Nos dias 22 e 23 de outubro eu estarei participando do curso Cinema Explícito: Êxtase, censura e transgressão, criado pelo Cine Um e ministrado pelo escritor e crítico de cinema Rodrigo Gerace. Enquanto os dias da atividade não chegam, por aqui eu irei relembrar um pouco dos principais filmes do cinema explicito, dos quais não só nos excita como também nos provoca e nos faz pensar.
Ficamos explícitos
devido ao estrangeiro
Quem me acompanha por
aqui no meu blog, pode desfrutar recentemente as minhas matérias sobre a Pornochanchada
(leia mais clicando aqui) subgênero de grande sucesso no Brasil e que nasceu na
Boca do Lixo. Visto hoje as tramas são, na maioria das vezes, inocentes e o sexo
nem beirava muito a pornografia. Porém, acredito que dois filmes vindos do
exterior fez com que a Boca começasse a ousar mais em seus filmes. Confira
abaixo:
O Império dos
Sentidos (1976)
Nagisa Oshima já era
um veterano do cinema do Japão, tendo sido inclusive, ter feito parte do grupo
de jovens cineastas, que criaram ótimos filmes, No inicio dos anos 50, que
muitos consideram esse período, como "Nouvelle Vague" do cinema
japonês. Mas foi somente em 1976, que Oshima ganhou os holofotes pelo mundo,
através desse filme erótico provocante e que tem muito a dizer.
Lembrando um pouco
elementos de sucesso do clássico O Ultimo Tango em Paris, acompanhamos os
encontros sexuais do casal central da trama, cujo encontro, vai evoluindo de
tal forma ao longo da projeção, que culmina num dos momentos mais inesperados
daquela época. Sexo, loucura e morte atravessam juntas a cada cena, numa
espécie de ritual, onde cada ato não é o suficiente para saciar ambos. Devido a
isso, o filme foi considerado em muitos países como obsceno e impróprio para
ser assistido, mas devido a toda essa polêmica, atraiu milhares de cinéfilos
curiosos, para ver cenas de sexo explicitas, até então limitadas ao mercado da
pornografia.
Muitos tentam
entender a mensagem que o filme passa. Talvez a mais válida, seja que, a
entrega dos protagonistas para um sexo sem limites, tenha sido um símbolo de um
final de uma época. Sendo que os anos de 1960, onde a paz, amor e o sexo sem
limites dos jovens daquele tempo, estavam sendo ultrapassados, por uma
sociedade e política mais conservadora. Talvez a intenção do cineasta nunca
tenha sido polemizar, mas sim criar um filme premonitório, embora outras
teorias possam ser levadas mais a fundo.
Calígula (1979)
Esse pediu para ser polêmico
desde o principio, mas a meu ver, se era para fazer um verdadeiro retrato dos
dias do maníaco imperador Calígula governando em Roma, não tinha como ser
diferente. Interessante foi o fato do diretor Tinto Brass ter conseguido
convencer os atores Malcolm McDowell, Peter O'Toole e Hellen Mirrem em atuarem
nesse filme, mas soube-se depois, que eles não sabiam que o filme iria possuir
cenas de sexo explícito, sendo que nem mesmo o próprio diretor sabia. Na
realidade as cenas adicionais foram filmadas pelo Bob Guccione, fundador da
revista Penthouse e reunindo algumas das estrelas do cinema pornográfico da
época.
Na época do lançamento, o
filme foi duramente criticado mas aos poucos alguns críticos foram reconhecendo
que a produção é a que mais possuiu pé no chão ao retratar o lado o obscuro, obsceno
e pecaminoso daquele universo romano daquele tempo.
Hora de ousar
Devido a esses dois filmes
acima, a Pornochanchada precisou perder um pouco de sua inocência e ousar em
seus filmes. Os títulos abaixo são talvez os melhores representantes dessas
mudanças.
A Noite das Taras (1980)
Pode-se dizer que A Noite
das Taras foi uma virada na mesa para a Boca do Lixo naquele período, sendo que
o local já produzia com toda força e sucesso o subgênero da pornochanchada e
aqui deram um passo mais ousado. Se
antes as cenas de sexo vistas em outros filmes eram tanto que inocentes, A
Noite das Taras foi o ponta pé inicial para deixar tudo mais explicito. Como o
filme foi dirigido por três cineastas, sendo que um dos seguimentos foi feito
pelo ator David Cardoso (Noites Vazias), o filme também foi original nesse
quesito, gerando uma continuação (Noite das Taras II) e inúmeros outros títulos que pegaram carona
com o sucesso.
Aqui Tarados (1981)
Dividido novamente em
três seguimentos: A Tia de André, onde um rapaz adolescente se envolve
sexualmente com a tia sexualmente ativa. O segundo episódio, A Viúva do Dr.
Vidal, apresenta um toque de morbidez, ao mostrar uma viúva que decide se
vingar do marido abusivo, transando com um amante sobre o caixão no dia do seu
funeral. Já o terceiro é o melhor, intitulado O Pasteleiro e estrelado pelo
ator e cineasta da época John Doo.
Nessa trama, um
pasteleiro (John Doo) convida uma prostituta (Alvamar Tadeu) a passar a noite
com ele em seu apartamento. O que era para ser apenas um programa simples acaba
virando um verdadeiro show de horror e sexualmente explicito. Disparado a
melhor trama do filme e até hoje lembrado por muitos fãs e entendedores do gênero
de horror dentro do Brasil como Carlos Primati.
A
Noite dos Bacanais (1981)
E se
faltava mais sexo explícito nos filmes anteriores, aqui neste tem de sobra. Fernando, marido meio conservador tenta segurar como pode
o casamento, especialmente quando sua esposa (Zaíra Bueno) sugere que, para
reavivá-lo, deveriam experimentar diferentes práticas sexuais, a fim de não
cair na monotonia. Sua esposa tampouco quer engravidar. Muito a contragosto,
Fernando topa participar das festas de swing, e convence a mulher a ter um bebê
de proveta.
A
trama aqui é o que menos importa, pois o roteiro se entrega ao sexo estremo do
começo ao fim. Isso claro dava lucro aos estúdios, pois não poderiam ficar atrás
com relação aos títulos americanos e de outros países. Porém, duas coisas
fizeram com que a produção de filmes explícitos da Boca do Lixo entrasse em decadência:
crise econômica e VHS.
Se o
primeiro motivo não é novidade para o nosso país o VHS foi fator determinante
para as mudanças. As pessoas não queriam mais assistir ao sexo explicito no
cinema, mas sim escondido e no conforto da sua casa. Com isso, o que era um dia
a era de ouro da Boca do Lixo com as suas Pornochanchadas, acabou então ficando
no passado, mas entrando para história do nosso cinema brasileiro.
Na próxima
postagem, falarei sobre cruzada de
pernas, cinema noir erótico e taras por sexo e acidentes de carros ao mesmo
tempo.
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