Sobre o filme: A trama apresenta um conjunto de oito sonhos do próprio realizador. E por ser um filme tão pessoal, acabamos por não exigir um produto com as arestas devidamente limadas. Afinal de contas tratam-se de sonhos, produtos do nosso inconsciente.
Uma seleção dos sonhos que o cineasta empreendeu no decorrer dos seus 80 anos até então. Nota-se um crescimento gradual no ponto de vista da personagem de um sonho para aquele imediatamente a seguir, e assim sucessivamente. A exímia montagem parte igualmente do mestre japonês, acabando por possuir todos os meios para uma produção bastante fiel ao projeto sonhado.
Na colectânea de sonhos podem destacar-se alguns elementos recorrentes, tais como a morte, a hierarquia, o poder da mão do homem, etc. Soldados que se recusam a aceitar a insignificância da morte. Uma criança que parte em busca de redenção, de forma a evitar a morte. Alpinistas que tentam sobreviver, mesmo perante as adversidades do tempo. O homem individual como poluidor de uma população. Os efeitos da radiação que direcionam a uma lei da sobrevivência, apoiada numa ordem hierárquica.
Kurosawa entrega-nos uma mão-cheia de pequenas histórias que não necessitam de principio, meio e fim para serem devidamente apreciadas. A duração de cada plano é devidamente adequada à ação correspondente. No episódio dos alpinistas, por exemplo, chega a ser sufocante a caminhada levada a cabo por estes, devido à sequência de planos assente numa natureza tão fria e solitária. De destacar a maquilhagem e o guarda-roupa, ambos sublimes. A banda-sonora de Shinichirô Ikebe acompanha na perfeição as imagens que desfilam perante os nossos olhos. Mais uma pincelada transcendente na tela em que se exibe a carreira de Akira Kurosawa.
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