Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Nos dias 28 e 29 de Julho,
estarei participando do curso DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO, criado pelo
CENA UM e ministrado pelo professor e critico de cinema Rafael Ciccarini. E
enquanto os dois dias não vêm, por aqui, estarei escrevendo um pouco sobre o
que eu sei desse cineasta, que é o melhor que sabe mexer com as nossas mentes.
VELUDO AZUL
Sinopse: Jeffrey retorna
para sua cidade depois de estar fora algum tempo e descobre uma orelha humana
sobre o chão, em meio ao mato. Não satisfeito com a passividade da polícia em
relação ao caso, ele e a filha de um detetive da polícia resolvem fazer sua
própria investigação. Eles acabam entrando em um submundo bizarro, envolvendo
um homem diabólico e uma linda, porém misteriosa, mulher.
Um filme mórbido, com um
clima perturbador e aterrorizante, que deixa o espectador pouco á vontade mas
fascinado, tanto com os personagens ambíguos quanto com as constantes
reviravoltas da trama. Ótima trilha sonora, com aproveitamento de conhecidos
temas dos anos 50 e canções originais de Angelo Badalamenti e do diretor Lynch.
Primeiro grande papel de Isabella Rossellini, filha de Ingrid Bergman e Roberto
Rossellini.
DUNA
Sinopse: Em 10.190 D.C., um
duque e sua família são mandados pelo Imperador para Arrakis, um árido planeta
conhecido como Duna, que tem uma matéria essencial às viagens interplanetárias:
a Especiaria. O motivo desta mudança é que o Imperador planeja destruir o duque
e sua família, mas seu filho escapa e procura se vingar usando a ecologia deste
mundo como uma de suas armas.
Super produção de 50 milhões
de dólares, mas que se tornou um enorme fracasso de bilheteria nos cinemas.
Lançada em vídeo, tornou-se um pequeno Cult nos EUA, com seu visual fascinante
compensando a trama confusa para os padrões habituais dos americanos. É fato que Lynch não teve total liberdade criativa no decorrer desse projeto, tanto que ele, retirou o seu nome da versão editada para a TV, que tem 50 minutos de acréscimos.
"Estamos
todos como detetives na vida. Há algo no final da trilha que todos nós estamos
procurando."
Como já diz o velho ditado, “o
show tem que continuar”. Mesmo com esse clima mórbido que aconteceu no cinema
nos EUA, é preciso seguir em frente e continuar curtindo o que agente mais
gosta que é a 7ª arte. Das estréias desse final de semana, Valente chega para
conquistar novos fãs da Pixar.Menos que Nada e Violeta vão para o céu, são
filmes que também merecem uma conferida. Lembrando, que já se encontra em pré-estréia,
o elogiado Febre de Rato, que merece todas as honras para uma conferida. Quanto a mim, estarei participando neste sábado,
da segunda edição da sessão Aurora de cinema, com exibição do filme Contrastes Humanos, seguido de debate. Mais informações,
vocês conferem na pagina da sala
clicandoaqui.
PRE-ESTREIA:
FEBRE DE RATO
Sinopse: Zizo
(Irandhir Santos) é um poeta inconformado e anarquista, que banca a publicação
de seu tablóide. Em seu mundo próprio, onde o sexo é algo tão corriqueiro
quanto fumar maconha, ele conhece Eneida (Nanda Costa). Zizo logo sente um
forte desejo por Eneida, mas, apesar de seus constantes pedidos, ela se recusa
a ter relações sexuais com ele. Isto transtorna a vida do poeta, que passa a
sentir falta de algo que jamais teve.
VALENTE
Sinopse: Desde os
tempos antigos, histórias de batalhas épicas e lendas míticas foram passadas
através de gerações na misteriosa região montanhosa e escarpada da Escócia. Em
Valente, um novo conto se une à sabedoria popular quando a corajosa Merida (voz
de Kelly Macdonald) confronta tradição, destino e os mais ferozes monstros. Merida
é uma habilidosa e impetuosa arqueira, filha do rei Fergus (voz de Billy
Connolly) e da rainha Elinor (voz de Emma Thompson). Determinada a trilhar seu
próprio caminho, ela desafia um antigo costume considerado sagrado pelos
ruidosos senhores da terra: o imponente lorde MacGuffin (voz de Kevin McKidd),
o carrancudo lorde Macintosh (voz de Craig Ferguson) e o perverso lorde
Dingwall (voz de Robbie Coltrane). Involuntariamente, os atos de Merida
desencadeiam o caos e a fúria no reino e, quando ela se volta para uma velha
feiticeira (voz de Julie Walters), em busca de ajuda, Merida tem um desejo
mal-aventurado concedido. Os perigos resultantes a forçam a descobrir o
significado da verdadeira valentia para poder desfazer o brutal curso dos
acontecimentos antes que seja tarde demais.
