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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 21 de março de 2025

Cine Especial: Conhecendo 'De repente, no último verão'

Dirigido por Joseph L. Mankiewicz, o filme é baseado em uma peça teatral de um ato escrita por Tennessee Williams - que também assinou "Um bonde chamado desejo" - e roteirizado pelo próprio autor e pelo escritor Gore Vidal. "De repente, no último verão" (1959), foi um filme bastante a frente do seu tempo, mas que teve que ser  readaptado para a sua transição para o cinema, pois o longa foi lançado ainda nos tempos do Código Hays  e que jamais aceitaria temas que fossem lavados de forma explicita, que vai desde ao incesto, homossexualidade, estupro e canibalismo. Ainda assim, foi muito por causa das críticas contra a obra como um todo que ele acabou fazendo um grande sucesso, além de reunir nomes de peso como Taylor e Hepburn que  acabaram sendo indicadas ao Oscar de melhor atriz, e Liz foi premiada com o Globo de Ouro por seu desempenho como a complexa Catherine Holly - papel que Patricia Neal havia defendido com garra na montagem da peça em Londres.

Apesar de aparecer somente do primeiro terço de projeção, Catherine, a personagem de Taylor, é a peça-chave da trama de Williams, dirigida com pulso firme por Mankiewicz - famoso por sua tirania e pelo Oscar de diretor pelo inesquecível "A malvada"(1950). Antes que ela surja em cena, o público é apresentado a ela através da história contada por sua tia, a milionária Violet Venable (Katharine Hepburn), que vive isolada em uma mansão excêntrica, solitária desde a morte de seu único filho, Sebastian, descrito por ela como um poeta sensível e delicado. Segundo Violet, a morte do rapaz, acontecida um ano antes devido a um ataque cardíaco em uma praia da Espanha, causou um grande desequilíbrio em sua sobrinha, que, desde então, vem sofrendo de sérios problemas de desequilíbrio mental.

Preocupada, Violet quer que John Crukowicz (Montgomery Clift) - famoso por suas experiências no campo da neurocirurgia - faça uma lobotomia na jovem, acenando com uma generosa doação para seu hospital. Quando conhece Catherine, porém, o médico passa a desconfiar que sua doença tem origem nas lembranças ocultas que ela tem da morte do primo e resolve forçá-la a encarar a tragédia - que não aconteceu conforme narrado por Violet. Ainda que exagere em muitos pontos em sua trama - inspirada em sua própria irmã, que sofreu uma lobotomia - Williams consegue, em "De repente, no último verão", construir uma tensão crescente, que prende a atenção do público até seus momentos finais e que chocam mesmo nos dias atuais.

Sem pausa para o humor ou instantes mais leves, o roteiro discorre fluentemente sobre assuntos pouco agradáveis ao gosto médio do público, conforme dito anteriormente. Não há espaço para romantismo - ainda que a atração entre o médico e Catherine seja óbvia - ou para soluções fáceis. Mankiewicz filma o hospital psiquiátrico sem dourar a pílula, mostrando com crueza o estado dos pacientes e não hesita em pesar a mão quando necessário. Infelizmente as restrições da censura - que limou a maioria das cenas que esclareciam a real personalidade de Sebastian - não permitiram que o filme fosse mais a fundo, o que certamente daria à obra uma ressonância ainda maior.

Forte, tenso e interpretado por três dos maiores interpretes da era dourada de Hollywood, "De repente, no último verão" é uma prova de que, apesar do caráter pouco admirável, Joseph L. Mankiewicz era capaz de prestar grandes serviços à sétima arte.

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