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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Cine Especial: 'O Exorcista - 50 Anos Depois'

Na minha infância eu era uma criança medrosa, ao ponto de ter medo até mesmo da transformação do Hulk na cultuada série para a tv. Quando filmes de terror eram anunciados durante os comerciais eu ficava morrendo de medo, pois o narrador colaborava para eu sentir isso durante a chamada. Nunca me esqueço do anúncio de um filme de terror na tarde da noite, sendo que não me lembro do seu título, mas foi o suficiente para deixar as minhas pernas moles de tanto medo.

Porém, eu me desafiava, ao ponto de desobedecer aos meus pais em assistir a determinados filmes de horror. Muitos deles foram exibidos na saudosa "Sessão das Dez" do SBT e foi a partir dessa sessão que eu tive a chance de assistir obras cultuadas como "Um Lobisomem Americano em Londres" (1981). Curiosamente, me lembro que assistia junto com a minha mãe, enquanto o meu pai dormia mais cedo devido ao trabalho ou quando ele pegava o turno da noite. Porém, embora a minha mãe assistisse filmes de horror comigo, ela nunca permitiu que eu assistisse ao clássico absoluto "O Exorcista" (1973).

Me lembro muito bem quando esse filme era anunciado no SBT, pois o canal do Silvio Santos alardeava como o melhor filme de horror de todos os tempos e cuja trilha sonora ao fundo não era pertencente a obra, mas sim do filme "Poltergeist - O Fenômeno" (1982). Foi algo que me assombrou por vários anos, como se assistir aquele filme era o mesmo que me sentenciar ao inferno. Quando o filme completou vinte cinco anos ele acabou ganhando uma matéria especial no programa do Fantástico da Globo, fazendo com que os meus pais se assustassem ainda mais, porém, eu estava disposto em encarar o demônio após aquele programa que marcou a minha adolescência.

Dias depois, eu fui em uma locadora das redondezas, onde eu loquei o clássico escondido dos meus pais e finalmente consegui quebrar o tabu. Era tempos em que eu tinha dois vídeos cassetes eu aproveitei para fazer uma cópia para rever quando eu quisesse. Não demorou muito para a minha mãe descobrir que eu havia assistido, mas decidiu também assistir e assim quebrar com os seus temores. Assim foi a minha cruzada para desfrutar pela primeira vez a chance de conhecer um dos filmes mais assustadores de todos os tempos.

Baseado no livro escrito por William Peter Blatty, "O Exorcista" foi dirigido por William Friedkin, que na época era conhecido pelo seu premiado "Operação França" (1971). Ao embarcar no projeto, o cineasta optou em não seguir as velhas fórmulas dos filmes de horror, como casas fantasmagóricas ou algo do gênero, mas sim retratar a trama com pés firmes no chão, como se aquela terrível trama poderia realmente acontecer no mundo real. É aí que descobrimos o verdadeiro potencial do clássico, ao possuir um alto grau de verossimilhança e fazendo com que o público da época adentrasse ainda mais na trama.

Acima de tudo, Friedkin era um diretor que ia ao extremo, ao ponto de usar armas de fogo durante o set de filmagens com o intuito de deixar todos tensos e tornar as cenas ainda mais convincentes na medida do possível. O que dizer da famosa cena do telefone, onde o padre Karras, interpretado pelo ator Jason Miller, leva o maior susto quando o telefone toca, quando na verdade foi o diretor que disparou perto da cabeça do intérprete durante a filmagem da cena. Como se isso já não bastasse, a intérprete Ellen Burstyn é arremessada para longe por sua filha possuída, sendo que atriz bateu violentamente com as costas contra a cama e gritou de dor no mesmo instante. 

Por mais mórbido que seja, esse grau de perfeccionismo se alinhou com perfeição com os efeitos práticos da época, sendo que alguns podem até ter envelhecido mal, mas são muito melhores do que esses CGI que vemos por aí hoje em dia. O quarto da menina possuída, por exemplo, foi todo rodado constantemente refrigerado, para que se pudesse capturar com exatidão a respiração gélida dos atores. Para tanto, foram usados quatro aparelhos de ar-condicionado, todos ligados simultaneamente. 

O que impressiona ainda mais hoje em dia é a sua maquiagem, já que Linda Blair simplesmente desaparece e dando lugar a um rosto demoníaco e que amedrontou uma geração inteira. Porém, o que mais me impressionou foi a maquiagem que fez envelhecer o ator Max von Sydow, que na época eu ainda não o conhecia através dos filmes de Ingmar Bergman e fazendo me convencer que era realmente uma pessoa idosa. É uma pena, portanto, que na época não havia uma premiação para a categoria no Oscar, sendo que ela somente foi criada a partir do início dos anos oitenta e para premiar o já citado "Um Lobisomem Americano em Londres".  

Curiosamente, William Friedkin também tinha uma predileção pela área do documentário, já que em alguns momentos testemunhamos diversos planos-sequência, seja nas cenas em que vemos os personagens correrem nas escadas, ou do modo frio e calculista no retrato dos hospitais da época. É neste ponto, por exemplo, que os cinéfilos daquele ano tiveram ainda mais incomodo durante a projeção, já que a forma que os médicos tentavam encontrar uma solução para a jovem regam chegava a ser tão assustador quanto as cenas de exorcismo. Vale destacar que estamos falando de tempos em que a medicina ainda não estava avançando como se deveria e testemunhamos o horror que é um hospício quando padre Karras vai visitar a sua mãe enferma.

Portanto, o gênero fantástico transitando com o lado realístico do mundo foi a fórmula certa para o grande sucesso que esse filme acabou obtendo. Filas quilométricas invadiram as calçadas para entrarem nos cinemas, a crítica especializada aclamou o filme como o mais assustador de todos os tempos e se tornando a primeira obra de horror a ser indicada ao Oscar de melhor filme. Claro que tudo isso renderia continuações, séries, mas nenhum superando o poder que esse clássico havia adquirido.

O longa de William Friedkin é aquele tipo de projeto que nasceu com o intuito de sobreviver além de sua época de lançamento e neste caso conseguiu com grande êxito. Além do diretor, é preciso também dar crédito ao seu elenco, em especial a Ellen Burstyn que aqui obtém, não somente um dos melhores papeis da carreira, como também soube nos passar o que uma mãe sente ao testemunhar o horror que a sua cria sofre ao não saber como ajudá-la. Já Linda Blair jamais se desvencilhou de sua melhor atuação da carreira, sendo que após esse grande sucesso ela não obteve outro grande desempenho, ao ponto de se entregar ao lado satírico da situação na comédia "A Repossuída" (1990).

Curiosamente, o filme obteve uma versão estendida com onze minutos a mais e com alguns efeitos visuais inseridos em determinadas cenas em 2001. Tive, portanto, a grande chance de assistir ao filme no saudoso Cine Imperial de Porto Alegre e ter uma noção do que o público sentiu quando testemunhou pela primeira vez esse filme no início dos anos setenta. Para alguém que fugia desse grande filme de horror eu acabei no final me superando com louvor.

"O Exorcista" é o melhor filme de horror de todos os tempos, sendo algo até hoje insuperável e que nem a própria Hollywood atual consegue obter outro grande feito. 



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