Menos que nada
Sinopse: A trama de Menos
que Nada gira em torno do tratamento de um doente mental internado há dez anos
num hospital psiquiátrico onde foi esquecido pela família pelos amigos e pela
sociedade. Esta temática de alcance universal proporcionará uma reflexão sobre
a doença mental que permanece como uma espécie de continente inexplorado e
quase desconhecido embora atinja parcela significativa da população brasileira.
Violeta foi para o Céu
Sinopse: O filme conta a
trajetória da compositora artista e cantora chilena Violeta Parra. Esta
biografia não segue uma linha cronológica focando-se em diversos momentos da
vida de Violeta como sua infância na província de Ñuble sua viagem pelo
interior do Chile as visitas à França e à Polônia além do romance que ela teve
com o suíço Gilbert Favre. O filme é inteiramente intercalado com trechos de
uma entrevista que Violeta Parra deu à televisão em 1962.
Chernobyl
Sinopse: filme conta a história de um grupo de jovens
que ao buscar um pouco de emoção durante as férias viaja para o Leste Europeu
mais precisamente à cidade de Pripyat abandonada após o holocausto de Chernobyl
ocorrido em 1986. Lá eles percebem tarde demais que seres desumanos escondem-se
na escuridão.
Hoje é um dia triste para mim,
pois pelo visto, não estamos seguros em lugar algum mais, muito menos numa sala de
cinema, na qual eu aprecio como arte, cultura e entretenimento. Acordar hoje
com a noticia de um atirador que disparou e matou mais de dez pessoas inocentes numa sala de
cinema (justamente no esperado e ultimo
filme de Batman), numa cidade dos EUA é lamentável. Culpar quem nesse momento?
Não vão faltar inúmeros meios de comunicação dizendo isso e aquilo, ou até
mesmo culpando o filme ou coisa do gênero!
Os EUA é um dos países que mais facilitam uma
pessoa a usar armas livremente nas ruas, mas nem todas elas têm o seu juízo
perfeito e é exatamente isso o que acontece quando um sem noção tem um poder
desses na mão. Os cinéfilos do mundo e fãs de HQ do personagem estão de luto.
Em um final de semana que deveria ser comemorado, com todos indo ao cinema e
apreciarem uma obra, infelizmente isso acontece de uma forma infeliz e sem sentido. Irei ao
cinema semana que vem para assistir ao filme sem medo, pois devemos ter fé em
Deus para que casos como esse jamais aconteçam de novo, num lugar em que acima
de tudo, reúne inúmeras pessoas com um único propósito, que é apreciar uma boa
sessão pipoca, de uma forma pacifica e descontraída.
Nos dias 28 e 29 de
Julho, estarei participando do curso DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO,
criado pelo CENA UM e ministrado pelo professor e critico de cinema Rafael
Ciccarini. E enquanto os dois dias não vêm, por aqui, estarei escrevendo um
pouco sobre o que eu sei desse cineasta, que é o melhor que sabe mexer com as nossas mentes.
Eraserhead
Sinopse: Henry
Spencer (Jack Nance) é um reservado operário de uma fábrica que se vê obrigado
a casar com Mary X, uma antiga namorada que se diz grávida dele. O bebê nasce
uma aberração, que faz com que Mary abandone Henry para ele cuidar da
'criatura' sozinho.
Boa parte da visão
autoral de Lynch já estava por completo em seu primeiro longa metragem, que
entre idas e vindas de produção, levou cinco anos para ser concluído. Durante a
estréia, era obvio que o publico, tão acostumado com o começo, meio e fim do
cinema americano, não entendesse a primeira vista no que viu na produção, mas
ao longo do tempo, o filme foi ganhando status de cult, principalmente em
sessões tarde da noite, no qual acabou ficando em cartaz por várias semanas.
Eraserhead (sem tradução, pois o filme nunca
foi lançado no Brasil, mas o título poderia ser livremente traduzido como “o
cabeça de borracha apagadora”). Esse filme é um dos mais estranhos da carreira
do diretor. Se muitos não compreendem Mulholland Drive, o que dizer desse
então. O que é aquele bebê? O que é aquele palco onde canta aquela loira
“bochechuda”? Quem é ela? Quem é Henry, afinal? O que diz a história? Difícil
de encontrar as respostas para tudo num primeiro momento!
