Sim, o gênero de
horror existe no Brasil e ele será tema do próximo curso de cinema, criado pelo
Cine Um e ministrado pelo Jornalista, crítico, historiador e pesquisador
dedicado a tudo que se refere ao cinema de horror mundial Carlos Primati. O
curso ocorre nos dias 29 e 30 de Agosto no Cine Capitólio. Enquanto os dias da atividade não chegam,
irei postar por aqui sobre os filmes de horror que eu tive o privilegio de
assistir, seja em DVD ou no cinema.
Trabalhar Cansa(2011)
Sinopse: Helena
(Helena Albergaria) é uma dona de casa que resolve abrir um mini mercado. Tudo
vai bem até Otávio (Marat Descartes), seu marido, perder o emprego. A partir de
então estranhos acontecimentos tomam conta do local, afetando o relacionamento
do casal com a empregada doméstica.
Há algo de podre na Dinamarca!
Essa frase me veio na
cabeça quando assisti pela primeira vez Trabalhar Cansa, obra dos cineastas
Juliana Rojas, Marco Dutra. Vindo dos curtas experimentais, a dupla se arrisca
ao criar um suspense, que oscila entre o drama e o sobrenatural, sendo que
nesse ultimo caso, a situação é muito mais sugerida do que explicita, o que
torna a obra ainda mais interessante.
Na verdade o filme
vai mais para um terror psicológico também, já que o casal central Helena e Otávio (Helena Albergaria e Marat Descartes) se
colocam em teste de força física e mental: ela decide abrir um mercadinho e
administrá-lo, mas ele perde o emprego de gerente e começa a sua via cruz para
conseguir um novo emprego. Não tem como não se identificar com eles,
principalmente com Otávio que passa por entrevistas de emprego, que para nós
que já atravessamos isso numa parte da
vida, é duramente real, para não dizer patético e depressivo.
No final, a situações de ambos afetam um ao
outro, pois Helena começa a ficar meio que obcecada em se tornar bem sucedida
no seu mercadinho, nem que para isso tenha que ser dura perante os seus
empregados, que temem pelo desemprego e venham á passar por uma nova via cruz
em busca de algo novo. Mas algo afeta Helena, pois há algo de estranho no ar,
desde um cachorro que ameaça sempre morder ela, como também um cheiro de
esgoto, que por sua vez começa a transbordar no piso do local. A situação
piora, quando uma parede começa a mostrar sinais de vazamento interno, ou de
algo escondido por de traz dela.
Todas essas situações
são filmadas de uma forma que pareça que há algo de sobrenatural, tanto no
mercadinho, como também na própria casa do casal. Mas tudo é apresentado de uma
forma ambígua, nós fazendo levantar inúmeras interpretações sobre o que
realmente está acontecendo. Se fôssemos simplificar, o filme seria uma espécie
de critica ao capitalismo, que torna o mundo lá fora uma verdadeira terra
selvagem, onde somente o mais forte e persistente sobrevive.
Sendo assim, os
pontos de suspense, que sugere algo de sobrenatural, seria apenas algo para
acrescentar, para tornar a atmosfera da vida daquelas pessoas muito mais
opressora a partir do momento que surgiram os problemas. Ou então, há realmente
algo por de trás da cortina, mas devido aos problemas do dia a dia que eles
passam, esse mistério acaba meio que sendo deixado de lado por eles. Mesmo
quando eles o encaram no ato final da trama, que por sinal é genial.
Com minutos finais
que sintetizam a verdadeira selva da disputa para uma vida bem sucedida
profissionalmente, Trabalhar Cansa surpreende por nós colocar a par dos nossos
medos internos. Não da possibilidade de haver um bicho papão embaixo da nossa
cama, mas por estarmos sujeitos a um dia nos submeter a passar por uma
realidade dura, que por vezes mastiga e nós cospe fora.
REFLEXÕES DE UM LIQUIDIFICADOR(2010)
Sinopse: Um
liquidificador pensa e narra essa história. Ele também conversa com sua
proprietária Elvira uma senhora já da terceira idade. Logo descobrimos que os
dois Elvira e liquidificador são cúmplices de um crime: o assassinato de Onofre
o marido de Elvira que depois foi moído no liquidificador. Num tom de humor
negro e sarcasmo ficamos conhecendo como o liquidificador adquiriu vida ao ser
reformado por Onofre quando o casal era dono de um pequeno bar a Vitamina da
Elvira. A história do casal é intercalada com o medo que Elvira tem de ser
descoberta pela polícia e o aconselhamento e reflexões do sábio
eletrodoméstico.
Se há uma coisa que eu sempre prego, é que não
importa se o filme tenha isso ou aquilo de efeitos visuais, sonoros, ou se a
imagem sai da tela, isso pouco importa. O que é importante é ter, acima de
tudo, uma ideia para criar uma historia genial que está feito e esse filme de
André Klotzel é uma prova disso. Protagonizado, pela voz marcante de Selton
Mello (Cheiro do Ralo) através de um liquidificador, onde ele fica acompanhando
o dia a dia dos seres humanos, principalmente dos seus donos, o filme é uma
analise do comportamento humano que por vezes age de uma maneira imprevisível e
que por isso cria momentos inusitados nos quais o aparelho vai aprendendo a
lidar.
A trama começa a
partir do desaparecimento do marido (Germano Haiut) e com isso sua esposa
Elvira (Ana Lúcia Torre, ótima no papel) decide procurar a policia para falar a
respeito sobre o desaparecimento, mas
ela acaba se tornando a principal suspeita e com isso é vigiada de perto pelo
detetive Fuinha (Aramis Trindade engraçadíssimo e um excelente desempenho).
Durante o filme, nos simpatizamos com a senhora Elvira e suas conversas com o
aparelho, mas aos poucos, a trama vai descascando inúmeras camadas de sua
personalidade, assim como a de outros personagens, como no caso da vizinha e do
marido da Elvira. Com isso, o filme é uma verdadeira aula de reflexão de que às
vezes nos não nos conhecemos mesmo, mas tudo embalado em forma de humor negro
que não há como deixar de soltar um riso, principalmente nos momentos que o
Fuinha entra em cena.
Com um final que
deixa em aberto para fazer com o que o espectador imagine o que viria depois, o
filme é mais uma grata surpresa do nosso cinema brasileiro e mais uma prova que
não precisa de orçamentos estourados para se criar uma boa trama.
Inscrições para o curso cliquem aqui
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