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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Cine Dica: Streaming: 'Um Clássico Filme de Terror'

Sinopse: Nesse filme de suspense brutal, estranhos viajando pelo sul da Itália ficam presos na floresta e precisam lutar desesperadamente para saírem de lá vivos. 

O cinema pós-terror tem surpreendido a crítica especializada e o público nos últimos anos. São filmes que vão além do óbvio, onde se explora um terror psicológico, uma crítica aos diversos sistemas de hoje, desde ao papel da política e da religião dentro da sociedade. Porém, não significa que o horror tradicional esteja morto.

Não que ele não possa mais nos trazer algo de original, porém, o gênero de horror não se prende exclusivamente aos estúdios nortes americanos. Por lá, os engravatados estão mais preocupados em lançar um grande sucesso dentro do gênero, criar franquias e expandir para mais filmes interligados e formar assim o seu universo cinematográfico de monstros. A fórmula até que funciona, mas as vezes se esquecem que o mundo real pode ser ainda mais assustador do que se imagina.

Em uma sociedade de hoje cada vez mais presa em redes sociais, onde o jovem tenta de tudo para obter sucesso com vídeos caseiros sem conteúdo, se tem um prato cheio para se tirar dali o quanto a humanidade está cada vez mais em estado de alienação e desumanidade. Neste último caso, parece que vivemos dentro de uma sociedade que se alimenta das tragédias, onde as mídias jornalísticas, sejam elas imparciais ou sensacionalistas, cada vez mais alimentam o desejo do ser humano em ver algo catastrófico. "Um Clássico Filme de Terror" (2021) não é somente uma homenagem a diversos filmes clássicos, como também uma crítica acida sobre a vida alienada que cada vez mais estamos nos enterrando.

Dirigido por Roberto De Feo e Paolo Strippoli, "Um Clássico Filme de Terror" é um suspense violento sobre um grupo de pessoas viajando em um trailer pelo sul da Itália. Durante o caminho, eles acabam sofrendo um acidente quando um animal aparece, de repente, no meio da estrada. Tentando continuar sua viagem, o grupo percebe que o caminho por onde vieram desapareceu misteriosamente e resta apenas uma densa floresta em sua volta. Sem saber que um grande perigo os espera no meio da mata fechada, eles caminham pelo lugar desconhecido procurando ajuda. Dentro desse lugar sombrio, a noite será longa.

Em um primeiro momento, parece que o filme é construído através de várias referências de outros filmes clássicos, que vai desde a trilogia "Uma Noite Alucinante" (1981), "O Massacre da Serra Elétrica" (1974) e até mesmo obras recentes como o cultuado "Midsommar" (2019). Porém, estamos falando de um filme de horror italiano, onde as regras do cinema tradicional norte americano não são seguidas e por conta disso espere pelo imprevisível. O que eu posso dizer é que, para o cinéfilo atento principalmente, os realizadores se inspiraram no horror do cinema italiano de antigamente, principalmente aqueles construídos pelos cineastas como Dario Argento e Mario Bava e por conta disso aguarde por horror gore, com muito sangue e membros cortados mesmo que discretamente.

Porém, quando achamos que o filme se encaminha para óbvio, eis que o terceiro ato nos surpreende de uma forma impressionante, onde horror dá espaço a uma crítica acida contra uma sociedade movida por crenças, mas que não esconde o seu lado mais hipócrita. Em tempos em que a religião cada vez mais se adentra aos poderes políticos o filme acaba por assim dizer bem corajoso neste ponto. Ainda assim, o filme me vem com outra peça fundamental em sua mensagem principal.

Em 1954, por exemplo, o mestre Alfred Hitchcock previu que o voyeurismo seria cada vez um vício maior dentro da sociedade através do seu clássico "Janela Indiscreta". Porém, a sociedade perderia a sua timidez, não se importariam mais que fossem observados e adquirindo o desejo quase obsessivo de se exibir em vídeos pelas redes sociais para obter sucesso a qualquer preço. Wes Craven previu isso em sua franquia "Pânico" iniciada em 1996 e sintetizando os tempos atuais em seu quarto e último filme antes de morrer.

