Sim, o gênero de horror existe no Brasil e ele será tema do próximo curso de cinema, criado pelo Cine Um e ministrado pelo Jornalista, crítico, historiador e pesquisador dedicado a tudo que se refere ao cinema de horror mundial Carlos Primati. O curso ocorre nos dias 29 e 30 de Agosto no Cine Capitólio. Enquanto os dias da atividade não chegam, irei postar por aqui sobre os filmes de horror que eu tive o privilegio de assistir, seja em DVD ou no cinema.
QUANDO EU ERA VIVO(2014)
Sinopse: O filme
conta a história de Júnior rapaz que retorna à casa do pai depois de perder o
emprego e a mulher. Sem encontrar espaço no lar que antes também fora o seu
Júnior passa os dias no sofá do velho Sênior remoendo a separação o desemprego
e pensando na jovem e sensual Bruna inquilina de um cômodo do apartamento. Após
encontrar objetos que remetem ao passado e à sua mãe já morta Júnior desenvolve
uma obsessão pela história de sua família e entra numa espiral vertiginosa na qual
realidade e delírio se confundem.
Sempre me incomodei
com o fato de certas religiões ficarem falando que o Diabo é isso, que o Diabo
é aquilo e quando nos damos por conta, o Capeta foi muito mais citado naqueles
momentos do que as próprias boas ações de Jesus Cristo. Não me surpreenderia se
tudo isso fosse algo subliminar nessas missas, sendo que não podemos julgar o
livro pela capa. O que estou querendo dizer para inicio de conversa, é que nem
tudo é o que aparenta ser e é exatamente isso que representa o filme Quando Eu
Era Vivo.
No mais novo trabalho
de Marco Dutra (Trabalhar Cansa), acompanhamos Junior (Marat Descartes)
retornando para a casa do pai (Antonio Fagundes), após ter separado da esposa.
Na residência, além de ter a presença de Bruna (Sandy) uma estudante de musica
que está alugando um quarto, Junior começa de uma forma gradual a destrinchar
certas coisas antigas que lhe faz relembrar do passado quando convivia com o
seu irmão e a falecida mãe. A partir daí, se inicia uma transformação (aparentemente)
negativa, tanto de Junior, como também do ambiente da residência.
Se no seu filme
anterior Dutra havia apenas namorado o clima do gênero fantástico, aqui todos
os ingredientes que fazem desse tipo de filme um sucesso estão lá: ambiente
claustrofóbico, fitas de vídeo, fantasmas, terror psicológico, mulher com
cabelos pretos e etc Mas o que diferencia das demais produções norte
americanas, é que aqui tudo parece crível, sendo que há pouquíssimos momentos
que algo soe inverossímil e com isso nós compramos a idéia de que realmente
algo de estranho está acontecendo naquele apartamento.
Muito disso talvez se
deva ao baixo orçamento (R$ 500 mil), o que fez com que o diretor não se
preocupasse em criar efeitos visuais que nos possa convencer, mas sim se dedicando
a criar uma boa história (baseado na obra Lourenço Mutarelli) na qual atiça a
nossa curiosidade. O interessante é que mesmo a produção possuindo idéias já
usadas em outros filmes, nós somos brindados com certos folclores brasileiros
ao serem inseridos na trama, desde ao sinistro boneco Fofão, como também os
discos de vinil que tocavam de traz pra frente e se ouvia outras coisas bem
sinistras nos anos 80. É ai que o filme toca no assunto do subliminar, que nem
tudo que a gente acha é o que realmente está acontecendo.
Acreditamos por um
momento que Junior está enlouquecendo, pois ele acredita cegamente de que algo
de ruim aconteceu com sua mãe e irmão (que se encontra em um manicômio) e sua
relação com o seu pai começa a cada vez se tornar mais dúbia. Nada disso claro
funcionaria se o pequeno elenco não fosse bom, mas cada um consegue um
desempenho que cumpre com as expectativas. Marat Descartes já havia me
surpreendido em Trabalhar Cansa, mas aqui, qualquer similaridade com relação ao
personagem que ele havia atuado no filme anterior de Dutra é jogada de lado, já
que ele simplesmente se encarna no personagem e se torna a verdadeira alma
cheia de conflitos do filme em busca de respostas. Antonio Fagundes dispensa as
apresentações, pois sabemos que ele sempre cumpre com louvor a cada papel que
atua.
