam a sessão
ainda mais imperdível. Das cenas do filme, destaco a participação de Uma
Thurman, como uma desequilibrada esposa de um dos amantes da protagonista.
Embora em pouco tempo de cena, Thurman da um verdadeiro show de interpretação
que é algo que não se via dela desde Kill Bill.
Infelizmente quando a
gente está todo envolvido com o filme, ele acaba, mas deixando claro através de
cenas nos créditos que o melhor estar por vir.
Volume 2
Lars von Trier não
tem medo de cutucar, incomodar e tão pouco falar o que bem entender. Embora
polêmico, o cineasta gradualmente foi se tornando ao longo desses últimos anos
um dos mais novos diretores autorais que se têm notícias e filmes como
Anticristo e Melancolia fortalece isso. No épico Ninfomaníaca: Volume 1
acompanhamos a narrativa contada por Joe (Charlotte Gainsbourg), onde se é
explorado os seus anos em busca pelo prazer sexual não importando qual preço a
pagar.
Nesta sequência que
complementa a trama, adentramos mais ainda ao universo explicito da
protagonista, que talvez busque no sexo e masoquismo a mesma sensação que um
dia havia sentido e chegado até mesmo a ver santos no céu. Ousado como ninguém
Von Trier não poupa o espectador ao misturar cenas explicitas de sexo e
violência, mas que por incrível que pareça, funde muito bem ao se fazer um
mosaico de acontecimentos nos quais nos leva a verdadeira natureza do
subconsciente da personagem. Uma vez lá, conseguimos enxergar não uma mulher
fria e calculista em busca dos seus objetivos, mas alguém frágil que tenta
achar o caminho da felicidade através de métodos pouco comuns.
Desde o Anticristo
Von Trier tenta criar uma espécie de analise filmada sobre os mistérios da
mente das pessoas, dos seus desejos, melancolias e loucuras. Talvez
Ninfomaníaca seja uma espécie de encerramento sobre essa analise do mundo do
sexo, sobre até aonde a pessoa chega a isso, que vai do seu ápice, para a sua
queda e. por fim, buscar uma redenção particular. Não é um filme fácil de ser
visto, principalmente para uma pessoa conservadora, sendo mais indicado para
pessoas com a mente aberta e que enxergam ali alguma mensagem escondida nas
entrelinhas.
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