Pode-se dizer que "Um Clássico Filme de Terror" possui um final dividido entre três atos, sendo que o segundo é disparado o melhor, por ser simbólico, assustador e não menos que realista, pois a sociedade de hoje primeiro registra para depois pensar em salvar vidas. Pelo visto, os monstros clássicos realmente deixaram de ser assustadores, pois o ser humano comum de hoje ganha com facilidade.

"Um Clássico Filme de Terror" não é somente uma homenagem ao gênero, como também um aviso de que nós mesmos estamos alimentando aqueles que obtém o lucro através do horror e alienando cada vez mais uma sociedade em transe total.

Onde Assistir: Netflix

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terça-feira, 20 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Professor Polvo' e 'Time'

Sinopse: Em uma floresta subaquática na África do Sul, um cineasta desenvolve uma amizade improvável com um polvo e descobre mais sobre os mistérios do mundo submarino. 

Em tempos em que o ser humano convive com diversos atritos com relação a própria humanidade, por outro lado, algumas pessoas decidem procurar por respostas na natureza que, por vezes, é esquecida. Uma vez que há este contato se cria um elo entre o ser humano com as raízes de tempos em que o céu e a terra já bastavam para o mesmo. "Professor Polvo" (2020) mostra a jornada de um cidadão comum que encontra algumas respostas para si ao observar o círculo da vida de um pequeno ser.

Dirigido por Pippa Ehrlich e James Reed, o documentário fala sobre Craig Foster, um documentarista exausto, conhece um professor improvável, um jovem polvo que mostra uma curiosidade notável. Visitando sua toca e rastreando seus movimentos por meses a fio, ele eventualmente ganha a confiança do animal e eles desenvolvem um vínculo nunca antes visto entre o humano e o animal selvagem. A expedição ocorre em uma floresta de algas na costa da África do Sul. 

A obra não perde muito tempo com relação ao que estava se passando na vida de Graig Foster, mas seja o que for, era mais do que o suficiente para ele procurar respostas por meio da natureza. Com uma parede de mar bem na frente da sua casa, ele decide criar uma experiência pessoal com relação ao círculo da vida de um ser vivo e do qual ninguém imaginava o quanto é complexo se ele for bem observado. Uma vez acontecendo isso, se há um estudo detalhado sobre a cruzada de um polvo e cujo os desdobramentos irão revelar algo raramente visto.

Os realizadores procuram sempre em criar uma edição de cenas que cause suspense na pessoa que assiste e gerando momentos até mesmo surpreendentes. É incrível, por exemplo, a primeira aparição do polvo, já que ele está coberto com diversos objetos do fundo do mar enquanto o documentarista e até mesmo os peixes observam com bastante curiosidade. Uma vez acontecendo o primeiro vislumbre do protagonista se tem o primeiro contato entre o homem e a natureza deste cenário cheio de vida e que tende a nos surpreender ainda mais.

A partir daí, Craig Foster procura obter contato com o polvo de forma gradual, mas jamais intervindo com relação ao que acontecerá em seu cenário natural. A confiança entre ambos acontece de forma verossímil, mesmo quando se parecia impossível que isso fosse acontecer ao longo do tempo. Uma vez obtendo a confiança do polvo, Graig Foster começa a mergulhar por quase um ano para observar o seu pequeno amigo, desde descobrir como ele se alimenta, como também saber como ele se defende dos predadores.

É neste ponto, por exemplo, que o documentário ganha até ares de filme de suspense, já que surgem pequenos tubarões que começam a caçar o polvo sem trégua. Em uma dessas perseguições, tanto Graig Foster como nós ficamos aflitos quando o polvo perde um tentáculo durante o embate com o tubarão. Porém, a sua recuperação é surpreendente e revelando um lado até mesmo inteligente deste curioso ser.

