Sinopse: Através dos
corredores e grades de um hospital psiquiátrico, busca-se personagens e
histórias que revelem as fronteiras do que é considerado loucura. Por meio de,
principalmente, personagens femininos, o documentário exala as contradições da
razão nos fazendo refletir nossos próprios conflitos, desejos e erros.
Após a década de 80,
a saúde mental no Brasil teve grandes avanços
com o surgimento da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) para tentar extinguir
os maus tratos e a política de prisão silenciadora dos manicômios. Mas
infelizmente os mesmos ainda não foram totalmente limados, devido a uma série
de interesses de empresários, políticos corruptos e, principalmente, da
indústria farmacêutica que vive das custas de pacientes. Em sua estréia como
cineasta, a diretora Fernanda Fontes Vareille cria nesse documentário de pouco
mais de uma hora, uma câmera da qual representa a sua visão pessoal com relação
ao que ela enxerga e revela o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira (fundado em
1892) de dentro para fora, dando voz e um olhar especial a essa parcela da
população que é muito pouco ouvida pela sociedade.
Por vários anos o
louco foi retratado no cinema, fotografia e outras artes como alguém que tem
que viver em lugar fechado, estereotipado, desacreditado, com sintomas muito
mais latentes devido aos efeitos adversos das medicações fortíssimas e terapias
desumanas como eletrochoque e lobotomia do que pela própria loucura. Porém, no
filme, Vareille consegue mostrar a realidade da clausura de forma crítica,
apontando os vícios do sistema e, principalmente, sua ineficiência.
Em A loucura entre
nós são discutidos temas pertinentes a realidade das pessoas
institucionalizadas como a autonomia que lhes é tirada no momento em que passam
a viver num hospital, as dificuldades da família para o cuidado, agravada principalmente
pela falta de conhecimento do assunto e pela própria situação financeira
vulnerável; o impacto das medicações diárias e vitalícias na vida dos paciente;
a subjetividade de cada um; o aspecto questionador da loucura – a medida que se
passa a não mais fazer questão de seguir as convenções sociais – e,
principalmente, humaniza a figura do louco através de suas vozes, canções,
expressões e histórias de vida.
Os personagens reais
do documentário revelam seus anseios, desejos e delírios de forma muito
honesta, levando o espectador a questionar o que é a loucura e quais os
impactos negativos do modelo asilar para o interno. As personagens mais fortes
são as femininas que norteiam o filme de formas marcantes; alegres ou muito
dolorosas, as vezes até fatais. Essa delicadeza do universo feminino,
concomitante, com a força e fibra delas é o marco da narrativa. A fotografia é
crua, onde a câmera é um personagem revelador, ele inspira confiança aos
depoentes que a usam como um espaço para verbalizar suas angustias, desejos e
alegrias. As grades do Juliano Moreira são palco de vários depoimentos
espontâneos e momentos de cada um. Sua presença é muito forte no filme.
Infelizmente, os
manicômios ainda são uma realidade e enquanto eles existirem, o tratamento psicossocial
não alcançará sua máxima potência, por isso, esse filme é de extrema
importância, principalmente nesse momento de tantos retrocessos políticos e
econômicos para a saúde mental no Brasil.
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