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sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Cine Especial: Conhecendo 'O Destemido Senhor da Guerra'

Clint Eastwood foi visto recentemente filmando no que talvez seja o seu último filme, já que o veterano ator está com os seus noventa e quatro anos de idade e já não escondendo mais o peso da velhice. Porém, independente do que irá acontecer no futuro, Eastwood sempre será lembrado como um diretor versátil, tendo dividido praticamente todos os gêneros e se atualizando conforme as mudanças que ocorreram no mundo. Para os fãs mais entusiastas ele será para sempre aquele típico macho alfa, que atira primeiro e pergunta depois e sempre soltando uma frase efeito enquanto fuma um grande charuto.

Não que isso signifique ele tenha sido assim no mundo real, sendo que o próprio cinema colaborou para moldá-lo dessa forma, ao ser sempre lembrado como o Estranho sem Nome da "Trilogia dos dólares" de Sergio Leone, ou do policial durão visto em "Perseguidor Implacável" (1972). Por conta disso, eu acho que o próprio quis fazer graça dessa imagem de durão em algumas ocasiões em sua carreira vasta e, portanto, comecei a procurar algum título que batesse com esse meu pensamento. Eis que acho "O Destemido Senhor da Guerra" (1986), dirigido e estrelado pelo próprio Eastwood e do qual brinca com uma trama baseada em um fato verídico inusitado.

Na trama, Clint Eastwwod interpreta Tom Highway, um sargento de longa data, que esteve em guerras como as da Coréia e do Vietnã e que se encontra a beira da aposentadoria. Porém, ao se meter sempre em brigas, ele acaba sendo recrutado para treinar um grupo de soldados indisciplinados para que posteriormente sejam levados para a missão de resgatar americanos que estão cercados por cubanos em Granada. Ao mesmo tempo que terá que enfrentar jovens irresponsáveis o protagonista tentará de tudo para reatar com a sua ex-esposa.

Na época que o filme foi rodado o cinema norte americano vivia da explosão de sucesso dos filmes de ação em que o protagonista mais parecia um exército de um homem só. Revistos hoje, muitos desses títulos acabaram se tornando uma piada pela inverossimilhança e sendo algo para ser somente assistível e jamais levado a sério. Talvez Clint Eastwwod tenha notado isso já naqueles tempos, ao ponto de fazer o seu filme quase como uma piada com relação aos filmes de guerra, onde a patriotada vista aqui está mais para figuras estereotipadas propositalmente e que revisto hoje a gente acha a maior graça.

Eastwwod brinca a todo momento com a sua imagem de durão, ao ponto de a gente até temer com aqueles que forem brincar as suas custas. Um desses casos, por exemplo, é o personagem Jones (Mario Van Peebles), que busca pela fama através da música e que acaba se cruzando com o protagonista durante uma viagem de ônibus. Não demora muito para que ambos se cruzem de novo quando o protagonista chega a sua base e revê Jones como se fosse um aperitivo para ser mastigado imediatamente.

A grande graça do filme está na relação entre o sargento e sua equipe de soldados desleixada, que acaba sentindo na pele o que é o trabalho a ser feito para se tornar um soldado de verdade. Curiosamente, essa primeira parte me lembrou "Nascido Para Matar" (1987), do mestre Stanley Kubrick, mas sem aquela dose cavalar de crítica acida com relação ao papel de um soldado a serviço de uma guerra inútil. Porém, sutilmente, parece que Eastwwod toca o dedo na ferida neste caso, mas de uma forma mais subliminar e sem que muitos pudessem constatar isso.

Curiosamente, o filme é baseado em um fato verídico ocorrido na durante a missão de soldados norte-americanos na Ilha de Granada em 1983 para salvar um grupo de americanos. Até aí tudo bem, se não fosse por um telefone inusitado que um soldado fez para obter ajuda e de tão absurda que acabou se tornando a base central para a realização do filme. O roteiro é de James Carabatsos, veterano da Guerra do Vietnã que ingressou em Hollywood em 1977 com o roteiro cujo título era "Heróis Sem Causa" e que acabou se tornando esse filme.

Em alguns aspectos o filme acabou envelhecendo um pouco mal, principalmente com relação a invasão da ilha. Para aqueles que esperam pura adrenalina, essa passagem do filme mais parece com os melhores momentos de "Loucademia de Polícia" do que qualquer outra coisa. A meu ver, o próprio Eastwwod tirar sarro de toda essa situação, pois o próprio gênero de ação e guerra dos anos oitenta se tornaria uma piada em uma revisão futura e não poderia ser diferente. Ao brincar com todo esse estereótipo dentro do gênero, a meu ver, o diretor acertou precisamente para não se levar nada a sério.

"O Destemido Senhor da Guerra" nada mais é do que um curioso filme de guerra estrelado e dirigido por Clint Eastwood que soube brincar com a perspectiva e olhar daqueles que estavam sendo induzidos ao buscar o sonho americano. 

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