Nos dias 10 e 11 de
Novembro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre, onde participarei do curso Cinema
Queer – Identidade e Diversidade, criado pelo Cine Um e ministrado pela
professora de cinema Rosângela Fachel de Medeiros. Enquanto os dias da atividade
não chegam eu por aqui irei destacar os principais filmes desse cinema ousado,
diversificado e colorido.
Glen ou
Glenda? (1953)
Sinopse: Para
investigar o suicídio de um travesti, um detetive da polícia busca informações
com um psiquiatra entendido no assunto, que lhe conta duas histórias. Na
primeira, Glen é casado com Barbara, mas deve descobrir uma maneira de contá-la
sobre as suas necessidades de utilizar seus vestidos; na segunda, Alan decide
se transformar em mulher fisicamente, através de uma cirurgia.
Após o sucesso do
filme Ed Wood (94), muitos dos filmes do próprio foram redescobertos para uma nova geração
cinéfila, dentre eles, esse que foi o primeiro filme que ele dirigiu em 1853,
sendo que já na época, condecorado a pior coisa já filmada. Mas visto
atualmente, percebesse que Wood tinha grande imaginação, ao misturar tomadas de
Bela Lugosi como um conquistador do mundo, em sequências extraídas de
documentários e filmes destruídos que ele achou em um estúdio abandonado. É
curiosa a conversa do médico, muito didatismo, sobre o assunto e a parte
ficcional, na qual Wood que, realmente gostava de se vestir de mulher,
interpreta Glen e Glenda. As partes nem sempre se casam (fato muito visto nos
filmes de Wood) e o absurdo que provocam justifica o charme que o filme acabou
adquirindo ao longo do tempo.
Infâmia
(1961)
Sinopse: Duas
professoras de uma escola particular têm suas vidas viradas do avesso quando
uma das crianças denuncia um sentimento um pouco maior que amizade entre as
duas. A avó da garota, poderosa na cidade, trata de espalhar a história e fazer
com que todos se voltem contra as pecadoras.
Para assistir a esse
filme é preciso se colocar como se estivesse no início dos anos sessenta, pois
naquele tempo, o homossexualismo ainda era um grande tabu na sociedade e no
cinema. Portanto, o podemos considerar como um dos filmes mais ousados e
corajosos daquele tempo, mesmo não possuindo nenhuma cena explicita e sim
sugerida. Dirigido pelo diretor William Wyler (Bem Hur) o filme mostra o que
acontece com a vida das pessoas a partir de um simples boato maldoso através
(justamente) de uma criança, interpretada com maestria por Karen Balkin.
Apesar de pouca
idade, Balkin carrega todos os trejeitos de uma cobra perante sua presa para
assim fazer com ela o que bem entender e a interpretação da menina é tão enigmática
e poderosa e que com certeza esta na lista de melhores vilãs do cinema. Quanto
a dupla central feminina, Audrey Hepburn cumpre bem o seu desempenho, mas é
Shirley MacLaine que dá um verdadeiro show de interpretação principalmente no
ato final da trama onde ela faz um desabafo e uma revelação na qual todos
imaginavam desde o principio da trama, mesmo contrariando o olhar mais
conservador da época, que simplesmente não aceitava tal verdade e só por isso.
O filme merece ser redescoberto pelo público atual.
Pink
Flamingos (1972)
Sinopse: A trama
narra a trajetória de Divine, uma drag queen que quer recuperar o título de
pessoa mais podreira da região em que vive.
Um casal de doidos
que sequestra mulheres, faz um empregado engravidá-las e vende seus filhos…para
alimentar um mercado de vendas de drogas na porta de escolas. E os personagens
(muito) esquisitos não param por aí. Tem Mama Edie, a mãe de Divine, uma velha
que fica num berço e tem um apetite imenso para ovos; Crackers, filho de
Divine, que tem um estranho apetite sexual por galinhas; e Cotton, que gosta de
ver Crackers se satisfazendo com as galinhas e com toda a mulher que tem o azar
de cruzar com o caminho dele.
Até hoje muitos consideram
um dos filmes de pior espécie da história, mas que conseguiu ganhar os ares de
cult e elementos é o que não faltam, já que o filme é um verdadeiro tapa na
cara contra as pessoas que ainda vendiam o politicamente correto dentro dos EUA
naquela época. Existe a lenda que o seu cineasta John Waters filmou a trama em
apenas dois dias e ao preço de apenas R$ 10 mil dólares. E se a pessoa que
assisti consegue assistir a esse filme até o seu final, aguarde para o banquete
de fezes canino do qual ninguém consegue escapar de uma sensação de ânsia de
vomito.
Querele
(1982)
Sinopse: O marinheiro
francês Querelle (Brad Davis) desembarca em Brest. Marginal e movido pelo
desejo, torna-se frequentador assíduo do bordel da cafetina Lysiane (Jeanne
Moreau), amante de seu irmão Robert (Hanno Pöschl). Lysiane é casada com Nono
(Günther Kaufmann), que costuma jogar dados com os clientes. Quem ganha pode
ficar com ela, quem perde deve transar com ele.
Drama surreal
franco-alemão realizado em 1982 por Rainer Werner Fassbinder, Querelle - Ein
Pakt mit dem Teufel foi estrelado por Brad Davis, Franco Nero, Jeanne
Moreau, Hanno Poschl, Laurent Malet e Gunther Kaufmann, entre outros. O
argumento foi escrito por Fassbinder e Burkhardt Driest, adaptando o livro
Querelle de Brest, de Jean Genet.Polémico como todos os trabalhos de Jean Genet
- misógino ladrão, para além de artista - o filme joga grande parte dos seus
méritos no ambiente claustrofóbico e estilizado que Fassbinder (também ele um
autor maldito) fez sobrepor às interpretações, propositadamente pouco
trabalhadas. Nota-se um efeito de espelho entre a ficção e a realidade do(s)
seu(s) autor(es), colocando-se Fassbinder numa posição quase laboratorial,
dando ao filme um cunho de artifício que é comentado e sublinhado do exterior.
É, pois, mais uma experiência sensorial do que uma narrativa convencional.
Acabou por ser o último filme do seu autor, que morreu de "overdose"
quando estava na fase de montagem, pondo um fim precoce a uma breve, mas
intensa carreira.
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