Sinopse: A professora Emi vê a sua carreira e reputação ameaçadas depois de uma ‘sex tape' pessoal ir parar acidentalmente à Internet. Forçada a enfrentar os pais dos seus alunos que exigem a sua demissão, Emi recusa-se a ceder à pressão.
Sexo todo mundo faz, mas ninguém quer ouvir, pois ainda vivemos em uma sociedade conservadora, porém, bastante hipócrita. A propaganda dos bons costumes que determinadas pessoas que se dizem "cidadãos do bem" põem em prática nada mais são do que uma forma de esconder as suas próprias bestialidades que até Deus dúvida."Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental" (2021) é uma tragicomédia que sintetiza esses tempos hipócritas e do qual se tornou uma verdadeira piada pronta.
Dirigido por Radu Jude, o filme conta a história de Emi, uma professora, vê sua carreira e reputação ameaçadas depois que uma fita de sexo pessoal vazou na Internet. Forçada a encontrar os pais exigindo sua demissão, Emi se recusa a ceder à pressão deles. Em meio a isso, há algo de podre na Dinamarca.
Não é de hoje que o cinema faz uma crítica ácida com relação a hipocrisia da sociedade, principalmente vinda daquela que se acha intocada. Basta nos lembrarmos, por exemplo, do genial Luis Buñuel que dentre os seus títulos estão "O Discreto Charme da Burguesia" (1972) ou "Esse Obscuro Objeto do Desejo" (1977), sendo que ambos possuem um humor absurdo ao colocar o dedo na ferida e revelando o que há por trás da mascaras de certos círculos. Aqui, o filme de Radu Jude segue uma premissa parecida, mas de uma forma muito mais explicita.
Já na abertura, por exemplo, somos pegos desprevenidos devido a cena de sexo explícito protagonizada pela protagonista e seu marido. Logicamente começamos a pensar como as pessoas estão reagindo ao seu lado dentro do cinema, já que a cena em si somente a gente vê em sites pornográficos, mas aqui ela é usada como peça principal de um roteiro muito mais complexo do que imaginamos. Dividido em atos, ao som da animada canção francesa “Eh Toto”, o filme mostra a via cruz da protagonista antes de ser julgada, mas até lá algo mais acontece.
Com elaborados planos sequências, Radu Jude filma a protagonista perambulando na cidade onde vive e justamente em meio a pandemia do Covid-19. Há uma certa tensão no ar, como se algo de ruim pudesse acontecer a qualquer momento, pois sentimos que alguns personagens que surgem na tela estão com o mal humor transbordando. Curiosamente, é como se estivéssemos testemunhando algo realmente real, como no caso da discussão do supermercado, onde a protagonista testemunha o atrito entre duas mulheres e fazendo daquele momento algo bem verossímil.
Aliás, o segundo ato longa metragem é sem sombra de dúvida o mais curioso da obra, onde por um momento a trama principal é deixada de lado e os letreiros começam a surgir na tela onde é contado diversas curiosidades da história humana. Surgem diversas informações que colocam em pauta os equívocos criados pelo ser humano em diversas situações na linha do tempo, onde escancara que a hipocrisia do mesmo já é coisa antiga e que dificilmente será extinguida. Uma pessoa comum deixar vazar um vídeo intimo é deveras absurda para muitos, mas uma boa parcela de uma sociedade eleger determinados imbecis para o principal posto de governos se torna menos explicito, ao menos em um primeiro momento, pois todo o estrago somente virá em um futuro próximo.
Tudo isso se encaminha para o terceiro ato em que acontece um julgamento criado pelos professores, diretores e pais de família contra a professora do tal vídeo pornográfico. Curiosamente, os personagens que aparecem aqui parecem unidimensionais, mas não muito distante da personalidade de alguns do nosso próprio mundo real. É neste momento que o filme ganha tons quase de uma comédia trágica pastelão, mas que nos soa familiares algumas situações, pois posicionamento de alguns ali nada mais é do que algo parecido que vemos em nosso mundo político, religioso e até mesmo próximos de nós, pois a falsidade é o que mais sobra hoje em dia.
"Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental" é uma piada pronta no bom sentido da palavra, ao escancarar a hipocrisia de uma sociedade que esconde o seu lado obscuro para debaixo dos panos e tornando tudo mais volumoso.
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