Sinopse: Diana (Carolina
Dieckmann) foi estuprada dentro de casa. Em vez de denunciar, ela prefere ficar
em silêncio e não conta nem para o marido, Mario (Leonardo Sbaraglia). Ele, por
sua vez, também esconde um segredo, gerando uma distância cada vez maior entre
eles.
Já no início de O Silêncio
do Céu testemunhamos um estupro, onde Diana (Carolina Dieckmann, ótima) é
imobilizada e estuprada por dois homens e incapaz de se livrar da experiência traumática.
Num determinado momento da situação, Diana foca o teto azul de sua casa, como
se naquele ponto ela buscasse uma fuga, um porto seguro e longe daquela
situação dolorosa. Após esse momento, percebemos que a fotografia azulada,
sendo o mesmo azul visto no teto, permeia em todos os cenários no decorrer do
filme, como se os personagens quisessem enxergar um céu para eles cheio de harmonia,
mas que tudo não passa de uma tentativa de esconder uma realidade crua, da qual
eles não conseguem fugir, mas sim descobrem de que forma irão seguir em frente
após esse momento fatídico.
Dirigido por Marcus Dutra
(Trabalhar Cansa), o cineasta ainda tem a proeza de fazer com que retornemos a
cena do crime e olharmos por outra perspectiva. Se na primeira vez nós
assistimos através do olhar da vítima, na segunda enxergamos pelos olhos do seu
marido Mario (Leonardo Sbaraglia, de Relatos Selvagens), que testemunha a cena
grotesca, mas que não consegue intervir devido a sua fobia da qual sofre. Ele
sabe o que aconteceu, mas espera que a sua esposa conte para ele, enquanto ela
não diz nada e tenta seguir a vida com a família como se nada tivesse
acontecido.
Se
enveredando para ideias já vistas em clássicos como Um Corpo que Cai, Marcus
Dutra cria uma analise sobre o comportamento do ser humano contemporâneo, onde
a hipocrisia se torna um elo de defesa perante uma realidade da qual a pessoa
não consegue enfrentar, mas sim procurando uma forma de encará-la pela surdina.
Mario mergulha numa cruzada de redenção, mas não somente em defesa de sua
esposa, como também na possibilidade de limpar a honra e matar os seus demônios interiores.
Mario, portanto pode ser interpretado de diversas formas, tanto como um machista
que, se acha no direito de limpar a imagem da sua pessoa, como também alguém
que cria dentro de si um personagem que ele não é ou que está escondido no seu ser.
Diana
por sua vez representa uma fortaleza na tela, sendo que não busca segurança,
mas sim uma forma de tentar manter vivo o que já foi quebrado. Mesmo escolhendo
o silêncio assim como o seu marido, ela transmite uma posição madura, mesmo
quando sua expressão luta para não desabafar. Já Mario, por vezes, escolhe o
papel do violado, como se tivesse a obrigação de tomar uma providência,
principalmente quando descobre quem são realmente os estupradores.
Embora
seja uma trama que aparenta estar dentro de um gênero especifico como o
suspense, não é de hoje que Dutra cria algo que vai muito além do que o gênero tem
a oferecer: Trabalhar Cansa, por exemplo, não era somente sobre a possibilidade
de algo estar enterrado dentro de uma parede, como também um retrato pessimista
do Mercado de Trabalho. Quando eu era vivo não era só sobre espíritos, como também
sobre a difícil relação atual de pais e filhos. O suspense visto em O Silêncio do
Céu se torna uma cortina de fumaças que, gradualmente, se revela uma analise do
comportamento humano perante os seus atos e consequências distintas.
Carolina
Dieckmann e Leonardo Sbaraglia brilham em seus respectivos papeis, sendo que
esse último se sobressai, ao ponto de carregar o filme nas costas em momentos reveladores
da trama. Já Dieckmann nos brinda com algo diferente de tudo que já fez na TV,
ao representar o papel da mulher forte de hoje perante um mundo machista e perdido
sobre as mudanças das quais muitos ainda não compreendem ou não querem aceitar.
Essas mudanças e o comportamento da mulher de hoje é o que faz com que os homens
da trama agem como inconsequentes e revelando o seu lado mais sombrio de sua
alma humana.
Com
a participação ilustre de Chino Darin (filho de Ricardo Darin), O Silêncio do
Céu é uma crítica ácida contra o comportamento inconsequente do homem, que cada
vez se encontra mais perdido perante a complexidade e a independência da mulher
contemporânea.
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