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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 9 de maio de 2022

Cine Especial: Sessão Plataforma: ‘Memória’

Sinopse: Desde que ouviu um estrondo ao amanhecer que Jessica não consegue dormir. A partir daí ela inicia uma busca sobre o porquê estar ouvindo esse estrondo.  

Apichatpong Weerasethakul é um daqueles diretores autorais que você ama ou odeia, já que as suas obras são jogadas no nosso colo, não para somente degusta-la, mas sim para compreende-la e tirarmos as nossas próprias conclusões após assisti-la. Porém, "Cemitério Esplendor" (2016) foi um desses casos que ficávamos pensando o que nós havíamos testemunhado, quando na verdade ele estava sintetizando em cenas o seu estado de espirito após o seu país, a Tailândia, sofrer um golpe militar em 2014. Já “Memória” (2019), seu mais recente filme, o cineasta quer nos dizer alguma coisa, mas não significa que obteremos tão fácil as respostas.

No filme, Jessica (Tilda Swinton), uma fazendeira de orquídeas escocesas, vai visitar sua irmã em Bogotá. Em uma manhã, Jessica é acordada por um som familiar, uma bola de pedra caindo no metal. Esse som assustador interrompe seu sono por dias, questionando sua identidade. O som, que aparentemente apenas Jessica consegue ouvir, carrega uma beleza em seu profundo que faz parte do cenário de Bogotá. Aqui, Jessica compartilha histórias com Hernan, um pescador que conta sobre o passado, o futuro e memórias daqueles que já se foram.

Assim como "Cemitério Esplandor" Apichatpong Weerasethakul cria em diversos momentos cenas sem corte, cujo o enquadramento se encontra um ou dois personagens dialogando ou até mesmo calados em alguns momentos. São momentos em que ficamos refletindo sobre o que está realmente acontecendo, não necessariamente sobre o local onde a trama se encontra, mas sim com relação a protagonista e os demais personagens em volta. Afinal, ela está tendo problemas mentais por estar ouvindo um barulho estranho ou existe algum fundamento?

Essa e outras perguntas são jogadas na tela em diversos pontos da trama, ao ponto que as dúvidas vão aumentando na medida em que a protagonista vai passeando e conhecendo melhor Bogotá. Os personagens que ela vai conhecendo, por exemplo, são uma interessante curiosidade, já que cada um possui uma espécie de ensinamento para a protagonista, muito embora ficamos na dúvida se eles realmente existem em cena. Tudo gira em torno da tentativa da protagonista em tentar se lembrar de algumas coisas vindas do seu passado e que possa ajuda-la em saber o que é exatamente esse barulho que ela vai escutando ao longo do tempo.

Falando em memória, o filme toca em assuntos interessantes com relação a nossa própria história, sobre uma humanidade que um dia existia, mas que agora se encontra embaixo da terra. Uma vez descoberta através de escavações muitos especialistas tentam desvendar o que acontecia em um passado distante para que assim termos uma ideia dos costumes de nossos antepassados. Isso é muito bem representado quando a protagonista testemunha os ossos de alguém que veio a falecer há séculos, mas que nunca teremos cem porcento de certeza de quem ele era e de como vivia, apenas conviveremos na teoria.

Embora seja um dos grandes talentos da nossa geração, Tilda Swinton pouco tem a fazer em cena, mas não que o seu personagem seja ruim, mas por exigência da própria autoria do cineasta em si. Sua personagem é contida, mas não escondendo certo incomodo com relação ao que ouve e fazendo ela ficar olhando em volta em alguns momentos para achar uma solução para o que está sentido. Talvez as repostas estejam em um grande ato final, onde ela obtém um grande dialogo com um pescador, mas nos passando mais dúvidas do que respostas sobre se há ou não alguma ligação entre os dois dentro da história.

O encerramento desse ato, além de um epílogo, faz com que fiquemos até mesmo com raiva do diretor nos minutos finais, já que a revelação sobre o tal barulho pode surpreender alguns, mas desapontar outros. Ao meu ver, como o filme trata da questão da memória, além dos restos em que a nossa história fica para trás, ficamos nos perguntando quem serão os próximos que irão desenterrar nós mesmos em um futuro próximo. Caso não aja mais humanidade a resposta para isso pode até soar simples ao ser representada em uma das cenas finais do filme, muito embora seja muito difícil a gente prever sobre o que irá realmente acontecer em um futuro que não iremos testemunhar.

"Memória" é uma experiência curiosa orquestrada por Apichatpong Weerasethakul, mas que nos coloca em um terreno incomum e que fala sobre o passado e sobre o nosso indefinido futuro. 


Nota: Filme exibido no último sábado (07/05/22) na Sessão Plataforma da Cinemateca Capitólio. 

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