Sinopse: Nos tempos do velho oeste dois amantes se reencontram após vários anos, mas algo faz com que se coloquem em lados opostos.
Pedro Almodóvar decidiu renovar a sua forma de apresentar uma história durante a Pandemia, pois devido ao isolamento se abriu para possibilidade de certas regras ficarem de lado e adentrar para outras formas de se criar um conto. "A Voz Humana" (2020) foi um caso curioso de curta, onde ele não somente mantém as suas características como cineasta, como também transita entre as regras cinematográficas e o universo do teatro como um todo. Em "Estranha Forma de Vida" (2023), o realizador não só realiza novamente um curta metragem, como também explora o gênero do faroeste e tocando em pontos poucos explorados e tão pouco vistos antigamente.
Na trama, Silva, (Pedro Pascal) embarca em uma jornada solo cavalgando pelo deserto com a intenção de revisitar um velho amigo, o xerife Jak (Ethan Hawke), mas que não se viam a mais de duas décadas. Após esse tempo, os dois compartilham de uma tarde amorosa e de uma possível reconciliação devido algumas desavenças no passado. Porém, o filho de Silva comete um grave crime e o que faz Jak colocar em prática a lei, nem que para isso perca o contato com Silva para sempre.
No passado, o cineasta Ang Lee já havia explorado essa intimidade entre dois homens dentro do gênero em "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005). Porém, Pedro Almodóvar vai muito mais além, ao revisitar elementos já vistos no passado, desde as imensas planícies vistas em filmes como "Era Uma vez no Oeste" (1968), como também os duelos vistos em "Três Homens e um Conflito" (1966) e sendo ambos do mestre Sergio Leone. Tudo, logicamente, moldado pelas características do realizador, do qual o mesmo leva suas cores quentes de sua clássica fotografia em meio ao deserto escaldante.
Ao ser um curta metragem toda a trama se direciona aos dois protagonistas, dos quais ambos estão ótimos em cena e gerando até mesmo um clima de tensão na medida em que a trama avança. Uma vez que os dois se entregam aos seus desejos, ao mesmo tempo vem à tona as desavenças vindas do passado, assim também o medo de que o fazem se manterem separados. Porém, Silva não mede esforços em manter essa relação, enquanto Jak se vê preso em um conflito interno em não se entregar ao que realmente sente como um todo.
Curiosamente, o filme também me lembrou o clássico ""Duelo de Titâs" (1959), onde os amigos Kirk Douglas e Anthony Quinn duelavam entre si devido aos crimes que o filho desse último havia cometido. Aqui se tem uma trama similar, mas tendo consequências distintas e culminando em um caminho sem volta. Interessante observar a forma que o realizador termina o seu conto, deixando-o em aberto e fazendo a gente se perguntar qual será o futuro dos dois amantes naquele fim de mundo.
Pedro Almodóvar, portanto, não somente explora camadas antes não exploradas dentro do gênero, como faz também com que a gente construa as várias possiblidades após o encerramento da história, mas que com certeza gerará irritação para alguns fãs para dizer o mínimo. Para contornar isso, o curta vem com uma curiosa entrevista do realizador, onde ele fala sobre as motivações que o levaram a criar o curta metragem e da necessidade de ir muito mais além do que ele havia feito no passado. Se no final do curta deixa um gosto um tanto que amargo para alguns, ao menos a entrevista dá uma amenizada nesta sensação que nos pega de forma desprevenida.
"Estranha Forma de Vida" é o mais novo curta metragem de Pedro Almodóvar, do qual irá agradar os velhos fãs, mas ao mesmo tempo frustrando aqueles que desejam assistir muito mais da sua arte na tela grande.
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