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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Cine Especial: 'A Bruxa de Blair - 25 Anos Depois'

O público em geral está tão acostumado com diversas imagens, seja elas verossímeis ou de CGI, que fica cada vez mais difícil delas aceitarem algo mais sugestivo. O gênero de horror está recheado de assassinos ou monstros que surgem na tela, mas há alguns casos em que a criatura demora para surgir em cena e fazendo a gente temer muito mais ela, pois não sabemos até aquele momento como ela é. No clássico "Alien - 8º Passageiro" (1979) a criatura criada e dirigida por Ridley Scott sempre ataca por cima, ou através das sombras, levando um bom tempo para termos uma dimensão de como ela é e até lá tudo é algo muito sugestivo e gerando expectativa dentro de nós.

Em tempos em que os nossos olhos estão cada vez mais cansados com o uso do CGI barato é sempre bom apreciarmos uma obra que usa poucos recursos para elaborar uma trama que nos transmite algo mais pé no chão e que sintamos até mesmo o peso da situação. Para o cinéfilo, logicamente, isso se torna algo curioso para ser observado, mas sendo um grande esforço para o público em geral que se encontra mal acostumado com tudo que é jogado em seus colos de forma explicada e muito mastigada. "A Bruxa de Blair" (1999) é um filme que dividiu opiniões na época, sendo que eu fui um dos defensores daquele período, mas sentindo na pele o desprezo daqueles que odiaram.

Após ter assistido ao filme no saudoso Cine Imperial de Porto Alegre eu logo fui comentar para o pessoal da escola, sendo que os mesmos haviam assistido também, mas odiando o longa como um todo e ficando até mesmo com raiva daqueles que gostaram. Eu acabei levando até mesmo uma pedrada por um dos garotos que não gostaram do longa unicamente por não aceitar eu ter gostado e tornando a discussão muito mais acalorada para dizer o mínimo. Fico imaginando se o filme tivesse sido lançado em uma época em que as redes sociais é um saco sem fundo de discursos de ódio e que qualquer passo em falso é o suficiente para algo ou alguém ser cancelado.

Curiosamente, o filme estreou em uma época que a internet ainda estava engatinhando, sendo que os realizadores criaram um site especialmente para o filme e vendendo para o público a ideia que os eventos vistos na tela eram reais. Daniel Myrick e Eduardo Sanchez passaram para nós que as imagens vistas haviam sido gravadas por três estudantes de cinema que adentraram nas matas do estado de Maryland para fazer um documentário sobre a lenda da Bruxa de Blair e que desapareceram misteriosamente. Um ano depois, uma sacola cheia de rolos de filmes e fitas de vídeo foi encontrada na mata. As imagens registradas pelo trio dão algumas pistas sobre seu macabro destino.

Porém, tudo não passava de um filme "found footage", que consiste em fazer com que as pessoas acreditem que estão assistindo a filmagens que foram encontradas, com tudo o que isso implica em termos de trabalho de câmera instável e tomadas mal enquadradas. Rodado com apenas R$ 60 mil dólares, o filme faturou quase R$ 250 milhões de dólares na época e se tornando um dos filmes mais bem sucedidos na história. Vale destacar que além do site oficial da obra havia sido lançado dias antes do lançamento um documentário do canal norte-americano, Syfy, que dava ainda mais veracidade sobre o desaparecimento dos três jovens e explorando ainda mais o mistério envolvendo a Bruxa.

O filme foi realizado durante oito dias, onde os realizadores Daniel Myrick e Eduardo Sanchez deixaram os três interpretes, Heather Donahue, Michael C. Williams, Joshua Leonard, sozinhos dentro da mata, tendo apenas pouca comida, equipamento e anotações sobre o que eles deveriam falar ou agir na frente da câmera. Embora sabendo o que tinham que falar conforme o que estava descrito no roteiro, muito o que é visto na tela é improvisação, já que os três atores eram iniciantes e fazendo com as suas ações e reações se tornassem ainda mais verossímeis. Pelo fato de ficarem cada vez mais isolados dentro da floresta isso fez com que os três realmente sentissem medo, sendo que em algumas tomadas a gente sente o real pavor vindo da parte deles.

Daniel Myrick e Eduardo Sanchez, por sua vez, sempre criaram meios de fazer diversos barulhos dentro da mata, além de criar pilhas de pedra, bonecos de madeira em um determinado momento do longa e tornando tudo algo ainda mais estranho para ser observado de perto. Além disso, antes dos personagens irem para mata, os mesmos acabaram entrevistando pessoas de Maryland, sendo que elas relatam sobre as diversas histórias macabras que ouviram ao longo dos anos, tanto com relação a figura da Bruxa, como também de certo personagem que havia cometido uma atrocidade com um grupo de crianças. Tudo isso colaborando para dar maior realismo para o projeto e cujo resultado acabou sendo mais do que positivo.

Vale destacar que o filme foi lançado em uma época que ocorreu o "Dogma 95" onde os cineastas Thomas Vinterberg e Lars von Trier iniciaram o movimento. Em suas regras se pregava que o cinema fosse feito da forma mais natural possível, sendo proibidos a adição de sons que não estão em cena, truques de câmera e filtros, construção ou produção de cenários e utilização de estúdios. As filmagens deviam ser feitas à mão, mesmo que a câmera balance, e não podiam ser utilizadas iluminações especiais, apenas a luz ambiente. O movimento também não aceitava filmes de gênero e ações “superficiais” nos longas, como armas e assassinatos.

Embora não faça parte do momento, eu acredito que Daniel Myrick e Eduardo Sanchez se inspiraram nele na realização do longa, já que as imagens da câmera são quase sempre tremidas, não há trilha sonora e a iluminação é sempre natural, sendo que as cenas vistas na noite é algo granulado e que por vezes quase não vemos o que ocorre em cena. Talvez o ápice do filme se encontra no ato final da trama, onde os personagens encontram uma misteriosa casa abandonada, onde há vestígios de marcas de mãos de crianças pequenas, ocorre os gritos de um deles ecoando no local, já que o mesmo havia sumido anteriormente e terminando de uma forma demasiadamente abrupta. Me lembro claramente que muitos xingaram dentro da sessão de cinema em que eu estava quando o filme se encerrou dessa forma, pois a maioria com certeza gostaria de ter visto ao menos o nariz da misteriosa Bruxa.

O filme foi divisor de águas para o subgênero "found footage", sendo que a partir dele o cinema foi invadido por diversos títulos com uma proposta semelhante, sendo que o meu preferido acabou se tornando o Espanhol "REC" (2007). Logicamente, "A Bruxa de Blair" gerou duas continuações, mas que jamais superaram o peso de qualidade do filme original e nasceram unicamente para obter bilheteria em torno de todo o sucesso que havia se gerado. Pode-se dizer que o filme de 1999 também pode ser interpretado como a transição da forma de divulgação de longas metragens pela internet e que dali em diante nada mais seria como antes em termos de marketing.

"A Bruxa de Blair" é um dos filmes de horror mais importantes da história do cinema, onde o teor sugestivo ainda é a ferramenta mais eficaz para assustar a plateia e fazendo com ela não se desgrude da tela. 

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