Sim, o gênero de
horror existe no Brasil e ele será tema do próximo curso de cinema, criado pelo
Cine Um e ministrado pelo Jornalista, crítico, historiador e pesquisador
dedicado a tudo que se refere ao cinema de horror mundial Carlos Primati. O
curso ocorre nos dias 29 e 30 de Agosto no Cine Capitólio. Enquanto os dias da atividade não chegam,
irei postar por aqui sobre os filmes de horror que eu tive o privilegio de
assistir, seja em DVD ou no cinema.
Encarnação do Demônio
(2008)
Sinopse: Após 40 anos
preso, Zé do Caixão (José Mojica Marins) enfim é libertado. De volta às ruas,
ele está decidido a cumprir sua missão: encontrar uma mulher que possa gerar
seu filho perfeito. Caminhando pela cidade de São Paulo ele enfrenta leis não
naturais e crendices populares, deixando um rastro de sangue por onde passa.
Foram quatro décadas
de espera, mas em 2008, finalmente Zé do Caixão retornou aos cinemas com uma
potencia máxima. Tudo que o cineasta, roteirista e ator não pode fazer nos
filmes anteriores, aqui ele faz de tudo um pouco e em dobro: tortura,
mutilação, sangue, nudez, sexo e humor negro em doses cavalares para ninguém
botar defeito. Embora envelhecido, o personagem continua com seu mesmo objetivo:
encontrar a mulher perfeita para então gerar o seu filho perfeito, mas ao mesmo
tempo, Zé enfrenta os seus próprios fantasmas.
É neste ponto em que
a produção simplesmente enlaça com os dois filmes anteriores, mostrando as vítimas
(agora em espectros) do protagonista e disparando em alguns momentos de
flashbacks em que mostra cenas clássicas dos filmes daquele tempo. De quebra,
Mojica simplesmente volta no tempo, ao reconstituir o final do filme Esta Noite
Encarnarei no teu Cadáver: na época das filmagens do segundo capítulo da saga
do coveiro, a censura obrigou o cineasta a modificar o destino do personagem,
pois senão o filme jamais seria liberado. Aqui, revemos a mesma cena, mas
casadas com novas (com direito a uma fotografia idêntica) e o jovem Zé do
Caixão interpretado pelo americano Raymond Castille que espanta pela semelhança
absurda que possui se comparado quando Mojica era jovem.
Com isso, embora seja
uma continuação, em alguns momentos o filme parece uma releitura de algumas
passagens dos filmes anteriores, como no caso de quando o protagonista se
transporta ao purgatório (no segundo filme ele havia descido ao inferno),
acompanhado do Mistificador (José Celso Martinez Correa). É neste momento que o
filme possui um grande numero de efeitos visuais, mas tudo de forma artesanal e
somente com algumas pinceladas de efeito digital. Não há como negar que existem
cenas fortes ali, desde pessoas se comendo umas as outras (com direito alguém
tendo o pênis devorado) e inúmeras mutilações a torto e a direito. Mas nem só
de cenas fortes o filme vive, pois além do protagonista comandar o show, o
filme ganha pontos por possuir um elenco de peso, o que difere e muito dos
filmes anteriores, onde boa parte era com um elenco amador.
O veterano Jece
Valadão (Rio Zona Norte) é o grande adversário do Zé, ao interpretar o Coronel
Pontes, só que infelizmente o destino pregou uma peça: durante as filmagens,
Valadão veio a falecer e deixando o seu trabalho que incompleto. Para contornar
isso, Mojica chamou o ator Adriano Stuart, para interpretar um capitão e irmão
do personagem de Jece Valadão e junto com o trabalho de edição, conseguiu-se
cobrir as cenas que era com Valadão. Uma pena, já que nos poucos momentos que
surge em cena, Valadão dá um verdadeiro show, principalmente na sequência em
que seu personagem descobre que foi sua própria esposa que conseguiu tirar Zé
do Caixão da prisão. Muito embora, Milhem Cortaz (o eterno 02 de Tropa de
Elite), que interpreta um monge enlouquecido e a procura de vingança, acaba
também roubando a cena, principalmente nos minutos finais em que duela com o
protagonista. E para completar com uma cereja no bolo, o veterano Luis Melo
(Olga), faz uma pequena, mas significativa ponta no inicio do filme, onde o seu
personagem se vê obrigado a soltar o protagonista depois de anos preso na
prisão.
Com um ato final em
que todos os personagens irão se colidir e gerar muito mais violência, sangue e
mortes, o filme termina de uma forma satisfatória, mas deixando uma pergunta no
ar: será possível que veremos futuramente Zé do Caixão novamente nos
cinemas?
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