Nota: filme será exibido
para associados e não associados do Clube de Cinema de Porto Alegre no próximo sábado
(20/10/18), as 10h15, na Cinemateca Capitólio.
Sinopse: A jovem
camponesa Joana D'Arc é condenada à morte por ter liderado o povo francês
contra o exército invasor inglês, dizendo que foi inspirada por Jesus e São
Miguel. Ela passa suas últimas horas de vida capturada e torturada pelos
ingleses.
Devido ao seu aspecto
polêmico, tanto em relação à negligencia e ambiguidade da igreja, quanto à
visão equivocada do próprio Estado Francês, o talvez mais conhecido filme de
Carl Theodor Dreyer, A Paixão de Joana D’Arc (1928), foi não só proibido de ser
distribuído e exibido, como teve seu negativo e as cópias de que se tinham
notícia, queimadas. Dessa forma, durante mais de cinco décadas, não houve
acesso à obra original, ou pelo menos uma copia similar a ela. Até que,
em 1981, uma cópia Dinamarquesa, muito fiel à primeira edição do filme, foi
encontrada num hospício na Noruega. O filme conhecido pela grande maioria das
pessoas – inclusive lançada pela coleção Criterion, é uma adaptação da
Cinematèque Française dessa cópia. A trilha sonora oficial do filme não existe,
tendo sido tocadas várias peças musicais durante sua apresentação ao longo das
décadas. É sugerido pela própria Cinematèque, que seja executado em conjunto a
peça Voices of Light, de Richard Einhorn, que se inspirou tanto na vida da
heroína, quanto na visão de Dreyer acerca dela, para compô-la.
O filme não mostra a
menor necessidade de trilha sonora ao fundo. A falta da trilha, aliás, dá a
impressão de uma mensagem muito mais pesada para os nossos olhos. Dizem que o
silêncio foi um recurso apenas alcançado com o advento do cinema com som, uma
vez que a ausência desse recurso seria uma opção dos realizadores para configurar uma
atmosfera mais densa e melancólica. Pois
então, a falta de trilha sonora caiu com uma luva nesse filme, cuja tensão é
levada ao extremo.
Uma cena curiosa é aquela
em que os padres toma uma decisão com importância grande no destino de Joana, e
conta ao padre ao seu lado. O segredo é passado de padre para padre, e a câmera
acompanha em travelling esse ‘telefone-sem-fio’, como se fosse ela própria o
segredo sendo disseminado pela sala. O close, aliás, é uma grande marca
registrada do filme, que não contém sequer um stablishing shot. Isto, é claro,
causa uma confusão do espectador, que acostumado a ser sempre bem situado
acerca do ambiente em que se desenrola a ação, pode sentir-se desnorteado e apresentar
certa dificuldade em compreender o todo. Quando temos uma noção mais ampla da
cena, um plano médio, o espaço ocupado pela atriz é sempre insignificante,
perto da altura e posição privilegiada dos seus condenadores.
A intenção da obra tem o objetivo de desconcertar do inicio ao fim. Em nenhum momento, temos uma noção maior do que está
acontecendo, do que a própria Joana d’Arc. O lado histórico, e os precedentes
da guerreira não são mostrados ou explicados. No máximo, são citadas
referências pelos padres. Não há aqui, portanto, preocupação com uma abordagem
de Joana como uma heroína, ou guerreira. Aqui é explorado o aspecto humano da
mesma, é buscada uma aproximação do real. Mostra-se, então, uma Joana comum, de
aparência masculinizada, e nenhum glamour. Não uma guerreira destemida, mas uma
garota de 17 anos que acredita estar fazendo um bem para seu país, uma missão
para seu Deus, e vê-se encurralada, ao ser questionada acerca do seu modo de
vestir, agir, e pensar. A interpretação de Maria Falconetti é emblemática,
sendo não raramente eleita uma das melhores do cinema mudo.
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