Sinopse: ASTEROID CITY decorre numa cidade ficcional em pleno deserto americano, por volta de 1955.
Wes Anderson é um dos poucos cineastas autorais do cinema norte americano atual que mantém 100% de sua visão e não permitindo que ninguém mexa com relação ao que ele construiu. Portanto, em tempos em que estamos afogados em somente franquias cinematográficas intermináveis, é através de sua filmografia que fugimos do convencional e embarcamos em sua realidade cartunesca, colorida e fora do comum. "Asteroid City" (2023) é Wes Anderson na veia, cuja os fãs irão amá-lo enquanto o público em geral poderá muito bem não compreender a proposta principal de um gênio.
"Asteroid City" se passa na década de 1950 em uma cidade fictícia do deserto norte-americano. Encenada como uma peça, a história segue uma convenção organizada para unir alunos e pais em uma competição acadêmica, até que o caos repentinamente se instala. Acontecimentos em escala global ameaçam perturbar espetacularmente o itinerário da convenção Junior Stargazer/Space Cadet na pacata cidade, à medida que se desenrolam os eventos capazes de mudar o mundo para sempre.
Wes Anderson fala sobre um povo norte americano sem identidade própria, sendo mais especificamente durante os tempos dos anos cinquenta, dos quais eu chamo de uma geração que vivia em uma realidade falsamente plástica e que seguiam as ordens de um governo que os persuadiam em acreditar que viviam no melhor país do mundo. Porém, eu acredito que entre o final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta esse mesmo povo começou gradualmente acordar, seja através de um tiro na cabeça contra John F. Kennedy, ou através da ida do homem à lua. Neste último caso, por exemplo, o astronauta norte americano não encontrou nenhum ET por lá, mas sim somente pedras e poeira cósmica para analisar.
A missão, portanto, era somente para saber sobre qual seria a nação que colocaria a sua bandeira naquela imensidão vazia. Sendo assim, o filme fala sobre uma sociedade perdida, da qual procura sempre questionar a sua própria realidade, mesmo quando governantes tentam vender que os mesmos vivem na sua total normalidade. A cidade de Asteroid City seria uma representação de toda qualquer cidade daqueles tempos falsamente plásticos, mas sendo formado por um grupo de pessoas prontas para gritar a qualquer momento. Sendo falsamente plástica não é à toa, portanto, que Wes Anderson cria uma peça teatral dentro do longa para apresentar a principal trama.
Claro que todo o filme que se preze é meramente uma ficção, só que aqui o realizador já nos deixa bastante claro e para fazermos com que não levemos a sério todos os absurdos que ocorrem na trama, muito embora o nosso próprio mundo real sempre nos apresentou algumas situações pouco lucidas. Com um grande elenco, incluindo pessoas de quilates como Tom Hanks, cada um ali se sente mais do que a vontade ao se entregar aos seus respectivos personagens excêntricos, mas que não escondem de nós um lado humano do qual nos identificamos, mesmo quando achamos ao contrário. A personagem de Scarlett Johansson, por exemplo, é uma estrela que procura fugir de sua própria realidade, mas testemunhando com aquelas demais pessoas daquele local esquecido pelo mundo uma situação que os fazem se tornar diminutivos e fazendo questionar o que há por detrás da porta desta infinita terra.
A situação que ocorre, aliás, se torna surpreendente principalmente quando nós adentramos ao filme sem obter quase nenhuma informação antes disso. Portanto, a situação me fez lembrar de um momento inusitado de uma das temporadas de "Fargo", produzida pelos Irmãos Coen e que, curiosamente, percebo agora certa familiaridade das visões de ambos os cineastas. São realizadores que nos puxam para fora do convencional, mesmo quando estamos mais do que adormecidos devido a tanta previsibilidade do cinema norte americano.
Falando nisso, é curioso observar que o realizador nos diz que: “Não dá pra acordar se a gente não adormecer!”
Em tempos em que diversos blockbuster do cinemão norte americano nós dá sono talvez esse seja o ponto que nos alerta para fugirmos dos efeitos especiais artificiais, além de histórias vazias, para então embarcarmos em uma trama fora dos padrões e que faça com que os nossos olhos desfrutem de momentos mais frescos e de conteúdo reflexivo. Ou você acorda ou continuará dormindo sem sonhar.
"Asteroid City" é um filme puramente Wes Anderson, onde os "não fãs" tentaram fugir enquanto os demais poderão desfrutar de sua visão cartunesca e muito saborosa para ser degustada.
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