Nota: Filme exibido para associados no último Domingo (29/05/2022
Sinopse: O desiludido ator de teatro Etienne recebe um convite curioso, porém desafiador: dar aulas de encenação a um grupo de detentos num presídio francês. A turma é composta por cinco homens, cuja pena a cumprir, o professor prefere não saber. São penas graves. Porém, a caminho de terminar.
Na abertura do filme a "A Sombra do Vampiro" (2000), atriz Greta Schoder (Catherine McCormack) reclama com diretor Murnau (John Malkovich) de que está perdendo os papeis de teatro, onde o público dá vida a ela, enquanto a câmera do cineasta suga, segundo ela, a sua vida. Nunca me esqueço dessa abertura, pois ela nos diz que que o cinema, embora seja uma arte, a mesma não possui o mesmo desafio que numa peça de teatro, onde os atores e atrizes tem o grande desafio de atuarem ao vivo enquanto milhares pessoas presenciam os seus talentos. "A Noite do Triunfo" (2022) fala um pouco do poder dessa arte da interpretação nos palcos e de como o mesmo pode ajudar determinadas pessoas a exorcizar os seus próprios demônios.
Dirigido por Emmanuel Courcol, o filme conta a história de Etienne (Kad Merad), um ator que não consegue muitos trabalhos, isso até que um dia ele decide se juntar a uma oficina de teatro na prisão. Encarregado de ajudar os encarcerados a atuar, o grupo parece estar relutante em continuar na oficina, mas quando Etienne fala que eles irão encenar a peça Esperando Godot, de Samuel Beckett, a turma começa a ficar mais motivada. A oficina, no entanto, ficará apenas algumas semanas em funcionamento, mas Etienne acaba conseguindo que o diretor da prisão aceite que a oficina fique mais seis meses em funcionamento a fim de finalizar o grande espetáculo.
O filme começa de uma forma bem lenta, onde Emmanuel Courcol faz questão de mostrar quem é realmente Etienne e sua real natureza com relação ao teatro. Porém, basta os detentos entrarem em cena para que a trama se acelere, ao ponto de não vermos o tempo passar, já que a interatividade entre os mesmos acaba se tornando o chamariz da obra como um todo. Isso deve, principalmente, ao fato de cada personagem ali ser muito bem construído, com as suas personalidades distintas e que a maioria tem muito a dizer sobre a sua própria história.
Com uma edição quase frenética da metade do segundo ato até o final, Emmanuel Courcol constrói para a sua obra uma transição curiosa de momentos dramáticos para comédia e, porque não, até mesmo para momentos de pura tensão, pois torcemos para que os personagens consigam atuar na frente do grande público, pois o qualquer deslize pode acarretar grande dano. O filme em si é uma bela homenagem a esse universo do teatro, onde o lado imprevisível nos momentos da atuação é o que pode traçar o destino de um interprete e é exatamente isso que acontece no ato final da trama.
Embora os atores que interpretam os detentos estejam ótimos em seus respectivos papeis, é Kad Merad que realmente rouba a cena nos momentos em que o personagem transita entre o descontrole e a serenidade que obtém em momentos em que a sua profissão mais exige. O final é sem sombra de dúvida só dele, pois em um momento que poderia ter dado tudo errado, o seu personagem nos brinda com um dos finais mais imprevisíveis que se possa imaginar e indo contra as nossas próprias expectativas. Claro que, por estarmos acostumados com o cinemão norte americano, ficamos esperando por eventual momento que acabamos moldando em nossos cérebros, mas cujo o resultado final nos agrada ainda mais e fazendo a gente agradecer por estarmos errados.
Baseados em fatos verídicos que realmente aconteceram na Suécia, "A Noite do Triunfo" é uma prova que histórias vindas do mundo real se tornam muito mais surpreendentes do que qualquer mera ficção.
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