Nota: Filme exibido para os associados no último dia 28/08/2022
Sinopse: No fundo do Abismo Bifurto, 700 metros dentro da terra, é alcançado pela primeira vez. Os exploradores passam despercebidos dos habitantes da cidade local, mas não pelo pastor do planalto Pollino, onde sua vida solitária e rotineira começa a entrelaçar com a dos viajantes.
O cinema documental e ficção atual se encontra separado somente em uma pequena camada fina, já que foram lançados nos últimos anos obras que quando assistimo mal sabemos distinguir o que é real e o que é reconstituição. São casos que nos é apresentado uma proposta para que despertemos a nossa atenção sobre o que se passa e até que ponto as cenas são realmente verídicas. "IL Buco" (2022) é um longa que reconstitue um possível evento que ocorreu no passado, mas que nos surpreende com seu teor quase documental.
Dirigido por Michelangelo Frammartino, o filme se passa no tempo do boom econômico italiano em 1960, onde o prédio mais alto da Europa está sendo construído no norte da Itália. Já no canto oposto, o Sul, jovens espeleologistas exploram a caverna mais funda do continente, no interior da Calábria. No fundo do Abismo Bifurto, 700 metros dentro da terra, é alcançado pela primeira vez. Os exploradores passam despercebidos dos habitantes da cidade local, mas não pelo pastor do planalto Pollino, onde sua vida solitária e rotineira começa a entrelaçar com a dos viajantes.
Com um belíssimo plano aberto de um morro já na abertura do longa, Michelangelo Frammartino procura interligar aquela natureza natural com a figura de um senhor de idade que acompanha os sons do seu rebanho em volta. logo em seguida vemos empresários desfrutarem da paisagem de um arranha céu enquanto as pessoas de baixo se tornam cada vez mais pontos distantes na medida que o elevador avança. Um verdadeiro contraste de uma beleza natural colorida vinda da natureza, mas cuja a corrida pelo avanço econômico pode ameaçá-la.
Neste último caso, talvez isso nem seja percebido pelo grupo de jovens que começam a descer no fundo da caverna que posteriormente se tornaria a terceira maior do mundo. Na medida em que eles vão rumo as profundezas daquele lugar eles começam achar recursos naturais até então inéditos e fazendo que eles adentrem ainda mais naquela escuridão. É nesses momentos, por exemplo, que o filme ganha um teor ainda mais documental, como se um Werner Herzog se aventurasse naquela caverna assim como ele fez em "Caverna dos Sonhos Esquecidos"(2010).
Ao mesmo tempo, quanto mais aqueles jovens vão ao fundo, imediatamente o senhor de idade começa a passar mal e sendo socorrido pelos seus familiares. No meu entendimento, quanto mais o ser humano mexe em algo que não precisava ser tocado algo de importante nesta terra acaba morrendo aos poucos. O progresso pode trazer futuros frutos, mas jamais substitui o que a natureza já nos havia apresentado.
É um filme que procura nos passar poucas palavras, mas com muitas imagens que falam mais por si do que a gente imagina. Uma obra contemplativa, das quais as suas muitas imagens naturais podem ser interpretadas como simbolismos de tempos mais simples, onde a corrida pela riqueza não era tão viciante e cuja a simplicidade era o nosso maior recurso em vida. Ao invés disso, o progresso avançou, colocando a gente em pura aceleração e fazendo a gente não enxergar mais, tanto o nosso céu, como também as planícies verdejantes que anseiam que nós voltemos a olha-las como antigamente.
"IL Buco" é um curioso e rico filme sobre o lado misterioso das profundezas da natureza, mas que talvez não deveríamos ter tido a ambição de exploradas.
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