Sinopse: O oceano
contém a história de toda a humanidade. O mar porta todas as vozes da terra e
aquelas que vêm do cosmo exterior. Água recebe impulso das estrelas e as conduz
para os seres vivos. Água, a maior fronteira no Chile, também retém o segredo
de dois botões misteriosos que foram encontrados no fundo de seu oceano. Chile,
com suas 2.670 milhas de litoral e o maior arquipélago do mundo, apresenta uma
paisagem sobrenatural. Nele estão vulcões, montanhas e geleiras, e também as
vozes dos povos indígenas da Patagônia, os primeiros marinheiros ingleses e
seus prisioneiros políticos. Alguns relatam que a água tem memória.
Cineasta do elogiado Nostalgia
da Luz (2010), o chileno Patricio Guzmán volta adentrar o espírito do seu país
em mais um documentário de sua autoria, do qual desvenda elementos, tanto políticos
como ecológicos e provando que ambos é um só elemento como um todo. Em Botão de
Pérola, Guzmán coloca o oceano em cena para dizer, tanto sobre a magia de nosso
planeta, como também o terror que os mares oculta e depois escancara, A partir da própria
narração do cineasta, o filme abre as suas cortinas através de uma crônica sobre
a Patagônia, região sul do Chile.
A água por si só se
encontra em toda parte, em belos planos sequências, sendo visto do auto e dando
uma dimensão de sua grandiosidade. Guzmán vai então pintando um quadro sobre o caráter
atemporal do litoral Chileno. Resumidamente, a água é uma condição Elemental,
cultural e que faz parte da essência do país como um todo e que somente os
povos mais antigos daquela terra tinham uma exatidão maior sobre isso.
A partir daí,
gradualmente, Guzmán usa bem o tempo de duração de seu filme ao adentrar sobre
assuntos delicados a partir de sua visão pessoal: o massacre dos indígenas da
Patagônia, entre o século 19 e o início do século 20, e o assassinato de
pessoas durante a ditadura militar de Pinochet, que destituiu Salvador Allende
do poder e lançou o país num tenebroso período de violência e repressão. Uma
visão pessoal do cineasta com relação a esses fatos, mas que jamais foge da
verdade nua e crua.
Existe durante a
projeção uma clara ligação pessoal entre o cineasta, personagens e assuntos
tratados durante o documentário. Os sobreviventes dos povos indígenas, os
poucos que restaram, contam as suas sagas pessoais dos seus antepassados. Em um
dos momentos mais significativos da obra, dois entrevistados são incentivados a
falarem palavras e a narrarem os eventos através de sua língua nativa, da qual
infelizmente se encontra hoje em extinção.
Ao colocar na mesa
sobre os massacres da ditadura, Guzmán relembra as pessoas sem vida e jogadas
ao mar por helicópteros. Em um momento peculiar, o longa reconstitui até mesmo
a maneira como as pessoas eram preparadas para terem o seu fim no fundo do mar.
Porém, por mais que o governo escondesse os seus horrores, a natureza do local
foi capaz de fossilizar pedaços significativos e desvendando histórias que
jamais devem ser esquecidas.
Achado no oceano, o
cineasta consegue um símbolo vindo de um passado mórbido: botões de pérolas. O
documentário então se molda através de imagens e palavras simples, mas
carregadas pela força da vida da qual não adormece mesmo depois da morte. Tudo
isso a partir do momento em que o cineasta partiu para uma saga para compreender
melhor as suas raízes e acabou encontrando uma ligação forte entre a humanidade,
natureza e até os confins do universo.
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