São perguntas que se fazem a muitos filmes de
Lynch, mas não deve ser feito disso como uma espécie de “jogo do milhão”, como
aconteceu com Mulholland Drive, que virou febre de teorias na internet. Um
filme como “Eraserhead” não devem ser visto com os olhos que busque alguma razão na obra, muito menos alguma verossimilhança,
mas sim, temos que tratá-lo como um quadro abstrato, em que você olha para ele
e você mesmo tem que interpretá-lo e dar a sua própria opinião do que você
viu. O cinema de David Lynch é como os
sonhos: devemos apenas curtir a viagem e acordarmos depois.
O Homem Elefante
Sinopse: John Merrick
(John Hurt) é um inglês que vive recluso em um circo por ter uma doença que
desfigurou seu rosto. Ele é descoberto por um médico (Anthony Hopkins), que
deseja integrá-lo à sociedade não como um "esquisito", mas como
alguém normal e culto. O problema é que as pessoas não estão prontas para isso,
e John terá que sofrer muito para ser tratado como ser humano.
Primeiro grande
sucesso da carreira do diretor David Lynch em 1980, fala sobre uma fantástica
historia verídica, que se passa no passado de Londres. Filme bonito, sensível e
feito para mexer com as emoções a todo o estante. Direção impecável de Lynch
que construiu o roteiro baseado numa historia real, mas sem levar ao extremo em
seus sentimentos pelo personagem. A fotografia em preto e branco é ótima e
contribui para a construção da peculiar atmosfera do filme, valorizado pelas
expressões e maquiagem de Hurt.
Embora coberto por
uma impressionante maquiagem, John Hurt (Alien: O 8º Passageiro) apresenta um
dos seus melhores desempenhos de sua carreira, fazendo agente acompanhar toda a
sua dor e dos poucos momentos de felicidade, que tanto o personagem valoriza
quando acontecem. Não faltam momentos que se tornaram marcantes, como a famosa
cena em que personagem grita as palavras, “eu não sou um animal, mas sim um ser
humano”, contra uma multidão que queriam machucá-lo. A cena se tornou
posteriormente bastante lembrada, entre cinéfilos
e cineastas, como Tim Burton, que em seu Batman: O Retorno, usa a mesma frase
(só que de uma forma invertida) com o personagem Pingüim.
Com um final arrebatador, Homem Elefante, é sem
sombra de duvida um dos melhores filmes da década de 80.
"As ideias são
como peixes. Podemos encontrá-los à superfície das águas, mas lá em baixo, nas
profundezas, é que eles são maiores. E sabem qual é o principal isco para os
apanhar? O desejo. Temos que desejar as ideias. É o desejo que traz cá para
cima esses peixes graúdos."
Sinopse: Nova York Estados Unidos. Sal Paradise (Sam Riley) é um
aspirante a escritor que acaba de perder o pai. Ao conhecer Dean Moriarty
(Garrett Hedlund) ele é apresentado a um mundo até então desconhecido onde há
bastante liberdade no sexo e no uso de drogas. Logo Sal e Dean se tornamgrandes
amigos dividindo a parceria com a jovem Marylou (Kristen Stewart) que é
apaixonada por Dean. Os três viajam pelas estradas do interior do país sempre
dispostos a fugir de uma vida monótona e cheia de regras.
Uma das vantagens que eu tive, ao assistir a mais nova obra
de Walter Salles, é de não ter lido o livro (On the Road) que deu origem ao filme, pois até aonde
eu sei, muitos dos fãs da obra, reclamaram aqui e ali sobre as diferenças que o
cineasta injetou em celulóide. Como eu não li o clássico literário, pude avaliar
o filme com mais tranqüilidade, sem carregar esse fardo de comparações. O filme em si, se sustenta como um todo, mesmo com os seus momentos de altos e baixos, mas
que Salles soube contornar esses problemas, com uma direção segura e tratá-la
sem com muita pretensão.
A jornada de muito
sexo, drogas e bebida dos amigos Sal (Sam Ripley) e Dean (Garrett Hedlund) é de
tamanha proporção, que há torna deslocada do seu tempo, principalmente se comparado
a época politicamente correta que se passa a historia (anos 40), sendo que ela
poderia se passar em qualquer década seguinte, principalmente nos anos de paz e
amor da década de 60. Isso se deve graças aos seus protagonistas, que demonstram
ser pessoas a frente do seu tempo, com as suas idéias ousadas, para desfrutar a
mais pura liberdade e sem se preocupar com o amanhã.