Inteligência, aliás, é a palavra chave que faz desse curioso animal sobreviver e viver a qualquer custo no fundo do mar. Curiosamente, sentimos aos poucos a Via Crúcis do protagonista, mas para somente constatarmos que o círculo da vida prossegue aja o que houver e sem a interferência de ninguém. Entre o perigo e a riqueza da natureza, o documentarista, enfim, compreende que a vida deve ser aproveitada ao máximo, mesmo quando a mesma possui uma passagem curta neste plano.

Indicado ao Oscar de melhor Longa Documentário para esse ano, "Professor Polvo" é uma lição de vida vinda de uma natureza não asfixiada pelo homem, mas cujo o próprio acaba aprendendo como se deve dar valor com relação a sua realidade ao redor.  

Onde Assistir: Netflix. 

'Time' 

Sinopse: Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. 

O grande atrativo de "Boyhood" (2014) era ver os mesmos atores em seus respectivos personagens, mas realmente envelhecendo diante dos nossos olhos, já que o filme foi rodado em pedaços por diversos anos. Por conta disso, sentimos o tempo na vida daqueles personagens, onde constatamos que eles não só mudaram fisicamente, como também amadureceram com relação aos pensamentos que se diferenciam se fosse olhar para o passado. "Time" (2020) segue para uma linha similar, mas em formato de documentário e onde testemunhamos pessoas reais que enfrentam uma situação a ser vencida a todo custo.

Dirigido por Garrett Bradley, o filme fala sobre Fox Rich, matriarca indomável e abolicionista moderna, esforça-se para manter sua família unida enquanto luta pela libertação de seu marido encarcerado. No passado, quando os negócios de sua loja estavam em crise, eles decidiram assaltar um banco e sendo pegos por causa disso. O documentário traz uma história de amor íntima, épica e não convencional.

A obra começa de forma curiosa, de forma analógica e retangular, já que são arquivos caseiros de vários anos e onde Fox conta sobre a sua situação atual naquele momento. O grande atrativo do documentário é vermos a mesma mudando conforme o tempo vai passando, onde enxergamos no início um olhar inocente dela e gerando um contraste quando fazemos uma comparação com imagens recentes da mesma. A Fox atual possui um olhar que diz tudo, onde carrega experiência de uma vida que teve que recomeçar do zero e tendo que sozinha sustentar os seus filhos.

Essa sensação sentimos também com relação as crianças, onde vemos jovens inocentes brincando na sala, para logo em seguida vermos eles adultos e lutando para se virar na vida para obter os seus sonhos. Tecnicamente o filme chama atenção pela sua fotografia em preto e branco, cuja a mesma sintetiza uma vida nada colorida daquela família, mas que encontra na fé a força para lutar pela vida. Fox, por exemplo, nunca escondeu pelos erros do passado, tão pouco culpou alguém por causa disso, mas culpando posteriormente o lado burocrático da justiça que não liberam nunca o seu marido.

A obra em si faz uma dura crítica com relação a Justiça norte americana, pois se percebe que a mesma somente é aplicada duramente contra o povo negro, como se houvesse sempre um desejo de vingança vinda dos poderosos. Isso é constatado ainda mais nas cenas em que Fox fica ligando diariamente para advogados e juiz para obter uma solução, mas quase sempre em vão. Pelo seu olhar, percebemos um olhar de decepção, mas não de rendição.

Embora curto, o documentário tem um peso maior principalmente quando fazemos um paralelo com o mundo atual, do qual cada vez mais vive de retrocessos e cujo os seus líderes radicais se alimentam disso. Fox Rich, ao menos, é um exemplo de esperança nesse cenário nebuloso, onde enxergamos nela a persistência e determinação para adquirir os seus objetivos, mesmo quando o sistema lhe diz ao contrário. Indicado ao Oscar de Melhor Longa Documentário, "Time" fala sobre o tempo, do qual adquire feridas, mas cuja as mesmas podem serem cicatrizadas. 

