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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 17 de maio de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: ‘A Máquina Infernal’ / ‘Pão e Gente’

 “A Máquina Infernal” 

Sinopse: Uma gigantesca fábrica enfrenta a crise financeira e a quebra sucessiva das máquinas. Quando uma funcionária é contratada para investigar o problema, ela percebe ruídos estranhos vindos da estrutura do prédio. 

No filme "Trabalhar Cansa" (2011) de Juliana Rojas e Marco Dutra vemos o temor dos personagens centrais perante a possibilidade de não possuir um trabalho estável que os ajude e fazendo com que eles temem pelo seu próprio futuro. Curiosamente, uma misteriosa criatura se encontra enterrada dentro de uma parede, mas a própria se torna secundária dentro da trama, já que o verdadeiro monstro pode estar do lado de fora. O monstro, aliás, poderia estar dando ainda os seus primeiros passos naquele ano de 2011 e tendo o seu primeiro vislumbre quando os retrocessos políticos vindos de Brasília começaram aos poucos a pipocar e tirando os direitos dos trabalhadores por todo o país como se vê hoje em dia.

Com o advento do cinema "pós-terror" atualmente isso colaborou para que houvesse cada vez mais filmes brasileiros que falassem dos temores que os brasileiros sentem atualmente, seja nas questões políticas ou até mesmo da insegurança em meio a realidade opressora. Por conta disso, muitos realizadores com mentes criativas realizaram nos últimos tempos curtas e longas que falassem dos seus medos e mostrando a cara do verdadeiro Brasil de hoje como um todo. "Máquina Infernal" (2021) é um reflexo de uma sociedade trabalhadora cada vez mais se fundindo em seu ambiente de trabalho e tornando tudo mais tenebroso na medida em que o tempo vai passando.

Dirigido pelo estreante Francis Vogner Dos Reis, o filme se passa em uma gigantesca fábrica que enfrenta a crise financeira e a quebra sucessiva das máquinas. Quando uma funcionária chamada Sarah (Carol Castanho) é contratada para investigar o problema, ela percebe ruídos estranhos vindos da estrutura do prédio. A tragédia envolvendo um trabalhador anuncia uma catástrofe de grandes proporções. 

Embora seja uma ficção é curioso que o filme me fez lembrar do documentário "Estou Me Guardando Quando o Carnaval Chegar" (2019) de Marcelo Gomes, já que naquela obra testemunhamos uma sociedade presa no que acredita, ao achar que se tornarão bem sucedidos ao fabricarem sem parar roupas de brim para vender no mundo a fora. Já aqui vemos um grupo de trabalhadores dispostos a continuarem trabalhando, mesmo já estando desempregados, pois o mundo de fora não possui mais espaço para eles obter algum sustento. Na medida em que a trama avança percebemos que aquele ambiente se torna cada vez mais opressor e fazendo com que os funcionários presentes comecem a se comportarem das formas mais estranhas, assim como também começarem a ouvirem ruídos estranhos em volta.  

Em uma determinada cena, por exemplo, vemos um funcionário revelando para a protagonista Sarah uma mão artificial, mas não demonstrando melancolia com relação a situação, mas nos passando certo prazer ao fazer parte dessa fusão entre carne e aço. Se David Cronenberg mostrou essa fusão em "Crash - Estranhos Prazeres" (1996), aqui Francis Vogner Dos Reis vai para um caminho familiar, porém, cujo o resultado se deve as mudanças e retrocessos em que o nosso país convive nestes últimos tempos. O resultado é uma sociedade cada vez mais em estado vegetativo, sem nenhum perceptiva e fazendo com que qualquer monstro de filme de horror tradicional se torne mera brincadeira de jardim da infância. 

Claro que o filme é moldado com todos os ingredientes dos filmes de terror, porém, eles se tornam apenas uma cortina de fumaça para não revelar de imediato com relação ao que realmente acontece em cena. Até o realizador nos surpreende na construção atmosférica mórbida, ao ponto de realmente nos assustarmos em alguns momentos e cuja determinadas situações dentro da fábrica geram mais dúvidas do que respostas. Ao final, não há uma solução plausível para os que convivem com aquele cenário da trama, pois o próprio Brasil do mundo real se encontra com o seu futuro indefinido...pelo menos por enquanto.  

"A Máquina Infernal" é sobre a dependência do homem no seu ambiente de trabalho e do qual não lhe dará nenhum conforto nesta realidade cheia de retrocessos. 


“Pão e Gente” 

Sinopse: Longa aborda o desemprego como tema central, explorando as mazelas vividas pelas pessoas que buscam o pão de cada dia. 

A transição entre o cinema e o teatro pode render uma experiência, no mínimo, curiosa. O problema está no fato que, em alguns casos, a linguagem do teatro funciona somente em um palco, enquanto no cinema a ideia se expande, mas não significa pode dar certo. "Pão e Gente" (2020) é um desses casos em que a obra se divide entre a criatividade e a limitação.

Dirigido por Renan Rovida, "Pão e Gente" é uma adaptação do texto "A Padaria", do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Baseado nessa obra escrita na década de 30, o longa aborda o desemprego como tema central, explorando as mazelas vividas pelas pessoas que buscam o pão de cada dia.

A trama se passa em um bairro qualquer de uma cidade grande do Brasil. Embora seja de origem alemã, é curioso como a proposta se casa com a realidade de muitos brasileiros de hoje, do qual o mesmo precisa lutar para obter recursos para comer no seu novo dia e tendo que sobreviver com a miséria que obtém no decorrer das horas. Com poucos personagens, observamos a divisão entre classes, basicamente entre o trabalhador e o seu empregador, sendo que esse último explora a mão de obra mesmo achando que está sendo correto de explora-la.

O problema, talvez, seja a linguagem quase poética impregnada dentro da história. Não que isso prejudique a obra como um todo, mas soa artificial em alguns momentos e ao ponto de algumas passagens soarem forçadas demais para dizer o mínimo.  Ela funcionaria dentro de um palco, mas feito para um longa-metragem acho que acabou se perdendo no meio do caminho.

Em compensação a fotografia em preto e branco sintetiza tempos nebulosos para aqueles personagens, como se a falta de cor simbolizasse a falta de esperança que se encontra em meio a eles. Vale salientar que a fotografia nos lembra ainda mais as raízes da peça e cuja a música alemã ao fundo simboliza ainda mais de onde ela veio. Essa mistura entre a nossa realidade atual com a de tempos antigos do país alemão pode até ter algum fundamento, mas que precisava ser ainda melhor trabalhado.

"Pão e Gente" talvez venha servir de exemplo que determinados contos funcionem somente em um pequeno palco para aí sim criar um grande espetáculo. 

Em Cartaz: Cinebancários - R. Gen. Câmara, 424 - Centro Histórico, Porto Alegre. Horário: 15h. 

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