Embora Sal seja o protagonista que nos guia em sua cruzada,
para se redescobrir na vida e escrever o seu livro, Dean (Garrett, ótimo) demonstra ter muito mais amor pela liberdade, se jogando na libertinagem
com o seu parceiro, aproveitando ao máximo os lugares e as pessoas que cruzam em
suas vidas. Desses cruzamentos, surge à jovem Maryon, interpretada por uma
desinibida e sem papas na língua Kristen Stewart, que não se restringe em cenas
quentes de sexo com a dupla e se distanciando completamente de sua personagem sem
sal da saga Crepúsculo. Embora a trama
foque essa trindade da estrada, ela da espaço para inúmeros personagens que
desfilam na tela, interpretados por um super elenco que inclui Tom
Sturridge, Kirsten Dunst, Amy Adams, Viggo Mortensen, Steve Buscemi, Elisabeth
Moss, Terrence Howard, Alice Braga e Danny Morgan, que embora surjam em poucos
minutos, sempre roubam a cena quando aparecem. Kirsten Dunst, aliás, é a que se
sai melhor nesta trupe de coadjuvantes, provando que seu incrível desempenho em
Melancolia, não foi um caso isolado.
Embora longo em alguns
momentos, é um filme que ganha a nossa simpatia, graças a personagens humanos e
pela direção sempre competente de Salles, que nos brinda com inúmeras cenas
belas desse filme de estrada. E para um filme, que muitos consideravam ser impossível
de se filmar (devido ao livro), o resultado pesa mais para o lado positivo.
Nos
dias 28 e 29 de Julho, estarei participando do curso DAVID LYNCH: O LADO ESCURO DO SONHO,criado peloCENA UMe ministrado pelo professor e critico
de cinemaRafael
Ciccarini.E
enquanto os dois dias não vêm, por aqui, estarei escrevendo um pouco sobre o
que eu sei desse cineasta, que é o melhor que sabe mexer com as nossas mentes.
Mulholland Drive
DESDE QUE
ESTREOU NO BRASIL HÁ DEZ ANOS, OBRA MAXIMA DE DAVID LYNCH CONTINUA SENDO UM DOS
MAIS INIGMÁTICOS FILMES DA HISTORIA.
Sinopse: Um acidente
automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma
complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Harring) escapa da
colisão, mas perde a memória e sai do local rastejando para se esconder em um
edifício residencial que é administrado por Coco (Ann Miller). É nesse mesmo
prédio que vai morar Betty (Naomi Watts), uma aspirante a atriz recém-chegada à
cidade que conhece Rita e tenta ajudar a nova amiga a descobrir sua identidade.
Em outra parte da cidade o cineasta Adam Kesher (Justin Theroux), após ser
espancado pelo amante da esposa, é roubado pelos sinistros irmãos Castigliane.
Foi apartir desse
filme, que conheci finalmente o universo bizarro de David Lynh. Mais
precisamente, foi numa edição, da saudosa revista SET (com o ET na capa), em
que além da critica sobre o filme, tinha matéria especial falando um
pouco de cada filme que ele criou. Isso foi o suficiente para eu ir à caça, para assistir a
essa obra, mas nem imaginava que ela me pegaria de jeito, muito menos ter imaginado
se tornando o meu segundo filme preferido da minha vida (perdendo para Blade
Runner).
POR TRAZ
DAS CORTINAS VERMELHAS
Para David Lynch, os filmes não precisam
fazer sentido, pois a própria vida não faz. Com essa opinião (e dentre muitas),
é o que serve de impulso para ele criar filmes, um tanto que inusitados e
diferentes de tudo que se vê por ai e o publico a de gostar ou odiar. Quando Mulholland
Drive estreou no inicio dessa primeira década do século 21, acabou não só
gerando debates, como inúmeras teorias levantadas em diversas mídias, como a
internet por exemplo. Nem mesmo Matrix, com todas as suas engrenagens
filosóficas, superou em termos de debates, discutições e teorias levantadas ao
longo do tempo.