Onde Assistir: Amazon Prime.  


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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'O Tigre Branco'

Sinopse: A trajetória de Balram (Adarsh Gourav), um jovem indiano que nasceu em meio à miséria e que foi ensinado desde pequeno que seu destino era escolher um grande marajá para servir até o fim com muita lealdade. 

Embora o mundo tenha conhecido mais de perto a realidade atual da Índia através do filme "Quem Quer Ser Um Milionário?" (2008), convenhamos, o final foi romanceado para agradar as plateias do ocidente que gosta de comprar a ideia da superação positiva perante os obstáculos da vida. Porém, nos últimos tempos, cada vez mais se percebe que não há como esconder a realidade em que vários países começam a sentir os efeitos negativos do sistema capitalista e filmes como "Coringa" (2019) e "Parasita" (2019) cada vez mais se tornam símbolos cinematográficos sobre o caminho sem volta de uma sociedade cada vez mais sufocada e sem para onde ir, a não ser se vender ao poder para sobreviver. Aliás, essa minha última observação se casa com a proposta do filme "O Tigre Branco" (2021), do qual o indivíduo comum não deseja pertencer mais ao abate, mas sim pular do galinheiro e se tornar em definitivo o chefe.

Dirigido por Ramin Bahrani, o filme é baseado no best-seller escrito por escrito por Aravind Adiga, que conta a história de um ambicioso motorista indiano chamado Balram (Adarsh Gourav) que decide sair do seu vilarejo e crescer na vida sendo motorista de uma família poderosa. Durante o percurso, ele usa toda a sua astúcia e sagacidade para escapar da pobreza e se libertar de sua vida de servidão a patrões ricos. Contudo, há um alto preço a ser pago.

Com narração off, acompanhamos a trama através das palavras do protagonista que, curiosamente, começa a olhar para nós e assim quebrar a quarta parede. Sendo usado com cada vez mais frequência no cinema, a quebra da quarta parede serve aqui mais para ficarmos lado a lado do protagonista, como se houvesse um desejo pelo mesmo em querer que a gente entenda o seu ponto de vista sobre sua história e para assim abraçarmos a sua causa. Não é preciso muito esforço, já que o diretor faz questão em criar um verdadeiro contraste entre a vida que o protagonista havia passado com a realidade cheia de frutos do qual ele tanto deseja adquirir como um todo.

Tecnicamente o filme é um colírio para os olhos, onde a edição é frenética e jamais cansativa, se casando com uma trilha sonora que empolga e cuja a fotografia foge dos clichês hollywoodianos e nos brindando com um visual limpo e cru sobre a realidade do povo indiano. Mas o filme não seria nada se não fosse pelo grande desempenho de  Adarsh Gourav, cujo o olhar do seu personagem transmite certa inocência perante a realidade em sua volta, mas aprendendo de formas duras como sobreviver perante a ela. O tigre branco, aliás, faz referência ao felino com pelos brancos que raramente nasce por lá, mas ao mesmo tempo interligando com o indivíduo comum que se destaca no meio da multidão.

Porém, se destacar na multidão é preciso certos sacrifícios, ao ponto de o protagonista chegar a vender a alma ao Diabo. Contudo, há uma famosa frase do jornalista David Brinkley que se casa com a proposta principal do filme: "Um homem de sucesso é aquele que cria uma parede com os tijolos que jogaram nele". O protagonista, portanto, vai guardando os tijolos, mas não para somente erguer um muro, como também sujar as suas próprias mãos em alguns momentos.

Embora se passe na Índia, o filme de uma forma simples se cruza com realidade atual de todo o globo, onde testemunhamos os governos do ocidente, principalmente do norte americano, se afundando no próprio império capitalista que haviam construído. Enquanto isso, a China dá o seu recado como potência atual super poderosa e a mensagem final do filme é desconcertante pois ela é realista mesmo quando um negacionista tenta não querer enxergar ela. Algumas palavras do protagonista chegam até mesmo ser proféticas e fazendo o filme se alinhar com esses tempos indefinidos em que todos nós vivemos.

