Sinopse: Um contador
comum e educado (Ben Affleck) segue uma rotina aparentemente tranqüila. O que
as pessoas ao seu redor nem imaginam é que ele leva uma vida dupla, quando sai
pelas ruas para agir como assassino de aluguel.
Ben Affleck e Matt
Damon são amigos de longa data, cresceram juntos, formaram a dupla de
roteiristas de Gênio Indomável e do qual eles ganharam o Oscar de roteiro original.
Após isso, ambos seguiram carreiras distintas: enquanto Matt Damon se
consagrava como um ator versátil e atuando na franquia do espião desmemoriado Borne,
sendo esta elogiada pela crítica, Affleck por sua vez foi decaindo cada vez
mais em atuações duvidosas e fracassos de bilheteria. A virada de mesa veio no
momento que começou a se dedicar na direção, dirigindo filmes como Medo da
Verdade e se consagrando com um Oscar de melhor filme por Argo.
Mas isso não foi o bastante
para o astro que quis provar o seu valor a todo custo. Fã de HQ, Affleck fez de
tudo para ser o novo Batman do cinema e que, apesar de ter despertado a ira dos
fãs do personagem no princípio, ele não somente convenceu como Batman, como
também irá retornar e dirigir um filme solo só dele. Mas como eu disse, Affleck
vive numa fase de provar o seu potencial, ao ponto de atuar em O Contador, uma espécie
de Identidade do Borne alternativa do seu amigo Damon, mas carregando algumas características
de sua própria carreira solo e ganhando então um pouco de identidade própria.
Aqui,
Affleck interpreta uma pessoa que sofre desde jovem de uma espécie de autismo,
mas que ao mesmo tempo, lhe fez ganhar a capacidade de desenvolver e solucionar
contas e valores complexos. Adulto, se torna um brilhante contador, ao ponto de
ser convidado por inúmeros donos de empresas para cuidar de suas contas. Porém,
o seu personagem acaba se envolvendo com inúmeras organizações criminosas, fazendo
dele não só um alvo, como também os seus ex- clientes.
Dirigido
por Gavin
O'Connor (Guerreiro), o filme se apresenta como uma espécie de filme policial
noir contemporâneo, onde a bela fotografia e trilha sonora já no principio da
obra, dão uma dimensão do que virá a seguir. Mas o cinéfilo mais atento irá reparar
que há elementos familiares, como se o roteirista pegasse idéias já bem usadas de
outros filmes ou até mesmo franquias: da já citada franquia do Borne a Batman e
até mesmo Uma Mente Brilhante, já que o personagem de Affleck é uma espécie de
versão anabolizada do John Nash, personagem de Russel Crowe daquele filme.
Comparações a parte, é
preciso pelo menos reconhecer o esforço de Ben Affleck, pois a todo o momento
ele tenta nos convencer de que é um autista, mas com uma genialidade fora do
normal. Mesmo ainda tendo o físico de Batman VS Superman, o ator constrói uns trejeitos
que o fazem parecer uma pessoa insociável com as demais pessoas que ele convive
no seu dia a dia. É tocante, por exemplo, quando aos poucos o seu personagem começa
a se interagir com pessoas da qual no fundo ele gosta, principalmente através
da personagem Dana (Anna Kendrick), do qual se cria uma relação singela e
proporcionando os momentos mais divertidos do filme.
Mas se até a metade do
filme seja uma espécie de apresentação e construção dos personagens, após isso,
o filme muda de cara e entrando em um cenário de teorias de conspiração, embalado
com inúmeras cenas de ação e tiroteio. Se por um lado a situação começa a sair
um pouco dos trilhos da realidade, em compensação, o cineasta O'Connor se
mostra hábil na construção dessas cenas, das quais ele insere uma montagem
caprichada e efeitos sonoros convincentes. É nesses momentos, aliás, que me
lembrou os melhores momentos da carreira de Michael Mann, principalmente com o
seu clássico Fogo contra Fogo, muito embora a minha comparação possa ser um
tanto que precipitada.
Falando em
precipitação, não se precipite com apresentação de alguns personagens num primeiro
momento, pois eles são como uma espécie de cebolas, da quais gradualmente vão sendo
descascadas e revelando o seu real ser. Se por um lado o misterioso Brax (Jon
Bernthal) não nos engana com relação a sua verdadeira origem, por outro lado, o agente
Ray King nos surpreende com revelações surpreendentes e fazendo com que o filme
mude de cara de uma hora para outra. Interpretado com maestria por J.K. Simmons, o
seu Ray King é o típico personagem que poderia se apresentar como medíocre, mas
que ganha contornos melodramáticos arrebatadores e ganhando de imediato a nossa
simpatia.
Contudo, é a partir
desse momento que o filme ganha ainda mais elementos familiares, um tanto que previsíveis
e dando a entender que não será a última vez que veremos esse personagem de Ben Affleck. Se alguém tinha dúvidas disso, elas caem por terra nos minutos finais
do filme, quando o roteiro cria uma revelação mirabolante e fazendo com que a
palavra “Oráculo” soe em nossas mentes como um todo. Quem é familiar com relação ao
universo do Batman, por exemplo, sabe muito bem do que eu estou falando.
Mas não é pelo fato
de velhas fórmulas usadas em O Contador que o fazem dele um filme descartado,
muito pelo contrário, pois ele é uma legitima prova de que é possível criar
boas histórias que nos atraia, mesmo quando elas nos passam a todo o momento aquela
sensação já conhecida do déjà-vu.
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