Sinopse:Rio de Janeiro,
1983. O corretor de seguros Peralta está atolado em dívidas e tem a ideia de
invadir a sede da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Com a ajuda do
amigo Borracha, ele rouba a Taça Jules Rimet, que o Brasil venceu na Copa do
Mundo de Futebol do México, em 1970.
Muitas vezes surgem casos em
que a situação é tão absurda que supera qualquer filme de ficção. O roubo da
taça Jules Rimet é um desses casos de situações que beiram ao absurdo, ao ponto
de se tornar tragicômico. Não é de se surpreender que, mais cedo ou mais tarde,
haveria uma adaptação que levasse para as telas aquela história cabeluda e O
Roubo da Taça veio para nos brindar com uma comédia caprichada e nostálgica.
Estamos em 1983, onde o
Brasil ainda sofre nas mãos de um governo golpista, mas que começa a dar sinais
de despedida. Nesse cenário de cores quentes, mas sem muita esperança com
relação ao futuro, o brasileiro aposta as suas fichas de felicidade no futebol,
mas não se dando conta que a própria CBF, nada mais era do que uma
representação do próprio governo falido do país. Isso acabou gerando o
desaparecimento da Taça Jules Rimet dentro da própria sede, sendo que poderia ter
sido evitado, se não fosse um erro grotesco e fora do normal vindo das mãos do
Presidente da época (Stepan Nercessian).
Vindo
de documentários, Caio Ortiz cria uma ácida comédia de humor, por vezes
pastelão, onde vemos a figura do malandro carioca, representada pelo personagem
Peralta (Paulo Tiefenthaler) tentar a sua última jogada desesperada para pagar
suas dividas de vida ou morte. Roubar a replica da taça seria até uma boa idéia.
Porém, ela se torna má, no momento que o protagonista descobre que roubou
justamente a taça verdadeira, mas graças a um erro criado pelo próprio Presidente
da CBF.
O roteiro não poupa
os personagens centrais ao se meterem em situações absurdas graças à batata
quente que tem em mãos. Segundo o próprio cineasta, as situações que mais
beiram ao surreal na trama, são momentos que realmente aconteceram na vida
real. Por mais que isso possa ser questionado, os personagens e suas motivações
vistos na tela são de um grau de verossimilhança que nos convence e o absurdo
acaba se tornando convincente.
Claro que o roteiro
somente funcionária graças a um ótimo elenco e é exatamente isso que a produção
tem. Paulo Tiefenthaler faz do seu Peralta uma espécie de malandro do RJ marcado
pela decadência, mas não deixando de lado a persistência em se dar bem, mesmo
quando faz de tudo para só se dar mal. Mas é Tais Araujo, que ao fazer Dolores,
esposa de Peralta, que dá um verdadeiro show de humor, sensualidade e nos surpreendendo
até mesmo nos minutos finais da trama.
Tecnicamente o filme
é um colírio para os olhos, pois Ortiz caprichou na reconstituição da época. A
RJ de 1983 é vista aqui com cores quentes, exalando um frescor de uma época já
distante, mas que nos cria uma deliciosa sensação de nostalgia. Moda, costumes
e política se cruzam nessa reconstituição de época e sintetizando muito bem o
principio do fim daquele período de tempos de chumbo.
O Roubo da Taça é uma
deliciosa comédia brasileira que, diferente de outras descartáveis, nos faz rir
da situação absurda, mas bem convidativa.
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