Com um minuto final que se assemelha a filmes como "O Lobo de Wall Street" (2013) e "Um Toque de Pecado" (2013), "O Tigre Branco" entra fácil na lista dos melhores filmes do ano, ao escancarar a dura realidade de que nós pertencemos ao abate do sistema capitalista e que para sobreviver é preciso se vender ao poder dela.   

Onde Assistir: Netflix  

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Cine Dica: Streaming: 'A Febre'

Sinopse: Justino, 45 anos, é guarda de segurança no porto de Manaus, Amazonas. Enquanto sua filha se prepara para estudar medicina em Brasília, Justino é dominado por uma febre misteriosa. 

O índio visto no cinema brasileiro é sempre retratado de acordo como ele realmente é ou como ele foi antes da chegada do homem branco. Porém, em "Serras da Desordem" (2006), da diretora Andrea Tonacci, vemos o povo indígena mantendo as suas raízes, mas tendo efeitos negativos com ajuda do homem branco, onde o ato final sintetiza muito bem isso. "A Febre" (2019) mostra o índio atual tentando adentrar a civilização, mas ao mesmo tempo adquirindo a tentação de retornar as suas raízes antes que seja tarde.

Dirigido pela documentarista Maya Da-Rin, a história fala sobre Justino (Regis Myrupu), um índio de Manaus, Amazonas que há 20 anos vive na cidade grande, trabalhando agora como segurança no porto local. Sua filha Vanessa (Rosa Peixoto) trabalha em um posto de saúde e acaba de passar para a faculdade de Medicina, na Universidade de Brasília. Insegura entre seguir seu sonho e deixar seu pai, ela precisa ainda lidar com uma estranha febre que subitamente aparece. Paralelamente, uma série de estranhos ataques a animais ganha destaque na TV local.

Embora a trama se passe em Manaus, a cineasta optou em retratar a real interação entre os indígenas, falando a sua própria língua e criando um verdadeiro contraste quando Justino se encontra no cenário onde ele trabalha. Com um olhar quase documental, a cineasta é perfeccionista neste quesito, ao retratar de forma minuciosa o real habitat da população indígena quando a própria se encontra quase encravada no universo do homem branco. Porém, é através dos diálogos entre eles que constatamos que há um desejo em manter, ou retornar para as suas raízes e para assim resgatar o que havia se perdido no passado.

Curiosamente, tanto Justino como a sua filha Vanessa são dois lados da mesma moeda em situações distintas, mas que se assemelham quando o assunto é dar um novo passo na vida. Enquanto Vanessa vive na corda bamba na escolha de ir ou não para faculdade, Justino tenta se manter em seu emprego, mas o desgaste e a febre que lhe atinge o faz repensar sobre qual é o seu real caminho. Ao mesmo tempo situações obscuras surgem de forma gradual, onde há uma transição de momentos verossímeis com o folclore indígena e que mexem com interior de Justino.

Logicamente, ao ver o filme, não há como não fazer um paralelo com a trama com a situação em que o Brasil atual vive em virtude de um desgoverno e do papel do coronavírus em tudo isso. Ao vermos Justino começar a ficar doente e o estado pouco dando crédito com relação a isso, constatamos que a trama pode ser interpretada como prelúdio com a crise sanitária vista agora em Manaus, mesmo que de forma indireta, mas que nos faz pensar na situação toda. Por conta deste quadro, na reta final da trama, testemunhamos um Justino tomando a sua própria decisão, não graças ao estado, mas sim para consigo mesmo e, talvez, tenhamos que fazer o mesmo do nosso jeito se quisermos continuar sobrevivendo.

"A Febre" talvez seja lembrado nos próximos anos sobre o quanto o cinema brasileiro alertou sobre a crise sanitária em que vivemos e como o povo indígena sofreria com o descaso do homem branco.   

Onde Assistir: Netflix. 

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