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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Cine Especial: Filmes e Sonhos: FINAL

Nos dias 16 e 17 de setembro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre, participando do curso Filmes e Sonhos, criado pelo Cine Um e ministrado pelo Psicanalista Leonardo Della Pasqua. Enquanto os dias da atividade não chegam, estejam por aqui comigo, para mergulhar nos melhores exemplos cinematográficos e dos quais tentam retratar um pouco esse nosso universo do sonhar.

Twin Peaks  (1990)

Sinopse: A trama central da série girava em torno de uma investigação do FBI, liderada pelo agente Dale Cooper, para descobrir a verdade sobre o brutal e chocante assassinato da adolescente Laura Palmer.

Se não fosse por Twin Peaks, talvez nunca fôssemos posteriormente curtir Arquivo X ou até mesmo Lost. A série foi pioneira por apresentar uma trama com situações que fugia do convencional das séries da época, onde tudo não era bem o que aparentava ser. A primeira temporada foi comandada de cabo a rabo pelo mestre David Lynch e consagrou a atriz Shery Lee, que interpretou a vitima Laura Palmer, que já no inicio da série surgia morta no rio, mas graças às ideias criativas do diretor, ela surgia sempre quando podia no decorrer da trama.
Quem já acompanhava a visão autoral do cineasta no cinema, reconhecem de longe todas as características dos seus filmes anteriores impregnados na série, desde a personagens bizarros, sonhos, delírios e as tão famosas cortinas vermelhas, das quais faziam parte de uma sala misteriosa (da qual a chamo de sala vermelha), que servia de encontro para o agente Dale Copper (Kyler Maclachlan, Veludo Azul) com misterioso anão (Michael J. Anderson,) que falava de traz pra frente, dando pistas para a investigação sobre quem matou Laura Palmer. O curioso é que esse momento se passa num sonho, próximo ao final do 3º episódio, onde Copper se encontrava tanto com o anão, como também com a própria Laura Palmer. 
O mistério sobre quem matou Laura só seria revelado durante a segunda temporada, que infelizmente após a revelação, a série acabou perdendo o interesse do publico e David Lynch também não teve total liberdade criativa nos episódios, sendo que somente retornou a comandar no ultimo episódio (disparado o melhor da segunda temporada) , mas deixando mais perguntas do que respostas. 

O FILME:Twin Peaks:
Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992)

Sinopse: Prelúdio para a famosa série de TV homônima. Vemos primeiramente as investigações do agente especial do FBI Chester Desmond no caso Teresa Banks. Então saltamos no tempo para uma semana antes do início da série, e acompanhamos todos os acontecimentos de Laura Palmer durante o eterno pesadelo até a hora de sua morte.

Inicialmente, a trama sobre os últimos dias de Laura Palmer, serviria como uma espécie de terceira temporada da série de TV, mas que jamais aconteceu. Com a trama em mãos, Lynch decidiu leva-la para o cinema e tendo muito mais liberdade artística, dosando um lado muito mais sombrio e sem restrições. A trama se inicia com o assassinato de Teresa Banks, desencadeando então o interesse do FBI pelos eventos que andam acontecendo em Twin Peaks. Mas a história deixa de lado as investigações sobre Teresa e investe sobre os últimos dias de Laura Palmer, interpretada de forma magistral pela atriz Shery Lee, que jamais escapou da imagem da famosa personagem.
Em seus últimos dias que antecedem os eventos da série, conhecemos um lado mais obscuro de Palmer, que é assombrada pela estranha figura assustadora que se chama Bob (Frank Silva), que a visita em seu quarto à noite para molestá-la. Devido a conflitos, tanto em suas relações amorosas, como os atritos que tem com o seu pai (Ray Wise), que começa agir de uma forma hostil contra a filha, Palmer mergulha no submundo do sexo e drogas, além de ter estranhos sonhos (e pesadelos) onde ela adentra na já conhecida sala vermelha. E é ai que todas as características de David Lynch transbordam na tela, desde as situações bizarras, personagens bizarros e inúmeros símbolos com inúmeros significados.       
Com um final arrasador e que monta o que seria visto na série de TV,  Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer é David Lynch puro e tudo que ele não pode fazer com a história na TV, aqui ele faz de tudo e muito mais.

