Sinopse:O marceneiro
Daniel Blake (Dave Johns) sofre um ataque cardíaco enquanto trabalha. Ele quase
morre e agora tem de enfrentar a burocracia do governo para conseguir o
benefício a que tem direito. Mas a situação fica menos dolorosa quando Daniel
conhece uma mãe solteira cheia de problemas.
Embora eu não tenha
muito conhecimento sobre a filmografia do cineasta Ken Loach, eu sei que ele se
destacou pelo mundo em 1969 com o filme Kes e que a classe trabalhadora sempre
se destaca em suas obras. Eu, Daniel Blake, novo filme do cineasta, acabou se
tornando a sua segunda obra a ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes, sendo
que a primeira havia sido Ventos da Liberdade. Chegando agora em cartaz, há indícios
aqui que, o seu mais novo filme, tenha ganhado o grande prêmio do festival por questões
políticas, mas ao mesmo tempo, é uma obra que nos mexe do começo ao fim e faz
com que nos identifiquemos facilmente.
Eu, Daniel Blake é um
longa bastante humano, criado em situações familiares e que faz com
compreendemos as motivações dos personagens de uma forma rápida. Tendo pontos
em comum com o belga Dois Dias, Uma Noite, o filme nos brinda com uma atmosfera
mórbida, como se não houvesse saída para esses personagens, mesmo quando ocorram
situações da qual nasça uma esperança. Não é um cinema autoral, onde você não
encontrará truques de movimento de câmera ou até mesmo trilha da qual nós
iremos nos lembrar, sendo que o trabalho do compositor Gerge Fenton aqui é bem
contido e discreto.
Já o diretor de fotografia
Robbie Ryan cria uma atmosfera fria e de pouca esperança naquele universo
particular daquelas pessoas, que vivem em busca de um objetivo na vida e de um
pouco de respeito que se havia perdido. O roteiro de Paul Laverty, embora simples,
consegue extrair o melhor das atuações de cada um dos atores. Dave Johns, ao interpretar Daniel, criou-se
então um dos personagens mais queridos do cinema recente e do qual faz a gente
torcer por ele do começo ao fim, mesmo estando numa situação que é um
verdadeiro precipício.
Contudo, é preciso
reconhecer a grande interpretação da atriz Hayley Squires que, ao construir
para si a personagem Katie, ela consegue passar todo o grande peso do mundo do
qual a sua personagem passa: a cena da qual ela abre um pote de comida de um
supermercado para matar a fome é marcante e desconcerta qualquer um que se
preze quando assiste.
Diferente do que se acontece
em determinados filmes, Ken Loach deu ao seu elenco um espaço do qual fez com
que as suas interpretações soassem verossímeis, como se alguns momentos os interpretes
saem de cena e dando lugar aos seus personagens como um todo. Dito isso, o
filme nunca cai na armadilha de cair no melodrama, mas sim obtendo pontos dramáticos
convincentes e transitando em alguns momentos de humor, principalmente em situações
das quais é preciso rir para não chorar quando o protagonista sofre na sua
cruzada em busca de seus direitos.
Embora torçamos pelo
melhor, o filme se encaminha para um desfecho do qual até mesmo já prevíamos,
embora torcêssemos para que determinada situação não acontecesse. Quando ela ocorre, nos damos
conta então de como somos frágeis perante um sistema hipócrita e cada vez mais
preso em uma realidade capitalista, da qual somente enriquece os poderosos, mas
se esquece das pessoas que moram num nível abaixo deles, mas que merecem todo o
direito de serem tratados como semelhante. Um filme que, para o bem ou para o mau,
ecoa em nossa realidade cada vez mais sendo invadida por um conservadorismo
intolerante e ambicioso.
Eu, Daniel Blake é um
filme alerta com relação ao nosso tempo atual, do qual se encaminha por um
futuro cada vez mais sombrio e indefinido para nós e para as próximas gerações.
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