Sobre o Filme: Baseado no livro autobiográfico de Jeannette Walls, “O castelo de vidro” é a história de uma família disfuncional que vive sob os desígnios de Rex (Woody Harrelson), um pai idealista que odeia a artificialidade da vida moderna e roda os EUA de cidade em cidade ocupando casas abandonadas com sua mulher e quatro filhos. O filme se constrói quase como um culto à personalidade desse pai brilhante e sonhador, mas também alcoólatra, negligente e arredio. A figura do pai é vista a partir do ponto de vista de Jeannette, e os flashbacks funcionam como uma coleção de memórias ora belas, ora traumáticas, por exemplo, ele “ensina” a filha a nadar na marra, jogando-a na água.
O roteiro apresenta uma narrativa não linear que se mescla entre o passado e presente, em que o público acompanha o crescimento e amadurecimento de Jeannette, interpretada pelas atrizes Ella Anderson e Chandler Head e a vê adulta, independente e transformada pela performance impecável de Brie Larson, ganhadora do Oscar pelo "O Quarto de Jack" (2015) e que veio a se tornar a heroína Capitã Marvel no cinema. O filme ganha a atenção do público não só por ser baseado em fatos reais, mas também por retratar uma história nua e crua que retrata problemas como alcoolismo, falta de ambição, injustiça, violência, desarmonia, desaforos e ressalta a força da identidade família, além de questionar o perdão. Tais elementos farão com que o espectador se sensibilize e até se identifique em determinados momentos, mesmo quando eles soam previsíveis para dizer o mínimo.
Toda a dramaticidade fica por conta dos personagens. As atrizes mirins que encarnam Jeannette são boas e os conflitos entre pai e filha são bem executados ao ponto de fazer o espectador se sensibilizar e até se colocar no lugar da garota. Chandler Head faz uma Jeannette que, apesar de amar muito o pai e estar sempre ao seu lado, ela está ciente do quanto aquela vida é prejudicial não só para si, mas também para os seus irmãos, fazendo com que a garota bata de frente com o pai diversas vezes, trazendo boas entonações nas cenas, além de diálogos consistentes e emotivos.
Já Harrelson consegue impor carisma e crueldade em Rex, que é o personagem com mais nuances ao longo pra projeção, justamente por sua capacidade de, por meio das mudanças de postura e entonação, soar doce ou malicioso. A surpresa, porém, fica com a jovem Ella Anderson, que interpreta a protagonista em sua infância. Com uma atuação segura e incisiva, a menina consegue expressar todos os conflitos de uma criança criada em uma família disfuncional, passando desde o medo ao ódio que motiva Jeannette a buscar uma nova vida.
Falho parcialmente na estrutura de seu roteiro e competente graças à intima direção de Cretton, "O Castelo de Vidro" é um drama biográfico eficiente e capaz de emocionar os mais sensíveis.
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