Twin Peaks: O Retorno

 Sinopse: Depois de 25 anos, agente Cooper consegue sair da sala vermelha, mas algo não sai como o esperado. Enquanto isso eventos estranhos começam a surgir, chamando atenção dos agente no FBI e dando a entender que tudo isso os levará  novamente Twin Peaks.

Quando Laura Palmer disse a Cooper no final da segunda temporada de que eles voltariam a se ver daqui a 25 anos muitos não levaram isso muito a sério. Depois disso, a série foi cancelada, tendo somente um filme derivado e a terceira temporada ficando na promessa por muito tempo. Mas eis que mais de duas décadas depois, David Lynch retorna a esse universo misterioso do qual, ao lado do produtor Mark Frost, criou um terceiro ano com mais mistérios, tendo mais liberdade para criar tudo àquilo que ele não fez nas temporadas anteriores e nos proporcionando uma experiência sensorial raramente vista na TV.
Indo contra a qualquer previsão, Lynch surpreende ao lançar os seus velhos personagens no presente e jogá-los em situações que antes, aparentemente, estavam mais do que encerradas, mas que ao mesmo tempo, havia-se deixado pontas soltas para elas serem novamente exploradas. Ao lado dos personagens, o espectador se torna mais do que frequentador daquele universo do cineasta, como também um detetive, do qual tenta montar peças de um quebra cabeça mas que nunca chega a encontrar a sua peça final. Assim como nas últimas obras no cinema, Lynch novamente explora os mistérios que envolvem personagens que se apresentam de uma forma, quando na realidade eles não são exatamente da maneira como dizem ser.
Coube o ator Kyler Maclachlan a tarefa de interpretar duas facetas diferentes do agente Cooper. Com isso temos duas linhas narrativas, da qual vemos um Cooper malvado envolvido no submundo do crime e um Cooper tentando sair da sala vermelha nos primeiros capítulos da trama. Mas estamos falando de David Lynch e dizer que o personagem irá sair daquele misterioso lugar não será das tarefas mais fáceis, principalmente nas situações das quais ele enfrenta no 3º episódio que, até aquele momento, achava um dos melhores momentos da série.
Porém, nada se compara ao extraordinário 8º episódio, do qual de uma forma surpreendente, desconstrói tudo que imaginávamos anteriormente. A meu ver, Lynch quis desconsiderar a simples hipótese do envolvimento de alienígenas do qual foi levantado na segunda temporada, mas sim elevando ao nível estratosférico sobre as origens dos conflitos do bem contra o mau e, ao mesmo tempo, sintetizando os males que aflige o mundo de hoje. Uma experiência sensorial da qual raramente se vê no cinema de hoje, pois eu  não via algo parecido desde que Stanley Kubrick nos brindou com 2001: Uma Odisseia no Espaço. 
Ao mesmo tempo, Lynch nos faz questionar a todo o momento sobre onde se passa todos aqueles eventos vistos nessa temporada. O 8º episódio, por exemplo, levanta a hipótese sedutora de que Twin Peaks se passa no mesmo mundo apresentado em Mulholland Drive (2001), ou então, de que todos os filmes criados pelo cineasta estão conectados no mesmo espaço tempo.  Além disso, os significados dos sonhos, quase sempre presente em suas obras, tem papel fundamental em determinados episódios e se conectando com eventos vistos somente no filme Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer.
Claro que haverá alguns que irão dizer que Lynch se estendeu demais em alguns episódios nessa temporada. Porém, os últimos dois capítulos compensam a espera, pois é ali que o cineasta joga tudo para fora o que ele havia guardado em sua mente criativa e nos forçando a ter que analisar cada cena da qual nos foi apresentada. Inesperadamente, Lynch não perdoa nem o seu próprio universo do qual havia criando, decidindo então remodelá-lo, criando então um novo ser e liberando novas teorias e mistérios infinitos. 


Para David Lynch o sonho acabou, mas ainda não queremos acordar.      



Leia também: Partes 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.   

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