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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Cine Dica: Em Cartaz - 'Marte Um'

Sinopse: Uma família negra da periferia de Contagem, Minas Gerais, busca seguir seus sonhos em um país que acaba de eleger como presidente um homem de extrema-direita, que representa o contrário de tudo que eles são. 

É curioso observar que, após o resultado das eleições de 2018, o cinema brasileiro tem nos brindado com tramas em que retratam protagonistas em tempos em que o futuro se encontra completamente indefinido. No recente "O Debate" (2022), por exemplo, testemunhamos um casal de jornalistas que debate sobre o antes e o depois das eleições daquele ano e ao mesmo tempo tentam manter o que havia restado do casamento. "Marte Um" (2022) é sobre sonhos há serem conquistados em um futuro próximo, mesmo quando os rumos do país nos levam para o cenário da incerteza e até mesmo de desespero.

Dirigido por Gabriel Martins, do ótimo "Coração do Mundo" (2019), o filme conta a história da família Martins, que vive tranquilamente nas margens de uma grande cidade brasileira após a decepcionante posse de um presidente extremista de extrema-direita. Sendo uma família negra de classe média baixa, eles sentem a tensão de sua nova realidade. Tércia, a mãe, reinterpreta seu mundo depois que um encontro inesperado a deixa se perguntando se ela é amaldiçoada. Seu marido, Wellington, coloca todas as suas esperanças na carreira de seu filho, Deivinho, que por pressão e querendo agradar o pai, segue as ambições dele, apesar de secretamente aspirar estudar astrofísica e colonizar Marte. Enquanto isso, a filha mais velha, Eunice, se apaixona por uma jovem de espírito livre e questiona se é hora de sair de casa.

Gabriel Martins capricha na apresentação de cada um dos personagens centrais dessa família já na abertura do filme que, por sua vez, ouvimos ao fundo o resultado das eleições de 2018. Embora aquele cenário que todos nós já testemunhamos não afete de forma direta os personagens, é curioso observar que cada um ali age de acordo com a sua perspectiva com relação a realidade atual em sua volta. A mãe, por exemplo, vivida de forma incrível pela atriz Rejane Faria, começa a ter crises de ansiedade após uma situação que a deixou apavorada e cujo o seu sentimento sintetiza o medo atual de vários brasileiros que aqui hoje se encontra.

O medo, aliás, é o que move os personagens principais, seja pelo fato do Pai em temer a perda do seu emprego, como também no caso da filha em ter receio em dar um novo passo em sua vida, mas que não se intimida em assumir um relacionamento com uma outra garota e se mudar de casa. Porém, é no jovem menino da trama que se encontra o verdadeiro coração do filme, vivido pelo ator Cícero Lucas e que nos surpreende em cada cena. O seu personagem é uma representação de vários jovens brasileiros que anseiam em abraçar os seus verdadeiros sonhos, mas que enfrentam sempre algum obstáculo para sanar o seus desejos.

É através dele, por exemplo, que o filme escancara uma juventude sedenta pelo conhecimento, mas cujo os rumos de um governo que investe em armas ao invés na cultura é o que faz vários talentos como ele caírem no esquecimento. Por conta disso, ao vermos a cena em que ele se joga com a sua bicicleta em uma ladeira seria uma representação de uma juventude adormecida pronta para se arriscar na vida, nem que para isso tenha que ir contra a vontade de sua própria família. No caso do pai, muito bem representado pelo veterano Carlos Francisco, é a representação de uma geração que ainda acha que deve servir a classe dominante, quando na verdade o próprio possui o poder de puxar as rédeas e mudar o curso tanto de sua vida como também de sua família.

No ato final da trama, vemos cada um desses personagens tendo que encarar os verdadeiros percalços de um mundo atual cada vez mais selvagem e que não se importa com os que ficam para trás ao longo da história. Portanto, ao vermos a família reunida na cena final sonhando com futuro mais promissor, concluímos que a humanidade deve prosseguir com os seus sonhos, pois é através deles que possuímos a força e a esperança de seguirmos em frente em meio aos obstáculos criados pela inconsequência do ser humano. Premiado com quatro kikitos no 50° Festival de Cinema de Gramado, "Marte Um" é sobre o brasileiro atual sonhando com uma realidade melhor e que deseja acima de tudo um futuro mais promissor. 


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