Sinopse: A trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu em meio à miséria e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim com muita lealdade.
Embora o mundo tenha conhecido mais de perto a realidade atual da Índia através do filme "Quem Quer Ser Um Milionário?" (2008), convenhamos, o final foi romanceado para agradar as plateias do ocidente que gosta de comprar a ideia da superação positiva perante os obstáculos da vida. Porém, nos últimos tempos, cada vez mais se percebe que não há como esconder a realidade em que vários países começam a sentir os efeitos negativos do sistema capitalista e filmes como "Coringa" (2019) e "Parasita" (2019) cada vez mais se tornam símbolos cinematográficos sobre o caminho sem volta de uma sociedade cada vez mais sufocada e sem para onde ir, a não ser se vender ao poder para sobreviver. Aliás, essa minha última observação se casa com a proposta do filme "O Tigre Branco" (2021), do qual o indivíduo comum não deseja pertencer mais ao abate, mas sim pular do galinheiro e se tornar em definitivo o chefe.
Dirigido por Ramin Bahrani, o filme é baseado no best-seller escrito por escrito por Aravind Adiga, que conta a história de um ambicioso motorista indiano chamado Balram (Adarsh Gourav) que decide sair do seu vilarejo e crescer na vida sendo motorista de uma família poderosa. Durante o percurso, ele usa toda a sua astúcia e sagacidade para escapar da pobreza e se libertar de sua vida de servidão a patrões ricos. Contudo, há um alto preço a ser pago.
Com narração off, acompanhamos a trama através das palavras do protagonista que, curiosamente, começa a olhar para nós e assim quebrar a quarta parede. Sendo usado com cada vez mais frequência no cinema, a quebra da quarta parede serve aqui mais para ficarmos lado a lado do protagonista, como se houvesse um desejo pelo mesmo em querer que a gente entenda o seu ponto de vista sobre sua história e para assim abraçarmos a sua causa. Não é preciso muito esforço, já que o diretor faz questão em criar um verdadeiro contraste entre a vida que o protagonista havia passado com a realidade cheia de frutos do qual ele tanto deseja adquirir como um todo.
Tecnicamente o filme é um colírio para os olhos, onde a edição é frenética e jamais cansativa, se casando com uma trilha sonora que empolga e cuja a fotografia foge dos clichês hollywoodianos e nos brindando com um visual limpo e cru sobre a realidade do povo indiano. Mas o filme não seria nada se não fosse pelo grande desempenho de Adarsh Gourav, cujo o olhar do seu personagem transmite certa inocência perante a realidade em sua volta, mas aprendendo de formas duras como sobreviver perante a ela. O tigre branco, aliás, faz referência ao felino com pelos brancos que raramente nasce por lá, mas ao mesmo tempo interligando com o indivíduo comum que se destaca no meio da multidão.
Porém, se destacar na multidão é preciso certos sacrifícios, ao ponto de o protagonista chegar a vender a alma ao Diabo. Contudo, há uma famosa frase do jornalista David Brinkley que se casa com a proposta principal do filme: "Um homem de sucesso é aquele que cria uma parede com os tijolos que jogaram nele". O protagonista, portanto, vai guardando os tijolos, mas não para somente erguer um muro, como também sujar as suas próprias mãos em alguns momentos.
Embora se passe na Índia, o filme de uma forma simples se cruza com realidade atual de todo o globo, onde testemunhamos os governos do ocidente, principalmente do norte americano, se afundando no próprio império capitalista que haviam construído. Enquanto isso, a China dá o seu recado como potência atual super poderosa e a mensagem final do filme é desconcertante pois ela é realista mesmo quando um negacionista tenta não querer enxergar ela. Algumas palavras do protagonista chegam até mesmo ser proféticas e fazendo o filme se alinhar com esses tempos indefinidos em que todos nós vivemos.
Com um minuto final que se assemelha a filmes como "O Lobo de Wall Street" (2013) e "Um Toque de Pecado" (2013), "O Tigre Branco" entra fácil na lista dos melhores filmes do ano, ao escancarar a dura realidade de que nós pertencemos ao abate do sistema capitalista e que para sobreviver é preciso se vender ao poder dela.
Onde Assistir: Netflix
Um comentário:
Ótimo filme! Classifiquei como o "Parasita" de 2021, apesar de não ter a mesma potência.
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