Mas o que talvez mais
surpreenda no filme é o fato da presença da cantora Sandy funcionar com louvor
na produção: dona de uma voz de sucesso no mundo musical, Sandy jamais
convenceu como atriz em si, mas graças ao seu dom que tem pela musica, seus
momentos em que ela solta voz (que são momentos cruciais para a trama), acabam
se tornando um dos grandes momentos do filme. É ai que volto com o fato de não
subestimar o livro pela capa, já que Marco Dutra colocou todas essas peças no
tabuleiro para a gente se preparar por uma trama, cujo final começamos a
moldá-lo em nossas mentes. Mas daí quando chegamos à reta final, percebemos o
quanto fomos enganados e nos pegamos completamente atônitos pelo imprevisível
que nos foi apresentado.
No final das contas,
Quando eu era Vivo pode ser interpretado de duas maneiras: como um simples
filme de fantasmas e possessão, ou um verdadeiro jogo de palavras subliminares,
para nós seguirmos em linha reta, mas então nos darmos de encontro com a cara
no muro e isso, acredite, é um grande elogio.
PORTO DOS MORTOS(2012)
Sinopse: Num mundo
devastado onde as regras da realidade são ditadas por magia e loucura, um
policial vingativo persegue um assassino serial possuído por um demônio numa batalha
contra o mal absoluto.
A tentativa de se fazer outros gêneros de
filmes no Brasil é sempre bem vinda, mesmo que o resultado final dá aquela
sensação de que poderia ter sido melhor. Ao assistir Porto dos Mortos, o
cinéfilo mais atento irá notar um grande número de referencias de outros
filmes, desde ao gênero western spaghetti, Mad Max e a todo filme de zumbi que
é lançado hoje em dia. Mas quem espera uma turbinada de zumbis na tela, pode
acabar um pouco se decepcionando, pois a trama se entrega para outros rumos e
com isso os comedores de carne ficam um pouco pelo caminho durante a história.
Talvez a intenção do
cineasta Davi de Oliveira Pinheiro era jamais se prender a um único tema, mas
sim criar uma trama em que, pudesse reunir todos os ingredientes, do qual
sempre curtiu nos filmes de terror ao longo dos anos. Claro que, nem todos irão
comprar essa brincadeira, mas visto com a mente aberta, há de se aceitar numa
boa e sem compromisso de se levar a sério. Mas é uma pena que tenhamos que,
engolir certos personagens que, surgem na história, não tem muito que
acrescentar e sendo que um deles lembra por demais um dos personagens dos
filmes de George A. Romero. Quem se sai melhor é o Policial (Rafael Tombini),
que possui todas aquelas típicas características de anti-herói solitário, de
poucos amigos e com um passado nebuloso (um pouco explicado num curioso
flashback). Visualmente, o filme se limita em exibir a capital gaúcha assolada
pelo apocalipse e devido a isso, poderia ter sido feita em qualquer outro lugar
que o resultado seria então o mesmo. Porém, existem alguns pontos conhecidos
pelo público que surge na tela.
Embora tenha uma bela
fotografia do início ao fim, Porto Dos Mortos talvez sirva mais como exemplo de
como podemos ir mais longe dentro do gênero fantástico aqui no Brasil. Se a
primeira vista para alguns o filme ficou devendo, quem sabe os próximos que
terem a ideia de fazer um filme de terror possam ir ainda mais longe. Afinal de
contas, já faz um bom tempo (como exemplo vindos do Fantaspoa) que nós não
vivemos mais apenas de Zé do Caixão.
Inscrições para o curso cliquem aqui
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