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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Cine Dica: Em Cartaz - 'Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança'

Sinopse: Com a dificuldade de aceitar o terrível destino da filha e a falta de justiça por parte da polícia, a mente de Carla começa a alimentar o desejo de vingança. Tomada pelo instinto, ela rompe todos os seus limites, sai em busca dos culpados e vivencia uma espiral insana de violência.  

No já clássico "O Senhor das Armas" (2005) vemos na abertura o nascimento de uma bala, da qual passa por diversas fases, desde a sua construção, venda e para, enfim, ser usada na execução de uma pessoa. Quando isso acontece os familiares das vítimas exigem vingança, mas quando se investiga se percebe que o verdadeiro autor do atentado pode estar muito mais embaixo do que que se imagina. "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" (2023) faz uma análise das motivações que levam as pessoas ao desejarem a morte de bandido, mas cujo problema se encontra abaixo ou no topo de uma grande Torre de Babel infinita.

Dirigido por Marcos Bernstein, acompanhamos a história da mãe, a advogada Carla (Cláudia Abreu), que vê a filha ser baleada durante uma tentativa de assalto. A menina fica em estado grave. Carla, sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma procura por vingança. No balanço entre a vida e a morte a qualquer minuto, ela decide fazer a justiça com as próprias mãos e testar os seus próprios limites.

Embora ainda eu ache que seja um novato na área é preciso reconhecer que Marcos Bernstein faz um trabalho como ninguém neste suspense policial, do qual transita entre momentos dramáticos para a mais pura tensão. Isso se deve ao fato principalmente no seu jogo de edição, onde as cenas são quase que frenéticas em alguns momentos, principalmente quando o passado e presente se cruzam a todo momento. Vale destacar a fotografia, por vezes, acinzentada e que se distancia do mundo real e se enveredando quase por um ambiente do mais puro pesadelo.

Talvez essa elaboração de edição e fotografia seja uma espécie de representação do estado de espírito e mental da protagonista, da qual se vê em uma encruzilhada cuja tentação em apertar o gatilho para matar é gritante, mas procurando por coragem e sem amarras para cometer tal ato. O filme nos joga na questão sobre até que ponto é preciso ser usado o bom senso e onde começa os motivos que nos leva a desejar eliminar aqueles que um dia mataram os nossos entes queridos. Porém, não espere aquele discurso de "bandido bom é bandido morto", pois a proposta aqui não é essa, mas sim em mostrar o verdadeiro autor do crime pode não se encontrar em uma simples periferia, mas sim bem próximo de nós do que se imagina.

Claudia Abreu nos brinda com uma atuação poderosa, da qual a mesma consegue construir para a sua personagem alguém que se encontra em pedaços por dentro, mas buscando quase sempre motivações que a leve a não querer desistir. A busca pela vingança se torna a sua principal motivação, mas a levando para uma situação inusitada, com o direito de fazer com que a sua própria arma se torne a sua pior inimiga. Já a personagem de Júlia Lemmertz seria uma espécie de outro lado da mesma moeda, onde a mesma busca despertar uma razão racional dentro da protagonista, mas que acaba experimentando os mesmos sentimento de perda que sua colega teve um dia.

O filme chega em um momento em que porte ou não de armas sempre está em pauta na mídia, principalmente após termos sentido na pele um governo que apoiava que tudo e a todos usassem uma arma. A meu ver, o nascimento de uma bala talvez não comece nem sequer em uma fábrica, mas a partir do momento em que poderosos se dão no direito de lhe dizer que atirar para matar é a solução, quando na verdade só nos leva cada vez mais em um beco sem saída. "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança" é sobre um Brasil exigindo justiça, mas não sabendo mais ao certo por onde procurar para dar o seu derradeiro disparo. 

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