Sinopse: A história de um pai de família (Josh Hartnett) que ao levar a filha para um show descobre que o evento é uma grande armadilha para captura-lo.
O que aconteceu com M. Night Shyamalan?
Essa é uma pergunta que muitos fazem com relação ao realizador, pois desde o "Sexto Sentido" (1999) parece que há uma obrigação dele fazer um filme que supere o seu maior feito. Reconheço que o diretor deu uns tropeções feios ao longo da carreira, mas também dizer que os seus filmes são descartáveis é vindo de pessoas que não entendem nada de cinema. Pode-se dizer que ele teve uma primeira e segunda fase da carreira e o filme "A Visita" (2015) foi o ponta pé inicial dessa segunda fase que fez o cineasta obter novamente atenção dos cinéfilos.
Então vieram "Fragmentado"(2016), "Vidro"(2019) "Tempo"(2021) e "Batem à porta"(2023). Esse último, aliás, foi o mais criticado e que, convenhamos, o realizador pesou um pouco a sua mão principalmente em querer continuar ao usar o gênero fantástico transitando com elementos verossímeis, mas que acabam não se alinhando corretamente. Eis que então o cineasta sai da fantasia e embarca no suspense "Armadilha" (2024), que não é o melhor de sua carreira, mas ao menos é puro cinema.
A trama segue a história de Cooper (Josh Hartnett) e sua filha adolescente que vão em um show de uma cantora da música pop chamada Lady Raven (Saleka Shyamalan). Logo, Cooper percebe que há uma presença grande de policiais ao redor e isso o deixa intrigado. Logo ele descobre que o show é uma grande armadilha para capturar e prender um terrível serial Killer, porém, o próprio Cooper que estamos assistindo é o assassino.
A premissa acima é bem interessante, pois nos simpatizamos com o protagonismo e a relação entre pai e filha vista na tela. Porém, a partir do momento que sabemos que Cooper é um perigoso assassino logo percebemos que o filme se torna um verdadeiro jogo de gato e rato e fazendo a gente se perguntar como ele irá fugir ao ver que a força segurança está usando de tudo para pega-lo. M. Night Shyamalan cria então uma atmosfera claustrofóbica, onde o local, por maior que ele seja, se torna sufocante na medida em que o protagonista tenta de todos os meios escapar do local.
Como sempre, o realizador usa a sua câmera para contar a sua história, onde o olhar de sua lente representa o olhar observador do assassino, que fisga cada centímetro do local e procura estuda-lo para obter uma chance de fuga. Josh Hartnett eu o conheço desde os tempos em que ele se destacou em filmes como "Pearl Harbor" (2001) e 30 Dias de Noite (2007) e, convenhamos, nunca achei um grande interprete, mas aqui é preciso reconhecer que ele constrói para si um assassino inteligente, frio e com um conflito interno que somente ele entende. Ao mesmo tempo ele nos passa uma fúria contida, mas que não a esconde quando a sua cor de pele muda e tão pouco o seu olhar diabólico quando aflora.
O filme funciona principalmente ao fazer uma análise sobre cada expressão que o personagem faz, principalmente quando Shyamalan filma o rosto do protagonista em um enquadramento como se ele estivesse quebrando a quarta parede e sendo algo que me fez relembrar uma certa cena especifica de "Sinais" (2002). Curiosamente, deve ter sido também um desafio para o realizador ao recriar um típico show que é sempre visto nestes tipos de eventos da música pop e se alinhando com a proposta principal da obra. Contudo, o filme não esconde o lado pretensioso do realizador, já que a cantora da trama é interpretada pela sua própria filha e sendo uma forma de divulgar o seu talento artístico diga-se de passagem.
Aliás, é fácil acusar Shyamalan de ser uma pessoa pretensiosa ao fazer um filme a sua maneira doa o que doer. Porém, ao não agir dessa forma ele acaba sucumbindo ao sistema hollywoodiano e realizando longas duvidosos como "O Último Mestre do Ar" (2010) e "Depois da Terra" (2013). Ao sair desse terreno ele cria filmes a sua maneira, mas sempre despertando aquela sensação dos cinéfilos que ele ainda poderia ter feito algo melhor, principalmente com relação aos típicos finais surpresas que ele quase sempre elabora para pegar as pessoas desprevenidas. Aqui, porém, não há nada disso, sendo que a revelação vinda de uma determinada personagem ligada ao protagonista não provoca nenhum espanto, mas somente revelando o fato de que o assassino não é infalível.
O filme nos dá aquela sensação de que faltou algo no meio do caminho, mas somente pelo fato de termos a consciência do que o realizador já havia feito no passado. Ao criar um filme de suspense verossímil e distante do gênero fantástico que ele tanto gosta, Shyamalan abre uma porta para futuras possibilidades do que ele pode colocar em prática dentro de outros gêneros, mas fazendo a gente se perguntar se ele conseguirá manter a sua visão autoral por muito tempo. Ao menos, é preciso reconhecer que ele se arrisca em querer passar algo de significativo dentro desse cinemão norte americano que só se preocupa com os números para manter o seu sustento.
Em "Armadilha", M. Night Shyamalan se arrisca em um novo território, mas colocando em dúvida sobre o seu próprio futuro dentro do cinema hollywoodiano.
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