As Duas Irenes
Sinopse: Uma menina
de 13 anos, de uma família tradicional do interior, descobre que seu pai tem
uma filha de outra mulher, com a mesma idade e o mesmo nome dela, Irene. Agora,
a filha do meio se sente num lugar de rejeição e começa a tentar descobrir quem
ela é e quem quer ser. Ela começa a perceber como se dão as relações sociais e
vai entendendo que o universo adulto é feito também de segredos e mentiras.
Embora exista uma
onda politicamente correta, porém hipócrita, é curioso que observo uma
aceitação da parte de alguns de que, a tradicionalíssima família brasileira de
hoje, não é mais aquela como era antes. Existe a traição, separação e até mesmo
pessoas que sustentam duas famílias ao mesmo tempo, mas que reconhecem, mesmo
que por um tempo só para si, o quão é fraco com relação a sentimentos e desejos
dos quais fazem nascer futuros frutos. As Duas Irenes mostra que não devemos ser movidos
pelo ódio devido aos erros do próximo, mas sim tentar conviver em harmonia e aceitar
a paz no interior de si.
Dirigido por Fabio
Meira (roteirista De Menor), o filme acompanha a história de Irene (Priscila
Bittencourt), menina de 13 anos de uma família tradicionalista e conservadora
do interior. Porém, o seu pai Tonico (Marco Ricca) tem outra mulher e uma filha,
que por sua vez se chama também Irene (Isabela Torres). Por ser de uma cidade
pequena, não demora muito para que ambas se cruzem no local, mas que, ao invés de
nascer uma rivalidade, nasce então uma singela amizade.
É curioso o cenário do
qual se passa a história, onde não há qualquer menção do nome da cidade, do
estado ou da época dos acontecimentos. Com uma fotografia cheia de luz em tons
pastel, a trama poderia se passar em qualquer interior do país, já que as situações
das quais os personagens se encontram são humanas e fazendo com que qualquer um
que assiste se identifique facilmente. Não há um desejo da parte do roteirista,
por exemplo, em querer transformar ninguém da trama em antagonistas, mas sim
retratar pessoas comuns, principalmente focando jovens que estão entrando numa
fase de descobertas sobre a vida adulta.
Se a primeira Irene (Priscila
Bittencourt) enxerga essa vida secreta do seu pai com certa frustração no
principio, logo esse sentimento vai desaparecendo e dando o lugar a curiosidade
quando começa a ter contato com sua meia irmã Irene (Isabela Torres). Essa
última, aliás, demonstra certo amadurecimento vindo do seu olhar e tendo total consciência
sobre o mundo real do qual convive no seu dia a dia. Ambas começam aprender um
pouco sobre a vida quando se encontram sempre juntas e se dando conta de que,
se essa situação pode se tornar um pesadelo para seus pais, por outro lado, pode
se tornar benéfica para elas futuramente.
A expectativa fica
por conta da maneira em que as famílias irão tomar conhecimento dessa
realidade. Porém, o cineasta prefere deixar isso em aberto, num ato final
engenhoso e do qual merece ser aplaudido. Tanto Priscila Bittencourt como Isabela
Torres dão um verdadeiro show em cena, sendo que a última nem precisa falar,
pois basta os seus expressivos olhos invadir a tela e nos dizer o que a sua
personagem pensa e sente.
As Duas Irenes é um pequeno
filme universal, do qual todos nós se identificamos, mesmo quando alguns ainda
se recusam em aceitar uma realidade que se encontra mais próxima do que se
imagina.
A Gente (2013)
Sinopse: Por sete anos, Aly
Muritiba trabalhou em uma prisão. Lá ele fez parte da Equipe Alfa. Após estudar
cinema e dirigir alguns curtas-metragens, Muritiba, volta ao seu antigo
trabalho para reencontrar seus colegas e realizar um filme. A Equipe Alfa é formada
por 28 pessoas, homens e mulheres de origens e formações distintas que fazem a
guarda e custódia de cerca de mil criminosos numa penitenciária Brasileira.
Walkiu torna-se o chefe da equipe e espera fazer um bom trabalho. Mas percebe
que suas mãos estão algemadas.
Após uma carreira de
prestigio em curtas metragens como A Fábrica (2011) e O Pátio (2013), Aly
Muritiba surpreendeu em seu primeiro longa metragem de ficção intitulado Para
minha amada morta. Com a câmera sempre em movimento, onde ele criou inúmeros planos sequências com estilo, fez com que aquele filme se tornasse um dos melhores longas
brasileiros dos últimos tempos. Porém antes disso, o cineasta havia se aventurado em A Gente, seu primeiro longa documentário, do qual ele já nos apresentaria elementos
dos quais ele usaria posteriormente no filme que o consagraria.
O filme acompanha o dia a
dia de Jefferson Walkiu, chefe do grupo Alfa, de agentes penitenciários de um
presídio de Curitiba. Walkiu tenta ser uma pessoa correta, com mão firme e tentando
manter organização em situações, por vezes, caóticas dentro do presídio. Porém,
a burocracia e falta de incentivo do qual deveria vir do estado, torna o seu
trabalho cada vez mais complicado.
Assim como em filmes
recentes como o documentário Central, Muritiba usa a sua câmera para explorar
minuciosamente o dia a dia dentro de um local, por vezes, sufocante, mas do
qual se deve haver ordem. Em boa parte do tempo, sua câmera acompanha
Jefferson, como se fosse um segundo colega ao seu lado e o deixando a vontade
para agir com naturalidade perante as situações das quais precisam ser
administradas e corrigidas. Ao mesmo tempo, o cineasta não se esquiva em
retratar os dois lados da faceta do protagonista que, por ora demonstra uma
pessoa humanista, mas que não abaixa a guarda em momentos dos quais exige
disciplina.
Ao mesmo tempo, as cenas do presídio
são entre cortadas com cenas onde Jefferson se encontra, ou em casa, ou
pregando em sua igreja. Embora em alguns momentos essas passagens soem um tanto
que dispensáveis, elas se tornam uma forma de escape para que o peso da
responsabilidade do protagonista não seja tão pesado. Em sua reta final, Jefferson
então percebe que o principal obstáculo para um bom trabalho não venha talvez
de prisioneiros indisciplinados, mas sim do desleixo vindo dos próprios políticos
que não valorizam a sua categoria e tão pouco se importando com o sacrifício de
cada um deles.
Embora curto, A Gente é um
pequeno exemplo sobre os obstáculos que os agentes em exercício dessa categoria
sofrem e que tornam esses lugares cada vez mais insuportáveis.
Onde assistir: Cine Bancários:
Endereço: R. Gen. Câmara, 424 - Centro, Porto Alegre. Horários: A gente: 15h e
19h. Duas Irenes: 17horas.
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