Sinopse: No centro do Recife, no século 20, conheça a história do centro da cidade contada a partir das salas de cinema que movimentavam a população e ditavam comportamentos.
Kleber Mendonça Filho não é somente um dos melhores cineastas autorais do nosso cinema brasileiro atual, como também ele tem a proeza de falar sobre a sua vida através dos filmes de sua autoria. Tanto "O Som ao Redor" (2012) como "Aquarius" (2016) são obras originais, mas que falam sobre a realidade que o diretor convivia no centro da cidade do Recife e qual ao longo dos anos passou por diversas metamorfoses. Em "Retratos Fantasmas" (2013) o diretor coloca na mesa sobre a sua vida, sobre a sua cidade, sobre os patrimônios históricos do local e que deixaram muita saudade para ele.
O documentário se passa no centro do Recife, durante o século XX. Ao longo de 1 hora e 33 minutos e reunindo imagens de arquivo, fotografias e registros em movimento, o filme busca explorar a história do centro da cidade, contada a partir das salas de cinema que movimentavam a população e ditavam comportamentos. Tendo levado 7 anos para a sua conclusão, o documentário marca o retorno de Kleber ao Festival de Cannes - após vencer o Prêmio do Júri, em 2019, com “Bacurau”.
Embora se passe em Recife é curioso que o documentário tenha despertado em mim lembranças sobre o meu passado, principalmente com relação as primeiras sessões de cinema que eu frequentei com os meus pais quando eu era ainda criança de colo e cujo cinema era o saudoso Cine Imperial da rua das Andradas do centro de Porto Alegre. Portanto, o documentário funciona de forma universal, pois você não precisa morar em Recife para captarmos a mensagem principal do diretor, seja com relação aos laços fortes da família que ele tinha, como também a realidade daquela cidade e da qual a mesma enriqueceu a imaginação do cineasta. É incrível, por exemplo, como a casa vizinha de sua residência que se encontra deteriorada serviu de inspiração para filmes como "Aquarius", sendo que o diretor faz questão de extrair uma cena importante daquele filme e fazendo um paralelo com relação a sua realidade de épocas mais douradas.
Mas o coração do filme pertence no momento em que o realizador visita os antigos cinemas da cidade, sendo que muitos, infelizmente, já não existem mais e dando lugar as farmácias e igrejas evangélicas. Felizmente existe cinemas até hoje lá que se tornaram peças fundamentais para a história do local que é o Cine São Luíz e cujo local atrai diversos tipos de público e fazendo com que a história de lá continue intacta e com muito brilho. Kleber, por sua vez, surpreende principalmente quando desenterra arquivos extraídos de antigos jornais e revelando filmes que foram exibidos na época e que hoje a maioria se tornou clássica.
Curiosamente, o realizador faz uma turnê por esses lugares, cujo cenário abandonado desses cinemas e de outras áreas culturais se tornaram desoladoras, mas não menos interessantes, como se os locais tivessem se tornado um verdadeiro filme de terror. Portanto, quanto mais ele narra em off mais compreendemos a sua paixão pela cidade, assim como as lembranças douradas em que ele convivia com a sua mãe. Vale salientar que são nestas passagens que temos a participação de sua musa Maeve Jinkings e cuja mesma atua em cena como uma espécie de personificação da falecida mãe do cineasta, ou representando momentos importantes em que o próprio cineasta testemunhou ao longo de sua vida.
É engraçado salientar que o filme tenha pouco mais de uma hora e meia, já que a obra possui diversas informações, seja com relação aos patrimônios culturais em deterioração pela cidade de Recife, como também a resistência vinda dos cineastas e de outros que procuram para que as lembranças jamais sejam esquecidas. Ao final do filme tudo que eu senti era para que o cineasta continuasse perambulando a cidade de Recife e fazendo que desfrutássemos cada vez mais de uma cultura distinta, porém, não muito diferente da nossa. E como cereja do bolo, os minutos finais protagonizados pelo próprio diretor são surpreendentes, principalmente por ser protagonizado por um motorista de Uber e que faz com que a reta final a gente aplaude com gosto até o último momento.
"Retratos Fantasmas" é sobre tempos mais dourados que nunca mais irão voltar, mas basta lembrá-los para que eles ainda possam continuar vivos em nossos corações.
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