BOI NEON
Sinopse: Iremar
(Juliano Cazarré) e um grupo de trabalhadores viajam pelo nordeste do Brasil
trabalhando em vaquejadas, preparando os animais para apresentações em arenas.
Nas horas vagas, Iremar costura várias peças de roupa e sonha em um dia
trabalhar no polo de confecção do estado.
O filme possui inúmeras
camadas de interpretação, mas aqui destaco algumas delas: filosóficas, antropológicas,
psicanalíticas e religiosas. No principio, ao assistir o filme, parecia que a
trama destacava a animalidade do ser humano, mas não a encarando como um lastro
negativo, a ser superado pela cultura, e sim como um patrimônio cuja negação é
não apenas impossível como indesejável. O estado animal, tal como mostrada pelo
cineasta Gabriel Mascaro (Doméstica), é genial. Ela não contradiz a cultura ou
a espiritualidade em seu sentido mais amplo, mas a enriquece e se expande. Ao
reconhecer e viver sua dimensão animal, o homem não se rebaixa, mas se eleva a
um novo nível terreno.
Daí que as imagens mais
marcantes desse longa metragem, plasticamente robusto como um touro e delicado
como um retalho de seda talvez sejam a da masturbação de um cavalo de raça por
um homem (para colher seu valioso sêmen), a da dança de uma mulher com cabeça
de cavalo e a contagiante e magnética cena de sexo que não vou descrever aqui
para não estragar a poesia e a surpresa.
Desde já um dos melhores
filmes nacionais do ano.
OBRA
Sinopse: São Paulo. Às
vésperas do nascimento de seu primeiro filho, um arquiteto, João Carlos
(Irandhir Santos), encontra uma ossada na obra que está prestes a iniciar. A
descoberta desestabiliza sua vida, fazendo com que ele questione sua profissão,
a cidade em que vive e até mesmo o relacionamento com sua esposa (Lola Peploe).
Nesse belo filme do estreante Gregório Graziosi, a
cidade de São Paulo é representada uma cidade invasiva, opressora e agressiva
que a todo o momento está sobrepondo seu peso sobre os corpos. A trilha sonora
é uma estratégia fundamental que permite ao cinéfilo viver essa sensação de
desconforto e agitação. Durante todo o filme, está presente os sons da inquieta
cidade que nunca dorme.
Outro destaque do filme é a
fotografia em preto e branco, baseada no trabalho estético do fotografo
Cristiano Mascaro. O aspecto temporal está intrinsecamente ligado ao tipo de
enquadramento que foi dado ao filme. A câmera parada passa a sensação de que
temos tempo para olhar com atenção a ambientação e a relação dos personagens
com o espaço. O que mais chama atenção é a distância e a frieza com que os
personagens são filmados.
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