Se muitos ficaram admirados com número de
buscas na rede para entender os mistérios da série Lost, pode-se dizer que foi
Lynch que começou com essa mania. Isso graças ao fato de, não somente esse
filme, como também outros de sua filmografia, deixar mais perguntas do que
respostas nas mentes das pessoas. Para se ter uma idéia da dimensão do cenário
da época que estreou Mulholland Drive, houve
muitas salas de cinema, que pediam as pessoas (após terem assistido o filme),
para que não contasse os mistérios e revelações da trama, para aquelas pessoas
que iriam pegar a sessão seguinte. Contudo, Mulholland Drive sendo visto por uma segunda ou
terceira vez, consegue até matar a charada, o que não quer dizer que tenhamos
uma resposta para tudo que é mostrado em cena. Digamos, que do primeiro até o
final do segundo ato, estejamos (aparentemente) assistindo uma historia com
começo, meio e fim. Mas ao surgir a enigmática (e melhor cena) seqüência do
Clube Silencio, de uma forma inesperada, tudo que assistimos até ali é
revertido e o cineasta nos joga em uma realidade, na qual num primeiro momento,
ficamos sem saber o que esta acontecendo realmente.
Mas o diretor nos
deixa a ficar vendo navios? Não exatamente, pois com um belo jogo de câmera,
Linch nos proporciona um passeio por inúmeras pistas que surgem na tela. Mas
não espere ele explicando as cenas, pois é a pessoa que irá assistir que terá
que fazer um verdadeiro quebra cabeça mental, com as cenas que são jogadas para
ele, desde personagens chaves que surgem em cena, como determinados objetos
simbólicos que aparecem, como uma chave azul e um piano miniatura como exemplo.
Além disso, no decorrer da trama, mesmo com poucos recursos, Lynch gosta de
brincar com nossa perspectiva, deixando agente boiando em alguns momentos,
fazendo agente acreditar, que o que estamos vendo é uma coisa, quando na
verdade é outra. Bom exemplo disso é quando surge uma cena de uma atriz
cantando, no que aparentemente parece ser um palco, mas a câmera afasta e
revela ser um estúdio, que por sua vez revela não estar num prédio, mas sim num
deserto do entardecer, mas que por fim, quando a câmera finalmente para de se
afastar, é revelado que tudo aquilo está num grande estúdio de cinema.
Na época, o filme
acabou consagrando, até então a desconhecida atriz Naomi Watts, num papel que
exigiu trabalho em dobro e para aqueles que já viram o filme, sabem do que
estou falando. O seu desempenho foi tão elogiado, que muitos lamentaram ela não
ter sido indicada ao Oscar, o que não quer dizer que não choveram inúmeros
convites para filmes, que somente levantariam mais o seu status de ótima atriz,
como Senhores do Crime, 21 Gramas, King Kong e dentre outros. Vale lembrar, que originalmente,Mulholland Drive foi realizado
para a TV, como filme piloto que daria origem a uma série, mas, como a rede ABC
rejeitou o projeto por achá-lo pesado demais, David Lynch decidiu levá-lo ao
cinema. A idéia do filme surgiu quando ele visualizou a placa Mulholand Drive,
a mítica estrada de Los Angeles, que atravessa as colinas de Santa Mônica, passando
por Hollywood até a praia de Malibu, na Costa Oeste. Durante o último Festival
de Cannes, Lynch disse que se inspirou na visão da placa sendo iluminada pelos
faróis dos carros que passam pela estrada à noite, permeada pela inocência
perdida de seus fantasmas que queriam conquistar Hollywood. "Que as
pessoas entrem, então, nesta viagem por Mulholand Drive e sintam algo que não
se explica", disse o cineasta à rede ABC de televisão.
Mulholland
Driverendeu-lhe
indicação ao Oscar de Melhor Direção em 2002 e a conquista da Palma de Ouro na
mesma categoria no Festival de Cannes 2001, cujo júri foi presidido pelo
próprio Lynch. O filme também foi indicado a quatro Globos de Ouro
(Filme-Drama, Direção, Roteiro e Trilha Sonora) e venceu na categoria Melhor
Fotografia o Independent Spirit Award, além de ter sido eleito o Melhor Filme
de 2001 pelas Associações de Críticos de Cinema de Nova York, Boston e Chicago.
Com tudo isso, ao longo do tempo, Mulholland Drive veio a se tornar um dos mais
importantes filmes da primeira década do século 21. Um filme que mexe com os
sentidos do espectador, o faz pensar e adentrar ainda mais no universo de
Lynch. Seja por esse filme, ou por outros de sua (quase) impecável filmografia
cheia de mistérios.
“O conceito de absurdo é algo que me atrai”.
David Lynch